O pioneiro do cinema, João Wasilewski

João estimulou o desenvolvimento cultural de Irati.
Foto: Acervo Pessoal Pedro Wasilewski

Texto: Pedro Henrique Wasilewski 

João Wasilewski nasceu dia 24 de julho de 1898, em Lublin (Polônia) mas foi naturalizado brasileiro. Filho de Nicolau Wasilewski e Anastácia Bzuwka Wasilewski. Foi casado com Magdalena Burko Wasilewski, já falecida, e juntos tiveram quatro filhos: o Engenheiro José Jacob (casado com Doris Quadros da Silva Wasilewski ), Júlio (casado com  Walkiria Wisnia Wasilewski), Mathilde (casada com Aido Meneguelo) e Maria (casada com Alcides C. Almeida), todos já falecidos. Foi diretor da Empresa Cinematográfica Wasilewski Ltda e proprietário do Cine Theatro Rebouças, Cine Theatro Rio Azul e do saudoso Cine Theatro Central, em Irati, titular das organizações J. Wasilewski & Cia. Ltda, Panificadora Irati, Torrefação de Café Irati e de João Wasilewski Administração e Empreendimentos Ltda. 

Aos 13 anos de idade João (Jan, como era conhecido) deixou a Polônia com a sua família. O envolvimento do avô, o oficial ex-combatente da guerra da Criméia de 1877, Kazimir Andrejew Wasilewski, com movimentos políticos que visavam a libertação da Polônia do julgo Russo, tinham posto em risco a segurança da família, deixando tudo para trás, resolveram iniciar nova vida no Brasil. No dia quatro de novembro de 1911, o navio deixava o Porto de Bremen e no dia 31 de dezembro de 1911, marcou a fixação dos Wasilewski em sua nova pátria, Irati, no Paraná. 

Em 1916 comprou a padaria do seu patrão, onde trabalhava há dois anos. João Wasilewski tinha apenas dezessete anos quando se estabeleceu por conta própria, com a sua Padaria Iraty. 

Foi um dos mais antigos exibidores de filmes no Paraná e do Brasil. Empreendeu viagens pelo Brasil (estudos e observações). Proferiu conferências de temas municipalistas e desenvolvimento da cidade em clubes e serviços e entidades de classe. Participou do I Congresso Sul-Americano das Indústrias do Pão e VII Congresso Brasileiro de panificação, em Fortaleza (CE). Foi alvo de homenagens pelos exibidores do Estado do Paraná e de Santa Catarina, distinguido com títulos e certificados, menções honrosas, por sua ativa participação no bem-estar da comunidade. Fez parte de Clube e Serviço e agremiações sociais, esportivas e recreativas de Irati e outras cidades do Paraná. 

João Wasilewski, ainda quando criança, em visita à casa de parentes na capital da Polônia, Varsóvia, guardou a lembrança e o encanto de ver pela primeira vez a magia do cinema, trazendo consigo guardada em seu coração a magnitude da sétima arte. Nunca mais João Wasilewski cederia na sua fidelidade ao amor pelo cinema.Os dias iam passando e João sentia-se tranquilo, aproveitando as mudanças das estações sem muita preocupação e por agir desta maneira o tempo parecia ser curto demais para a sua energia, quando na cidade apareceu o cinema ambulante. No ano de 1918, era proprietário da aparelhagem do ambulante, e nesta época, tornou-se o primeiro motociclista da região com sua Indian de 2 cilindros. A moto também acionava o gerador de eletricidade para a lanterna do cinema. 

O sonho de João de instalar o seu cinema conseguiu ser realizado e com esforço o primeiro cinema da cidade, o Cine Theatro Central, foi inaugurado, em 28 de agosto de 1920, na época o segundo cinema do Paraná. Segundo o jornalista e memorialista José Maria Orreda, “a pequena comunidade de Irati teve esta oportunidade, era o orgulho da cidade” (ORREDA, José M. Entrevista concedida em 2013, presente no documentário, acervo particular).  

