D. PEDRO FILIPAK: LIDERANÇA, DINAMISMO E CONQUISTAS

Carlos Vargas e Nelsi Antonia Pabis

Apresentar em poucas linhas quem foi e o que fez D. Pedro Filipak é uma tarefa difícil ou quase impossível. Sua trajetória de vida está no livro “Dom Pedro Filipak: o apóstolo das vocações” em que Carlos Vargas (2019) discorre e ilustra momentos importantes da vida deste personagem; em 2010, o Padre Zdzisław Malczewski em artigo na revista Polonicus, destaca a importância do clero entre os descendentes de poloneses no Brasil, incluindo D. Pedro. Foi homenageado na abertura do Ano Vocacional Diocesano e encerramento do Ano Missionário Diocesano, em 2019, na Catedral de Jacarezinho.

D. Pedro Filipak foi herdeiro da imigração polonesa. Seu bisavô, Valentim Filipak (1833-1904), e seu avô, Francisco (1856-1911), nasceram em Swiencane, região de Jaslo, atualmente Polônia. Em 1880, atravessaram o Oceano Atlântico, passando por Bremen, Alemanha; no Brasil, pelo Rio de Janeiro, até o Paraná. Na sequência, a família viajou de Antonina para Curitiba, estabelecendo-se na colônia Tomás Coelho, município de Araucária.

Lembrança da Sagração Episcopal com o lema da sagração: Alma Matre Ducor – Foto: Arquivo Familiar

No início da década de 1910, Lucas Filipak (1888-1947) e Sofia Skraba (1896-1946), pais de D. Pedro, mudaram-se para a colônia de Catanduvas do Sul, município de Contenda. Em 26/12/1920 nasceu Pedro, o quarto dos sete filhos do casal: Vitória, Leonardo, Aleixo, Floriano, João e Teodoro. Em 1925, a exemplo de seus familiares, mudaram-se para Irati. A família vivia de acordo com os valores cristãos e poloneses. E foi neste ambiente que o menino Pedro desenvolveu sua vocação para o sacerdócio.

De acordo com dados apresentados por Francisco Filipak no livro O centenário no Brasil da família Filipak, D. Pedro realizou os estudos primários em Irati, na Escola Sociedade Liberdade – Towarzystwo Wolnosc, atual Clube Polonês, concluindo no recém fundado Colégio Nossa Senhora das Graças, dirigido pelas Irmãs de Caridade de São Vicente de Paulo, vindas da Polônia. Em 1935 ingressou no Seminário Menor de Brusque – SC onde fez o curso de humanidades, correspondente ao fundamental e médio. De 1939 a 1945 estudou filosofia e teologia no Seminário Central de São Leopoldo RS, dirigido pelos padres jesuítas. Mais tarde licenciou-se em Filosofia Pura pela Universidade de Juiz de Fora-MG.

Em 22 de dezembro de 1945, na igreja Matriz Nossa Senhora da Luz em Irati, foi ordenado sacerdote por D. Antonio Mazzarotto, Bispo da Diocese de Ponta Grossa. Foi designado Coadjutor da Catedral de Ponta Grossa e professor do Seminário Diocesano. Em 1946 assumiu o cargo de Reitor deste Seminário. Em 1953, foi nomeado Vigário de Curiúva; organizou a vida paroquial, administrou a construção da igreja matriz e de várias capelas no interior. Em 1955 retornou a Ponta Grossa, assumindo o cargo de Cura da Catedral; desenvolveu relevantes trabalhos pastorais, foi um dos fundadores da Rádio Santana, iniciou as obras do prédio das Associações da Catedral. Em 1957, nas comemorações do cinquentenário de Irati, foi designado para abençoara imagem de Nossa Senhora das Graças.

