Tradições natalinas mantêm vivas as nossas raízes

A nossa região teve um grande número de imigrantes durante os anos anteriores, que se estabeleceram por todo o Brasil, o que reflete nas tradições, nas festas e na cultura que temos hoje em dia. Aqui no Paraná, entre 1853 e 1886 o Estado recebeu cerca de 20 mil imigrantes, entre eles ucranianos, poloneses, italianos, alemães e japoneses.

Embora estas etnias estejam presentes em todo o território paranaense, nossa região têm um destaque de imigrantes da Polônia, Ucrânia e Itália.

Nossa equipe entrevistou uma pessoa de cada descendência que ainda preservam algumas tradições natalinas.

POLÔNIA

Nelci já estever na Polônia cinco vezes, e na última vez pôde conhecer
a cultura mais a fundo. Foto: Jaqueline Lopes

Nelci Pabis é professora na Unicentro, Campus Irati, e desde pequena conviveu com sua descendência polonesa sempre muito presente. Em sua família sempre foi buscado comemorar o Natal resgatando as tradições da Polônia.

Para os poloneses, a data é de grande significado, pois é uma das maiores festas religiosas, sempre comemorada com muita alegria e vigor, e tem seu início no dia seis de dezembro, dia de São Nicolau. Hoje em dia é comum que essa entrega seja feita no dia 25, em algumas regiões do país. São Nicolau era quem distribuía os presentes para as crianças, e em grande parte da Polônia, ainda é assim.

Na Véspera de Natal (24), as celebrações se iniciam ao aparecer da primeira estrela no céu, uma referência simbólica à Estrela de Belém que anunciou o nascimento de Jesus. Também enfeitam a Choinka, que é a árvore de natal, com nozes e maçãs, pois a maçã era alimento de falecidos, protegia de doenças e acreditava-se que a noz unia casais e trazia amor. Após algum tempo, os poloneses começaram a utilizar bolas decorativas pintadas a mão, que são características hoje em dia.

Ainda antes da ceia, é realizada a partilha do Oplatek, ou a partilha do pão celeste, que se refere à Última Ceia, quando Jesus partilhou o pão com seus discípulos. O Oplatek é semelhante à uma hóstia, e é o pai ou filho mais velho que parte o primeiro pedaço dele e compartilha com a esposa ou mãe, podendo faze-lo com breves palavras de agradecimento, perdão ou desejando saúde. Durante a ceia, são apresentados 12 pratos e alguns dos alimentos favoritos são o peixe, já que não é consumida a carne vermelha, o pierogi e a batata

Após a ceia, ocorre a Pasterka, que é conhecida popularmente como Missa Do Galo.

Também são muito populares as Kolendy, canções de Natal polonesas, que começam a serem entoadas na Véspera de Natal e se estendem até o Dia de Reis (06). “Antigamente na nossa região também eram cantadas as Kolendy, as pessoas faziam visitas de casa em casa cantando, mas atualmente este costume já está se perdendo. Algumas famílias ainda fazem, nós fazíamos o Natal Polonês nos anos anteriores e reuníamos várias famílias, que são descendentes ou simpatizam com a cultura polonesa, para resgatar e cultivar estas tradições que são tão bonitas”, relatou a professora.

Nelci cresceu em um ambiente onde a cultura polonesa era extremamente valorizada, e por isso aprendeu a se comunicar na língua, mas além disso, esta convivência transformou tradições em memórias afetivas. “Têm muito significado para mim, porque desde que eu me lembro o nosso Natal era organizado desta forma, e isso desde a convivência com meus avós paternos e maternos, eles tinham suas dificuldades com a língua portuguesa, então conversávamos em parte na polonesa. Isso me diz muito porque fez parte da construção da minha identidade, e quando constituí minha família também procurei preservar as tradições”, finalizou.

Mensagem de Natal

Neste 2020, Nelci deixou uma mensagem especial para os apreciadores da língua polonesa. “W Boże Narodzenie życzę wszystkim Wesołych Świąt, szczęśliwego Nowego Roku i niech Bóg błogosławi was przez całe życie”

ITÁLIA

Caterina Gaioski busca a originalidade em
todas as suas receitas. Foto: Leticia Pabis

Caterina Balsano Gaioski é nascida na Itália, mas como veio para o Brasil muito pequena, se naturalizou brasileira de coração e documento. Coproprietária da panificadora Gaioski, no município de Irati, é conhecida por produzir há 33 anos o panetone na calda, que é uma receita da sua mãe e avó, com um toque original da própria Caterina.

Criada em uma ambientação tradicional, ela fala, lê e escreve em italiano fluente, no dialeto de Vêneto, e sempre garantiu que a cultura italiana estivesse presente na família, principalmente no Natal. Dona Caterina preserva aquilo que aprendeu quando criança, mantendo os costumes de sua “mamma” e “nonna”, fazendo a ceia do Natal, reunindo os parentes mais próximos em casa.

Em sua residência, a tradição italiana consiste no presépio, que é montado todos os anos sem falta, com a ausência do menino Jesus, pois Ele é colocado em sua manjedoura pela criança mais nova da família, ou algum homenageado presente, na Véspera de Natal, dia 24. “Antes de levarem o menino Jesus para o presépio, fazemos a leitura do Evangelho de Lucas que narra o nascimento de Jesus. Quando é anunciado o nascimento de Cristo, o escolhido coloca o menino Jesus no presépio, e em seguida cantamos ‘Tu Scendi Dalle Stelle’ em italiano e ‘Noite Feliz’ em português’’, relatou a confeiteira.

