Pais reclamam do modelo dos cursos técnicos do Novo Ensino Médio

Esther Kremer

Por meio da Lei nº 13.415/2017, o Ministério da Educação (MEC) alterou as Diretrizes e Bases da Educação Nacional e mudou as estruturas do ensino médio. O novo modelo teve início no ano letivo de 2022 e, atualmente, não está agradando os estudantes e os pais, visto que alguns cursos do itinerário “Formação Técnica e Profissional” são ofertados de forma síncrona por profissionais contratados pela universidade particular Unicesumar, em convênio com o Governo do Estado.

Segundo a Secretaria da Educação e do Esporte do Paraná (Seed), apenas os cursos de Administração, Desenvolvimento de Sistemas e Agronegócio são ofertados online. Em Irati, a reclamação dos pais gira em torno de que o Governo não está cumprindo com o prometido, que eram aulas presenciais e com professores em sala.

Os estudantes vão até a escola e assistem as aulas, no período estabelecido pela Unicesumar, por meio de Google Meet e do Educatron, uma TV que transmite as aulas ao vivo ou gravadas por professores. O modelo é padrão em todo o Paraná. Durante as aulas, um monitor contratado pela universidade acompanha os alunos e tem como função ligar a TV e repassar as dúvidas deles para o professor por meio de um chat.

“Todas as escolas estão com esse problema, não exclusivo aqui. Os alunos conseguem aprender, mas a qualidade da formação não será tão boa como o esperado” – Pedro

A Seed respondeu o questionamento dos pais por e-mail e disse que o modelo deve continuar. “O modelo foi implementado com o objetivo de levar a educação profissionalizante para mais lugares no estado, visto que em muitas cidades menores e em zonas rurais existe dificuldade para encontrar professores habilitados a lecionar determinados conteúdos técnicos”, disseram.

Outro questionamento feito foi sobre a dificuldade do aluno em aprender e se isto afetaria a sua formação. A resposta obtida foi que “os alunos não devem ser prejudicados, uma vez que a Seed e a universidade parceira prezam pela qualidade das aulas e pelo exercício correto das funções dos monitores, que atuam como intermediários entre alunos e professor, possibilitando a interação entre eles”.

A Folha entrou em contato com o Núcleo Regional de Educação de Irati para obter, com mais clareza, respostas para as dúvidas dos pais e alunos, mas não conseguiu até o fechamento da edição.

Elisiana Ana Salat, mãe de um aluno da rede estadual de Irati, relatou a dificuldade do mesmo em se concentrar nas aulas, visto que não há um professor. “É mais vantajoso ter um professor em sala de aula do que os alunos estarem em frente a uma TV. A principal dificuldade é tirar dúvidas, eles não têm contato com professor, não conseguem fazer os exercícios porque não tiram as dúvidas”, disse.

Elisiana também comenta que há uma dificuldade em fazer os alunos prestarem atenção nas aulas. “Eu, como mãe, vejo que não é relevante esse modelo de ensino. Os alunos assistem essas aulas por um período muito longo e isso é muito cansativo”, explica.

Pedro (nome fictício), pai de uma aluna de Irati, também expressou seu descontentamento em relação ao curso que sua filha escolheu. “O curso é bom e tem boas matérias, os alunos vão para a escola de manhã, ficam até tarde e a escola faz tudo por eles, oferece almoço e faz o que pode, mas eu vejo que falta muito e precisa complementar. Online eles não aprendem”. O pai não quis ter seu nome divulgado.

É por meio do Educatron que os alunos acessam as aulas | Foto: Esther Kremer

Segundo Pedro, o curso é muito teórico, e tanto o Governo quanto a Unicesumar, não fornecem um professor para melhorar a qualidade. “A escola recebeu computadores, mas quem vai levar os alunos para aprender a usá-los se não tem um professor? As próprias escolas não acharam que os cursos seriam online, ou seja, a culpa não é das escolas, elas estão fazendo muito pelos alunos”, disse.

Uma das monitoras contratada pela Unicesumar, em Irati, Karina Alvez Ludvichk, comenta que ela precisou de um treinamento para o cargo e explicou a sua função na sala de aula. “São aulas síncronas, via meet, e sou responsável por intermediar o professor com os alunos quando eles têm dúvidas, tudo via chat. Também organizo a sala, faço contagem de alunos, faço alguns relatórios e entrego para a coordenadora do curso”.

Segundo Karina, no início foi difícil fazer os alunos interagirem, pois “a turma se dispersava muito, eles conversavam demais, mas agora está mais tranquilo, aumentou o número de alunos que participam das aulas, quase a sala toda”, disse.

A monitora elogiou o curso, mas alertou para uma possível melhora em aulas práticas. “Eu acredito que os cursos podem ter bons resultados, são bons e importantes. É o que está no mercado atualmente. Os alunos aprendem a história e o que está mais atual no curso que escolheram, mas é preciso mesclar as aulas meets com as práticas, uma vez por mês, ou a cada 15 dias, é importante para eles”, explica.

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.