O que é refluxo gastroesofágico?

Dr. Bruno L. Alencar
Otorrinolaringologista
CRM 18299 RQE 13511

A doença do refluxo gastroesofágico é muito frequente nos adultos, que ocorre quando o refluxo do conteúdo gástrico para o esófago ultrapassa os valores normais, causando sintomas ou danos no esôfago.
A passagem de conteúdo gástrico para o esôfago ocorre em todos os indivíduos, em pequenas quantidades e várias vezes ao dia. É um fenômeno normal que não causa sintomatologia ou danos. Quando falham os mecanismos de defesa do organismo, esses episódios tornam-se mais frequentes e importantes, causando então sintomas e complicações. É particularmente nocivo o refluxo noturno, pois tende a permanecer mais tempo em contato com a mucosa do esôfago.

Refluxo gastroesofágico – sintomas
Na doença do refluxo gastroesofágico, os sintomas mais frequentes são os seguintes:
• Pirose retroesternal – sensação de queimadura no tórax, por trás do esterno, que pode estender-se do abdómen até à garganta;
• Regurgitação – aparecimento de alimentos na boca, não provocado por vômito. Manifestando-se sobretudo de noite pelo aparecimento de mancha de líquido acastanhado no travesseiro;
• Disfagia – dificuldade em engolir certos alimentos, que pode ser acompanhada por dor.

Para além destes sintomas, mais frequentes, podem ocorrer outros, que podem ser difíceis de associar a esta doença:
• Rouquidão persistente;
• Tosse irritativa;
• Azia;
• Dores de ouvidos;
• Crises asmatiformes (sibilos e falta de ar);
• Halitose (mau hálito);
• Desgaste do esmalte dos dentes;
• Dor torácica, difícil de distinguir de dor de origem cardíaca.

Causas
Em algumas situações a causa da doença não se consegue definir. A presença de uma hérnia de hiato é uma das causas mais frequentes de doença de refluxo. Outras causas podem ser a ausência de motilidade do esôfago, algumas doenças sistémicas, como a esclerodermia, ou obstáculo ao esvaziamento do estômago, como ocorre na estenose pilórica, provocada por doença ulcerosa.

Diagnóstico
Nos casos mais típicos, o médico pode fazer o diagnóstico com facilidade, baseado apenas nos sintomas do doente. Contudo em muitos casos é necessário um estudo aprofundado. Esse estudo pode exigir:
• Endoscopia digestiva alta;
• Estudo radiológico contrastado esófago-gastro-duodenal;
• Manometria esofágica;
• pHmetria esofágica ambulatória de 24 horas.

Complicações
Na maioria dos casos a doença causa apenas perturbação mais ou menos grave na qualidade de vida do doente. Contudo, se for maltratada, pode originar complicações muito graves como úlcera do esôfago, estenose (aperto) do esôfago e alterações que podem conduzir ao cancro do esôfago.

Tratamento
Os objetivos do tratamento são o controle dos sintomas, a cura da esofagite e evitar a ocorrência de complicações graves. A maioria dos casos responde bem a tratamentos simples, baseados na alteração do estilo de vida e redução da secreção ácida do estômago. Em alguns casos só a cirurgia pode resolver a doença.
Mudança de estilo de vida e alimentação:
• Emagrecimento (se existir obesidade);
• Na dieta deve evitar alimentos como o chocolate, sumos de laranja ou limão, café, hortelã;
• Fazer refeições pequenas e frequentes;
• Não comer 3 horas antes de ir para a cama;
• Dormir com a cabeceira da cama levantada.

Medicação – uso de medicamentos
Podem ser usados medicamentos ou remédios que reduzem ou inibem a secreção de ácido no estômago: os inibidores dos recetores H2 (cimetidina, famotidina, etc) ou mais frequentemente os inibidores da bomba de protões (IBP) (omeprazol, lanzoprazol, pantopazol, esomeprazol…). Podem ser, ainda, usados antiácidos.

Cirurgia de refluxo gastroesofágico
Em alguns casos a cirurgia é a opção mais conveniente. A cirurgia pratica-se sobretudo nos doentes mal controlados com tratamento médico, nos jovens, e nos doentes que aparecem já com complicações. No entanto só após avaliação cuidada e fundamentada por exames auxiliares, o cirurgião poderá aconselhar uma operação.

Prognóstico
A maioria dos doentes reage bem às medidas simples atrás indicadas, mas poderá necessitar de tratamentos de longa duração.
Os doentes que necessitam de operação, em geral apresentam grande melhoria dos sintomas e redução do risco de complicações.
No entanto, todos os doentes com doença de refluxo gastroesofágico devem ser regularmente seguidos pelo seu médico assistente para ajuste de terapêutica e vigilância da ocorrência de complicações.

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