Polícia Civil agiliza identificação em hospitais para doação de órgãos

A Polícia Civil do Paraná (PCPR) atua para identificar com rapidez pacientes em hospitais e colabora com o serviço de doação de órgãos do Estado. Em casos em que uma pessoa não identificada está em coma, a agilidade na perícia datiloscópica – análise das impressões digitais – é fundamental para que o protocolo de verificação de morte encefálica seja aberto. Esse é primeiro passo do processo para doação.

De janeiro a julho de 2019, a PCPR periciou 96 pacientes não identificados em hospitais paranaenses. No mesmo período do ano passado foram 80, representando um aumento de 20% na demanda.

A maior parte dos pedidos para identificação de pacientes vieram de unidades hospitalares de Curitiba e Região Metropolitana: foram 86 em 2019 e 53 em 2018. Hospitais localizados no Interior e no Litoral fizeram 10 solicitações neste ano e 27 no ano anterior.

Uma das identificações nesse ano ocorreu em Londrina. Papiloscopistas da PCPR conseguiram identificar um homem de 28 anos, o que possibilitou que o hospital fizesse contato com familiares, que posteriormente decidiram fazer a doação total dos órgãos.

O papiloscopista Paulo Henrique Pegoraro de Godoi foi à instituição de saúde coletar as impressões digitais do paciente em 11 de junho. “Quando recebemos o chamado já sabíamos da urgência, porque se fosse confirmada a morte cerebral havia grande chance da doação dos órgãos, então demos prioridade”, recorda.

Após a digitalização das impressões digitais e da foto do paciente, o passo seguinte foi encaminhar as imagens para o Setor de Perícia Datiloscópica, localizado na Capital.

A pesquisa inicialmente é feita no banco digital, mas como nem todos os registros gerais do Paraná estão na plataforma, o confronto da ficha do paciente precisou ser feito manualmente na grande base impressa da PCPR, que soma 15 milhões de fichas datiloscópicas.

IDENTIDADE – Já no dia seguinte, 12 de junho, o setor apresentou a identidade confirmada do paciente: Marcos Antônio Benevenuto. Natural de Londrina, o homem trabalhava como motorista de aplicativo quando passou mal na rua, foi socorrido e levado para o hospital desacordado e sem documentação pessoal.

O chefe do Setor de Perícia Datiloscópica, Danilo Lemos Pereira, afirma que casos assim sempre têm prioridade, ainda que a demanda por identificações seja alta. Ele destaca que há comprometimento e empenho dos servidores para que as perícias emergenciais sejam concluídas o mais rápido possível, o que muitas vezes ajuda a salvar vidas. “É dada prioridade para pacientes e cadáveres, principalmente quando sabemos que é para doação de órgãos”, explicou.

O papiloscopista responsável pelo atendimento, neste caso, que já havia feito outras duas coletas em hospital, mas foi a primeira vez que um paciente sem identificação tinha suspeita de morte encefálica. Depois de receber a notícia de que a doação de órgãos poderia ser feita o sentimento foi de dever cumprido. “Se não tivesse rapidez nós poderíamos ter perdido os órgãos e a doação para outras pessoas. Eu estava fazendo identificação de um preso em uma delegacia quando recebi o chamado. Já estava tarde e poderia ter deixado para o outro dia, mas não era o caso”, disse Godoi.

PROTOCOLO – De acordo com a Polícia Civil, a identificação do paciente para verificação de morte encefálica é crucial para viabilizar a doação de órgãos e tecidos. A comunicação da suspeita de morte cerebral à família é exigida pela resolução do Conselho Federal de Medicina nº 2173 de 2017. A médica intensivista do Hospital do Trabalhador, Fernanda Bauemle Reese, ressalta que saber a identidade de pacientes nessas condições passa a ser prioridade.

Ela explica que, inicialmente, o serviço social do hospital faz busca ativa com base em características e informações do local em que o paciente foi resgatado. No entanto, nem sempre a pesquisa é bem-sucedida e, nesses casos, a PCPR tem papel fundamental. “Se não chega a ser identificado, nós chamamos a Polícia Civil para fazer a coleta digital e a identificação. Temos vários casos em que a polícia identificou pacientes e isso proporcionou encontrar a família, que acabou participando com a doação”, disse a médica.

A médica destaca que os familiares devem ser comunicados sobre a abertura e do andamento das quatro etapas de verificação de morte encefálica, conforme prevê o protocolo nacional. Fazem parte dos testes o primeiro exame clínico, o teste de respiração, o segundo exame clínico e o exame complementar. Comprovada a não atividade cerebral, ausência de respostas a estímulos e lesão neurológica irreversível, a morte cerebral do paciente é decretada legalmente.

Um paciente com morte encefálica tem a possibilidade de doar globos oculares, pele, ossos, pulmão, coração, pâncreas, rins, fígado e intestino, dependendo do funcionamento de cada um.

MATCH – O delegado da PCPR Marcus Michelotto explica que o trabalho de identificação de pessoas envolve atuação integrada e bastante pesquisa. “É um trabalho que requer a união de vários setores do Instituto de Identificação, inclusive de plantões, o que possibilita ajudar a salvar vidas. O hospital necessita de um laudo oficial para essa doação”.

Após a coleta e envio das impressões digitais ao setor de pesquisa, acrescenta o delegado, é feita a conferência com o banco de dados estadual para chegar ao match – quando o cruzamento de todas as informações é positivo. A partir do encontro da ficha datiloscópica do paciente, o serviço social do hospital é comunicado. O setor de laudo expede o documento rapidamente, de forma extraordinária e o encaminha ao hospital para que a unidade possa autorizar a doação de órgãos. “É um trabalho rápido, exaustivo, mas sempre emergencialm, em prol da vida, para que as pessoas possam receber os órgãos desse possível doador”, disse Michelotto.

 

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