Família Acolhedora: um gesto de amor e carinho

Jaqueline Lopes

O programa da Família Acolhedora nasceu para ajudar crianças e adolescentes em situação de abandono ou violação de direitos, para que tenham um vinculo afetivo quando são afastadas dos pais biológicos por determinação judicial. O programa já acontece na região em Fernandes Pinheiro, Irati, Inácio Martins, Teixeira Soares e Imbituva, e ajuda essas pessoas.
Mas ser uma Família Acolhedora não é uma tarefa fácil, porém a solidariedade toma conta quando vê uma criança que precisa de cuidados. Foi assim que a família de Alda Vizinoni Solda, moradora de Fernandes Pinheiro, começou no programa. A equipe do projeto fez o convite, a capacitação, e eles receberam uma criança em casa por dois anos.
Para ser família acolhedora, é preciso que todos os membros concordem. Alda conta que as filhas não concordaram em um primeiro momento, mas logo gostaram da ideia. ”Todo mundo acabou se apegando com ele e acolhendo bem, como se fosse um filho e um irmão”. Alda comenta que fez tudo para a criança assim como para as filhas, que agora já são adultas. “Nunca pensei que a gente pudesse gostar tanto de uma criança que não saiu de mim, que veio para mim, acabou se apegando tanto, e a minha família inteira adotou ele como se fosse meu”.
O programa surgiu em Fernandes Pinheiro antes de ser instituído por Lei, por uma necessidade do próprio judiciário, pois havia muitas crianças na Casa Lar, quando ainda pertencia a Teixeira Soares. Para a prefeita Cleonice Schuk o programa “é de grande importância para as crianças, tanto a parte psicológica até para o próprio bem-estar físico. Inseridos ali levam como referência aqueles hábitos que receberam na família acolhedora. Já para profissionais é colocar em prática todo o conhecimento, o conteúdo de amor e acolhimento de psicologia e o bem-estar social”. “É de uma grandiosidade sem tamanho porque nós estamos cumprindo com a nossa função de valorizar e formar cidadão, e construindo laços de amor de afetividade que eles levarão para a vida inteira”, completa.
Segundo a assistente social e Coordenadora do Família Acolhedora, Márcia M. Pszedimirski, o projeto vem desmitificar a questão de acolhimento institucional, e a criança é colocada em uma família. A equipe conta também com a psicóloga Simone Eliza Fabris, Sandra Mara Sarnoski e Afonso no Administrativo. Eles fazem a capacitação das famílias, convencimento e um estudo para conhecer elas, para, assim, inserir a criança na família e na sociedade. Além disso, a família escolhe a idade da criança ou adolescente que pretende ter em casa.
Marcia explica que se a família escolher fazer parte do programa precisa cuidar como se fosse filho, ter um ambiente na casa para a criança, ou uma cama. A equipe auxilia em tudo que for necessário. “A família continua no modo natural dela, a dinâmica familiar, e todos os membros tem que aceitar, porque a família inteira tem que acolher aquela criança”, destaca Marcia.
As crianças que são levadas para essas famílias são aquelas que sofreram maus-tratos, abusos (pode ser físico psicológico, negligencias, não levar para escola, não alimentar), violências, quando está dissonante de uma criação normal.
A criança que ficou na casa de Rosicleia dos Santos Neri, moradora do interior de Fernandes Pinheiro, estava muito debilitada. Ela, o marido e as duas filhas ajudaram a cuidar da pequena por dois anos. Foram convidados pela equipe do projeto, fizeram a capacitação e tiveram toda a assistência necessária, principalmente na parte médica que a criança demandou bastante no início.
Como o intuito do programa é manter essa afetividade familiar, através de estímulos do neto de Rosicleia e de toda a família, a menina conseguiu se desenvolver, pois no começo não falava e não andava. Atualmente, foi destituída da família biológica e está em um lar adotivo.
Tudo é feito em conjunto com o Ministério Público e Conselho Tutelar. O próprio programa trabalha com a família biológica, se não houver melhorias durante um período, o juiz determina a destituição e as crianças vão para a adoção. Foi o caso em Fernandes Pinheiro, de quatro crianças, que ficaram em famílias acolhedoras, e hoje foram adotadas.

Rocicleia dos Santos Neri – Foto: Jaqueline Lopes

A parte de separação da criança é algo difícil para as famílias, mas também é trabalhado no programa. As visitas iniciais são acompanhas pelas famílias, acolhedora e adotiva, além da equipe da Assistência, e o contato após a adoção pode continuar. “Foi bem dolorido, mas vejo que ele está feliz, e isso me deixa alegre. Acho que fiz a minha parte, cuidando bem dele enquanto esteve comigo”, comenta Alda.
Marcia explica que para existir uma família acolhedora ela tem que se dispor a querer ser uma, pois a equipe faz visitas, avaliação psicossocial e requer mais critérios. “As famílias têm que querer. A primeira coisa que nasce é a vontade de cuidar do outro, de se doar. Acho que é uma questão humanitária e também espiritual, mas tenho que amar o próximo. Como vou servir se não puder ajudar dessa forma?”, indaga.
A equipe de acolhimento provê educação, saúde, cria-se uma rede para cuidados da criança. “Nós passamos a ter tanto a criança inserida na família quanto a família acolhemos. Os profissionais acolhem se tiver qualquer necessidade”, destaca Marcia. As famílias também recebem um subsídio financeiro para cuidar da criança. Além destas duas situações, Fernandes Pinheiro conta com mais duas famílias acolhedoras, no total, quatro atendem as crianças.

