BOYOMIR SEKULA, um pioneiro em análises clínicas em Irati

Maria Helena Sekula Smolka

Nos anos 1940 chegava em Irati, para trabalhar na Saúde Pública, meu pai,um profissional técnico em saúde, sua formação abrangia análises clínicas, farmácia e epidemiologia. O Boyomir Sekula era jovem, otimista e logo fez muitos amigos, ajudado pela sua origem polonesa. Veio transferido da Secretaria Estadual de Saúde Pública de Curitiba. Era filho do professor Michal Sekula, que veio da Polônia para o Brasil em 1905, professor no seu país de origem e de Helena Surek, de Araucária, filha de pais poloneses. O Boyomir falava e escrevia polonês perfeitamente, pois foi alfabetizado na Polônia, apesar de ter nascido no Brasil. Após o final da Primeira Guerra Mundial, retornou a Polônia com sua família, pais e sete irmãos, onde viveram por oito anos. Este retorno foi impulsionado pelo enorme patriotismo do pai, que vislumbrou mudanças políticas no seu país de origem.
Boyomir Sekula, ao chegar em Irati, sentiu-se acolhido pela grande colônia polonesa da cidade; seu conhecimento dos costumes e idioma foram importantes nesta ocasião. Na época, frequentava a Sociedade Wolnosc (Liberdade), ali se encontrava com as famílias polonesas entre elas Smolka, Hessel, Gryczynski, Zavelinski, Pavelski e muitas outras. Neste ambiente, conheceu a futura esposa, minha mãe, Maria Josefa Roskowski (filha de pais poloneses). Na Wolnosc, que era uma escola e centro cultural, com diversas manifestações culturais polonesas ocorriam apresentações teatrais, musicais e de dança folclórica, ali existia um ambiente de amizade e confraternização. Os acontecimentos eram também momentos de saudades da terra natal, as músicas polonesas eram cantadas em coro por todos, com muito amor e saudades. Meus pais, que eram frequentadores e colaboradores nesta sociedade polonesa, vieram a se casar em 17 de maio de 1946.Tiveram dois filhos, meu irmão, José Miguel e eu Maria Helena.

O interesse pelos sapos era porque naquele período das análises clínicas a única maneira de fazer teste para determinar a gravidez era o método de Galli-Manini, que utilizava uma cobaia que era um sapo macho.


Com o passar dos anos ele veio a ser conhecido pelo seu sobrenome Sekula, pois seu nome era um pouco complicado. Além de trabalhar na Saúde Pública, trabalhou na empresa de produção de medicamentos fundada pelo farmacêutico João de Mattos Pessôa, fato que talvez muitos ignorem que nossa cidade teve uma indústria farmacêutica. Mais tarde, seguindo sua vocação maior, desistiu deste empreendimento e fundou um Laboratório de Análises Clinicas, na Rua 15 de Novembro, 795, logo após ter feito um curso de aperfeiçoamento em São Paulo. De início, o laboratório era muito pequeno ocupava uma sala de 15 metros quadrados da parte da frente de sua residência. E sua principal e única auxiliar era a minha mãe. Seus conhecimentos farmacêuticos, em especial de plantas medicinais, fizeram dele um coadjuvante importante para os mais diversos problemas de saúde das pessoas que lhe procuravam. Meu pai era sábio em seus aconselhamentos e fazia isto com uma dedicação impar e carinhosa com as pessoas. Isto me faz pensar se eram os chás ou os conselhos que produziam as melhoras nos estados de saúde ou ambos.
O “seu Sekula”, meu pai, era um amante de tudo que podia agregar valor à vida e posso citar coisas incríveis que fazia e que me marcaram e influenciaram profundamente. Eu fui sua companhia inseparável em tudo que fazia.

  • Criava canários belga (aprendi a gostar do canto dos pássaros, diferenciá-los, aprendi sobre ninhos, alimentos de passarinhos, cruzamentos de espécies);
  • Caçava perdizes e codornas, que a mãe preparava deliciosamente;
  • Caçava rãs, depois limpava e me mostrava como elas ficavam tendo movimentos mesmo depois de estarem sem a pele. Estas só nós dois comíamos, ninguém mais gostava;
  • Nós dois fazíamos longas caminhadas em busca de sapos à noite, ele ia com uma lanterna, eu ao seu lado. Quando víamos um sapo eu, destemida, corria para pegar e colocar no saco que ele carregava. Nestes passeios é que encontrávamos as rãs, que eram destramente fisgadas por ele com uma lança de duas pontas afiadas. Quanto a gente voltava o pai batia uma gemada para mim, ficava bem branquinha, porque ele batia com força;
  • Pescava lambaris, bagres, traíras, trazia os peixes e me dizia os seus nomes, explicava sobre eles;
  • E tinha cachorros: um pastor alemão chamado Moby e um perdigueiro de caça que era dorminhoco e comeu o meu vestidinho branco de festa;
  • Assim, aprendi a não temer aventuras e sonhar com a muitas oportunidades de viver a vida com expectativa pelo que ela pode proporcionar.
    Boyomir Sekula se elegeu vereador e foi empossado em 06 de outubro de 1963, contribuiu ativamente para a construção da Sociedade Beneficente Cultural Iratiense, que veio a substituir a Sociedade Polonesa Wolnosc, fundou o Laboratório de Análises Clínicas Sekula, que completou 71 anos de serviço à saúde e continua no mesmo lugar de seu início, onde preserva princípios adotados por ele, de respeito aos clientes, qualidade no desenvolvimento técnico e no serviço prestado. Ainda hoje, as pessoas chegam no laboratório recordam-se, contam passagens sobre ele e perguntam da figura marcante do Boyomir Sekula.
    Faleceu com 94 anos, em Curitiba.Deixou a esposa, dois filhos e sete netos.
Sekula casou-se com Maria Josefa em 17 de maio de 1946 – Foto: Acervo Familiar

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