Em 1959 foi transferido para a Diocese de Jacarezinho, sendo recebido pelo Bispo Dom Geraldo de Proença Sigaud. Nomeado vigário de Congonhinhas, construiu a torre da igreja matriz, arrebanhou 1.500 membros para o Apostolado da Oração e 650 homens para a Congregação Mariana. D. Geraldo reconheceu as potencialidades do padre Pedro e neste mesmo ano, nomeou-o Vigário Geral da Diocese de Jacarezinho. Com a promoção de D. Geraldo para a Arquidiocese de Diamantina – MG, foi eleito, pelo Conselho Diocesano, Vigário Capitular, assumindo o governo da Diocese de Jacarezinho. Em 08 de fevereiro de 1962, foi nomeado Bispo Residencial pelo Papa João XXIII. Em 13 de maio de 1962, foi Sagrado Bispo; tomou posse da Diocese de 22.000 km² e 700 mil habitantes.

Entre 1962 e 1965 participou de quatro sessões do Concílio Vaticano II. Recebeu sacerdotes de vários lugares, principalmente da Polônia, suprindo todas as paróquias de assistência religiosa. Em cinco anos construiu o Seminário Diocesano, adquiriu 142 alqueires de área, podendo abrigar 120 alunos de 1º e 2º Graus; promoveu a construção de uma pocilga, de um curral, a reforma da olaria, a construção da oficina mecânica, adquiriu tratores e viaturas de transporte, construiu 10 casas de alvenaria para os operários. Deu a eles melhores condições de vida e a seus filhos melhor educação construindo uma escola.

Adquiriu a Rádio Educadora Rural de Jacarezinho, a Rádio Educadora de Wenceslau Braz, apoiou a instalação da Rádio Bom Jesus em Siqueira Campos e as emissoras de Cornélio Procópio e Assaí. Estruturou as bases para a criação da Diocese de Cornélio Procópio. Entre as grandes realizações figura o Seminário Maior, adquiriu o acervo patrimonial do Lar São Vicente de Paulo, um imóvel no centro da cidade onde funcionam o Centro da Pastoral Diocesana, a Casa dos Retiros, o Colégio Supletivo, a sede da Caritas Diocesana, uma creche e a igreja de adoração diária do SS. Sacramento. Promoveu a vinda das Irmãs Mensageiras do Amor Divino para os trabalhos pastorais. Instalaram o movimento dos Retiros do Amor Divino. Na sua gestão a Diocese contava com 7 casas de retiros.

Teve vários encontros com o Papa João Paulo II, em Curitiba e em Roma. Uma escola em Cornélio Procópio e uma em Curiuva levam o seu nome. É cidadão honorário e benemérito de Jacarezinho e cidadão honorário da Associação dos municípios do Norte Pioneiro e de mais 12 municípios. O sino da catedral recebe o seu nome e a sua efígie.

Pastor zeloso, D. Pedro soube guiar o seu povo, destacando-se no apostolado das vocações, contribuindo no aumento e na formação do clero, daí ser chamado de “Apóstolo das vocações”. O final de sua vida foi marcado pela cruz do sofrimento, passou os últimos anos de sua vida em uma cadeira de rodas, depois de ter sofrido um “grave AVC”, em 1981.

Tinha atenção especial pela família e por sua história. Visitou e celebrou missa em Swiecane, localidade onde nasceu seu avô Francisco e bisavô Valentin na Polônia. Apreciava a cultura polonesa, principalmente a música e a gastronomia. Visitava os familiares, realizava os casamentos, batizados e os assistia nos momentos difíceis. Mesmo enfermo, continuava visitando os familiares. Devido a dificuldade de locomoção, algumas visitas eram na frente da residência sem sair do automóvel. Após longa enfermidade faleceu em Jacarezinho no dia 10 de agosto de 1991. Está sepultado na Catedral daquela cidade.

A trajetória da família de D. Pedro é uma amostra do que se passou nesses 150 anos de imigração polonesa no Paraná buscando uma vida melhor e tendo a fé católica como referência fundamental diante das dificuldades. O trabalho desse Bispo zeloso na Diocese de Jacarezinho deixou um legado que merece ser recordado. Neste aniversário da imigração polonesa, aproveitamos a oportunidade para nos edificarmos com o testemunho desse Pastor incansável no serviço para o Povo de Deus, combatendo o “bom combate” (cf. 2Tm 4,7).

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