IRATI
Em Irati, seis famílias fazem parte do programa, que também foram capacitadas pela equipe e cuidam de crianças e adolescentes. O município tem uma equipe técnica de Acolhimento e trabalha com as famílias para prepará-las para cuidar da criança, com orientações no desenvolvimento além de dar o suporte na reintegração familiar, ou na inserção na adoção. Como também no desligamento da criança com a família. Outro quesito para ser uma família acolhedora é não ter interesse na adoção.
“Este programa é de extrema importância na garantia dos direitos das crianças, principalmente essas que estão em situação de vulnerabilidade, que estão separadas da família de origem. Para garantir a elas o direito da convivência familiar, comunitária, ao atendimento individualizado. O ambiente é acolhedor e o mais próximo de uma família”, observa a secretária de Assistência Social de Irati, Sybil Dietrich.
Quem tiver interesse pode entrar em contato com a equipe no Centro Administrativo, ou no telefone (42) 99107-9780 ou (42) 3132-6208, e vão agendar uma conversa para entender como funciona o processo.


TEIXEIRA SOARES
Em Teixeira Soares, o programa tem uma família acolhedora. Quem coordena é a Tereza Augusta Binder Siqueira, que é psicóloga da Casa Lar, e da Karina Balmeu Weizenmann, assistente social, que fazem cadastro e capacitação da família. Esta família tem um adolescente na casa, há dois anos, e é acompanhada pela equipe.
De acordo com Tereza, sempre priorizam o retorno para a família de origem, mas não foi o caso com o adolescente, que acabou sendo destituído, e agora está no cadastro de adoção. Ela comenta que o programa traz muitos benefícios às crianças, mas enfatiza que não é uma ponte para a adoção. “Eles estão em uma casa, por mais que a gente tente transformar a Casa Lar em casa, não é a mesma coisa. No programa é uma casa, um pai, uma mãe, um ambiente familiar, tem dedicação exclusiva”, comenta Tereza. Quem tiver interesse em participar pode entrar em contato na Casa Lar com a Tereza e Karina, ou no telefone (42) 3460-1629.

“Não sei comentar o bem que estamos fazendo para essas crianças, porque elas realmente precisam, precisam de amor, carinho cuidados, mas, acima de tudo, acho que seria o amor que a gente passa pra eles e eles pra gente, vale muito a pena” – Alda Vizinoni Solda

“Foi uma experiência muito boa, em trazer uma criança, cuidar, dar amor, carinho e atenção, tudo que elas precisam, até quando elas forem embora” – Rosicleia dos santos neri

IMBITUVA RETOMA PROGRAMA
Em Imbituva, o programa Família Acolhedora, existe desde 2017, e retomou este ano. De acordo com a secretária de Assistência Social, Cleide Kubaski, ela viu a importância dele para as famílias e crianças e decidiu dedicar mais atenção ao projeto. “Por mais que elas sejam muito bem cuidadas na Casa Lar, não é o lar. Com a família acolhedora é diferente, elas vão estar ali, o carinho o aconchego de um pai e uma mãe, vão conviver com outras crianças, ter aquele cheirinho de lar”.
Fiama Tainara Taques, que cuida da parte de gerenciamento financeiro e orçamentário na Assistência Social, informa que o programa veio para o município porque havia a necessidade de não mais institucionalizar as crianças e adolescentes, e para que eles fossem incluídos em um ambiente familiar. “Fizemos as capacitações, mas não estava como havíamos imaginado, e neste ano começamos a tomar maiores medidas para que o programa funcionasse com efetividade”, comenta.
Para a retomada do programa, foi feita a contratação da psicóloga Glaucia Miranda, que também é a coordenadora do acolhimento institucional da equipe técnica e Família Acolhedora. Glaucia explica que, agora, com a organização, elas fazem encontros com as famílias e discutem questões sobre crianças e adolescentes, até a preparação final. Ela ainda explica que a parte de separação é o que mais afasta as famílias do programa. “Trabalhamos muito como uma função. A família esta desempenhando uma função por um período. A partir do momento que vai separar, a função vai mudar, não precisa romper o vínculo, mas ele vai se transformar”.

Acolhedoras de Imbituva: Fiama, Cleide e Glaucia – Foto: Esther Kremer

INÁCIO MARTINS

Atualmente, o município de Inácio  possui uma família cadastrada no Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora, e mais duas em processo de capacitação.

A equipe técnica do Serviço encontra resistência na população por variados motivos, mas principalmente devido à faixa etária, a maioria deseja acolher crianças menores de três anos de idade, o que não coincide com a realidade do acolhimento no Brasil; outro obstáculo encontrado se refere a aceitação da família, o que é encontrado no município são as mulheres desejando participar do Serviço, mas os seus companheiros não compartilham dessa vontade, o que dificulta o processo de capacitação, pois é muito importante que seja um desejo mútuo quando se trata de casais.

O Serviço de Acolhimento em Família Acolhedora foi implantado devido uma necessidade real do município, voltado principalmente para adolescentes e grupos de irmãos, que são perfis de difícil adesão por famílias extensas e substitutas. O serviço possibilita a essas crianças e adolescentes um direto fundamental previsto na Constituição Federal (artigo 227) e pelo Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Em seu artigo 19, o ECA estabelece que toda criança e adolescente têm direito a ser criado e educado por sua família e, na falta desta, por família substituta; além de reduzir violações dos direitos socioassistenciais, seus agravamentos ou reincidência. É serviço internacionalmente reconhecido como a forma de acolhimento mais adequada, em contraponto aos modelos institucionais, uma vez que evita sequelas afetivas e comportamentais relacionadas a esses processos.

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