“Após colocado o menino Jesus, é a hora do perdão e da reconciliação, todos se abraçam e desejam um feliz natal e, se por acaso, durante o ano houve alguma desavença, esta é a hora da reconciliação. É uma parte que não podemos deixar de lado, porque não se atravessa de um ano para o outro com brigas na família”, acrescentou.

Na alimentação, a tradição consiste apenas no peixe, já que não se consome carne vermelha no Natal, e sobremesas como a titole, doces fermentados de um dia para o outro, fritos em azeite e depois no mel, e bolachas de mel decoradas com glacê

Caterina ainda conta sobre os natais da sua infância, já que na Itália daquele tempo não existia Papai Noel, mas sim a Befana, uma bruxa boa que descia pela chaminé e deixava presentes para as crianças boas e carvão para as ‘levadas’.

Mensagem de Natal

Para este Natal, Caterina deixou uma mensagem especial para todos os descendentes de italianos. “Auguriamo a tutti i clienti e amici, un meraviglioso Natale pieno di salute, gioia e felicità . Quest'anno non potremmo essere insieme da vicino, ma preghiamo per i prossimi. Buon Natale a tutti!”

UCRÂNIA

Padre Dionísio celebrará missa de Natal no dia 24, na Igreja Imaculado Coração de Maria. Foto: Leticia Pabis

Padre Dionísio Mazur, é pároco da Igreja Imaculado Coração de Maria, de Irati, natural de Prudentópolis e descendente de ucranianos. Ele mantém viva a tradição do país, e procura festejar assim como antes, pois o Natal é uma grande festa da humanidade.

Para os ucranianos, a comemoração do Natal começa no dia 14 de Novembro, dia de São Felipe Apóstolo. A partir desta data, eles fazem um jejum preparando-se para a grande festa do Natal, que termina no dia da Santa Ceia, 24 de dezembro, após aparecer no céu a primeira estrela, que significa a estrela do Oriente que indicou o caminho para os três magos chegarem até Jesus.

Na Igreja, é preparado o presépio e a árvore de Natal, chamada “yalynka”, em que se coloca a estrela apontada para o céu, que também significa a indicação do caminho de onde Jesus nasceu. A celebração é cantada em ucraniano, antes da missa é feito o “esnameboh” que é um canto especial que é feito em frente ao presépio, as crianças levam o menino Jesus e ele é colocado na manjedoura, no dia 24 de dezembro, e após é cantada esta oração, e inicia a liturgia recheada de “Kólhadas”, que são cânticos natalinos ucranianos. No dia seguinte, também existe o costume de visitar as famílias com cantos.

Os ucranianos também celebram o Natal com 12 pratos a mesa, que significam os 12 meses do ano e os 12 apóstolos que fizeram parte da Ceia de Jesus Cristo, quando ele instituiu a eucaristia. “Nesta nossa Ceia de Natal, como é termino do tempo de quaresma qu fazemos do dia 14 ao dia 24, nesses pratos não se usa carne, nem derivados de leite, se faz Vareneke, tem a tradicional Kutiá que é a uma sobremesa a base de trigo, e Borscht que é uma sopa. São várias comidas, hoje não se usa muito, mas na Ucrânia ainda fazem assim”, disse o pároco.

A Kutiá é considerada o prato mais importante e imprescindível na ceia dos ucranianos, pois o trigo tem um significado de prosperidade, amor, bênção na comunidade, na família e na propriedade, também representa o pão e a vida. Também, no início da Ceia o chefe da casa, que seria o pai ele saúda todos os presentes com um pedaço pequeno de pão ensopado no mel. “O significado disso é que sempre reine na família paz, amor, harmonia, perdão, para que sempre haja aquela benção de Deus”, comenta o padre.

Mazur destaca que muitos ucranianos não seguem a tradição como antes, mas procuram ter alguns pratos e fazer algumas dos costumes. No interior, muita gente busca guardar essa tradição. Os costumes que mais prevalecem são dos pratos, o jejum, colocar o menino Jesus no presépio apenas no dia 24 de dezembro.

Outra tradição que se preserva na cultura ucraniana em Irati é de colocar e nas casas o “Diduh”, que é um feixe de trigo amarrado e com uma faixa que tem um lugar especial e destaque na sala que representa a presença dos antepassados que faleceram que fazem parte da família. O trigo representa a manjedoura onde Jesus Cristo nasceu.

“Natal é uma festa de comemoração, aniversário e nascimento de Jesus Cristo, o filho de Deus, que se faz presente junto de nós. É um grande mistério, uma grande graça, Jesus vindo ao encontro de nós. O verbo se faz carne e habita entre nós. De fato, precisamos comemorar esta festa como muita alegria”, destaca o pároco sobre o significado da data.

MENSAGEM DE NATAL

Para este Natal, o Padre deixa uma mensagem em ucraniano para todos os leitores do jornal. ““Різдво – це свято радости, це благословення від Бога, яке присутнє з нами. Важливо, щоб кожен із нас, усі наші родини, мали чисте і підготовлене серце, і нехай Ісус Христос, Божа дитина, відроджується особливо в цей важкий рік, щоб Він приніс нам мир, здоров’я і щоб цей прийдешній рік був благословенним і щасливим”.

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