Neli Teleginski, em sua dissertação de mestrado em torno da história das bodegas em Irati, intitulada Bodegas e Bodegueiros em Irati-PR na primeira metade do século XX, cita que João Wasilewski tornou-se uma das pessoas mais conhecidas de Irati na primeira metade do século XX. Seus empreendimentos no centro da cidade se tornaram pontos de encontro e diversão da sociedade iratiense. Teleginski frisa que, em 1936, João Wasilewski pagava à Câmara Municipal oito impostos, referentes às suas empresas, evidenciando o empreendedorismo do antigo exibidor e o movimento que se formava em torno da Padaria Iraty e do Cine Theatro Central. Este fator deu ainda maior relevo e notoriedade à pessoa de Wasilewski e ao seu cinema, a ponto de ser identificado como exemplo de cidadão de Irati, pois promovia seu desenvolvimento cultural. 

Segundo Jose Maria Orreda, João Wasilewski junto com o seu amigo Estanislau Strona, em 1916, lideraram a fundação de uma entidade que se chamou Towarzystwo Polskie Wolnosc, “Sociedade Polonesa Liberdade”, a Escola Polonesa. Como o espaço era pequeno, anos mais tarde, José Smolka doou terreno e fez a construção de sede mais ampla inaugurada em 22 de maio de 1921. Wolnosc recebeu em 1938, época da nacionalização do ensino, o nome de Sociedade Educadora José Smolka; em 1944, Sociedade Beneficente e Cultural Iratiense – Clube Polônes. O primeiro professor em língua polonesa foi Eugeniusz Radlinski, imigrante, vindo da Polônia em 1911, junto com a família Wasilewski. João também foi fundador do Clube do Comércio, Clube dos Operários, Maçonaria, Rotary Clube, ajudou na construção de igrejas, do monumento da Nossa Senhora das Graças, da sede da APAE e também em determinada época foi secretário do Cônsul Polonês em nossa cidade. 

Visita do Cônsul Geral da Polônia em Irati, em agosto de 1929

João Wasilewski, foi secretário do cônsul polonês em Irati, com o objetivo de se comunicar com a antiga pátria Polônia, pois na cidade haviam muitas famílias polonesas.  João fomentou o desenvolvimento cultural da cidade de diversas maneiras. “O cinema do Wasilewski foi, em determinada época, ponto de encontros culturais, políticos, artísticos, sociais, promoções beneficentes; festas em benefício do Hospital e outras instituições, colações de grau, festividades cívicas. No dia da criança, em outubro, há mais de 25 anos, João Wasilewski vem oferecendo gratuitamente sessões cinematográficas aos alunos das escolas de Irati. João Wasilewski, cidadão de Irati”. (ORREDA. José M. Entrevista concedida em 2013, acervo particular).   

O inesquecível João Wasilewski foi considerado o mais antigo exibidor de cinema do mundo a permanecer com a mesma sala de espetáculos durante 62 anos de sessões cinematográficas ininterruptas. “Porque o cinema funcionou por mais de 60 anos, na mão do seu João, funcionou por 62 anos e ele foi considerado o mais antigo exibidor de cinema do mundo, o cinema ficou na mão de um único proprietário durante 62 anos, que foi de 1920 até a ocasião do falecimento dele. (ORREDA, Jose M. Em entrevista concedida em 2013, acervo particular). 

 Viveu com entusiasmo inabalável todos os seus dias, assim, porque seu trabalho lhe rendia algo mais do que a simples retribuição financeira

João teria sido uma das poucas pessoas que viveu todo este ciclo. , e neste entusiasmo, não envelheceu, porque sentiu sempre a certeza de estar contribuindo de alguma forma para tornar mais amena, mais alegre e mais feliz a vida de todos. Suas atividades no comércio e na indústria consagram-no como empresário de sólidos princípios e conduta irrepreensível. Tudo o que empreendeu levou sempre a índole da constância, da continuidade, da solidez, da progressão lenta, porém certa. 

Segundo relatos do seu filho Júlio Wasilewski, João na vida familiar, foi sempre o homem suave, calmo, sensível, capaz de se comover com o sorriso de um neto e de vibrar com a felicidade de um filho. A sua lembrança, é capaz de manter acesa com intensidade sempre crescente, a chama desse amor imorredouro em que se queima pela sua saudosa memória. Jõao faleceu no dia 2 de dezembro de 1982. 

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