O Ico Boscardin que conheci e admirei…
Por Jorge Derbli
“Luís Augusto Boscardi nasceu dia 21 de abril de 1945, faleceu com 79 anos. É filho de Agostinho Boscardin e Jaci Boscardin, a mãe dele é viva ainda e, essa semana, completa 99 anos. O Ico nasceu em Santa Felicidade, veio para Irati e eles iniciaram as atividades no bairro Riozinho. Onde compraram os terrenos de pedreira.
Em 1964 foi criada a empresa Boscardin e Companhia, na qual eram sócios Luiz Augusto Boscardin e Agostinho Boscardin. Essa empresa, no início, quando eles começaram com a atividade de pedreira, começaram a quebrar a pedra, eles tiravam a pedra do Riozinho e levavam no trevo, na frente da casa da Dona Mariquinha, onde tinha um pátio da rede Ferroviária. Eles levavam as pedras até lá, de 50 cm a 60 cm, e o pessoal sentava em um banquinho, pegavam uma marreta e quebravam as pedras todas na mão, tudo manual.
Eles quebravam as pedras, deixavam em um tamanho quase na palma da mão, um pouco menor, e colocavam em latas de 20 litros e depois em estoque. Aí depois encostavam os vagões na estrada de ferro, pegavam com os garfos e manualmente colocavam nos vagões da estrada de ferro, onde ia para Ponta Grossa para fazer os trabalhos na rede ferroviária aquele tempo. Todo o processo manual.
Com o passar do tempo, o Boscardin viu que a pedreira tinha uma mina boa e comprou um ‘brintadorzinho’ pequeno e começou a britar a pedra, ainda fazendo o carregamento manual. Naquele tempo não tinha máquina. O equipamento britava de 10 a 15 cúbicos por dia. E aí começou em 1964, começou a vender pedras para as Prefeituras e começou a vender para os materiais de construção. E a cidade foi crescendo e ele consolidou a empresa. Hoje eles têm uma unidade de produção no Riozinho, uma BR 277, em Ponta Grossa, tem em Piraquara e tem mais algumas outras pedreiras que estão abrindo. Então, hoje, o grupo do Boscardin, brita em um dia o que eles britavam em um ano. Hoje é tudo mecanizado, não se usa mais a parte manual, mas foram alguns anos muito difíceis.
Mas toda a pedra foi, ou boa parte dela, para construção das empresas que se instalaram em Ponta Grossa no início da revolução industrial da cidade. Eu trabalhei em 1980 na Boscardin e de cada 10 caminhões de pedra que saiam de Irati, cerca de oito iam para Ponta Grossa.
Eu trabalhei muito na época em que estavam começando a estrada de Irati a Rio Azul, nós trabalhávamos sábado e domingo para carregar pedra, também quando estava construindo Irati a Imbituva, Irati a Inácio Martins, enfim. A Pedreira Boscardin, o Ico Boscardin, teve um papel importante, indiretamente, nos bastidores, do desenvolvimento de Irati.
Há 60 anos eles estão contribuindo e o Ico tinha uma característica, ele não gostava muito da parte administrativa. No escritório ele não ficava. O negócio dele era estar lá de macacão na empresa, ia de manhã, ficava o dia todo, e trabalhando junto com os funcionários. Claro que ele ia no escritório, porque ele era o chefe, mas ele não gostava muito de ficar, tanto é que quando chegava vendedores de máquina de Curitiba, encontravam eu lá no pátio da empresa, perguntavam: ‘onde é que é o escritório? Queria falar com o responsável’. Aí quando eu trabalhava lá, as pessoas chegavam e ofereciam o equipamento e faziam toda aquela proposta, aí eu falava ‘tudo bem, só que é o seguinte, eu vou chamar o chefe para ver se ele autoriza a compra ou não’. Eu chamava o Ico e ele vinha de macacão todo empoeirado, aí os caras ficavam ‘mas esse é o dono?’. Ele era assim, mais simples que painel de Jeep.
O Ico não se destacava, não gostava de aparecer, não gostava de ficar em evidência. Ele era um funcionário de bastidor. Mas era o cara que produzia, que trabalhava, levantava cedo todo dia. Um homem muito religioso, pelo que eu conheço, quando ele estava em condições físicas, nunca faltou uma missa no domingo. Nesses 45 anos que eu conheço o Ico, nunca faltou na missa, ele só não ia se estivesse doente. Agora, por último, ainda quando ele estava acamado, era o dia inteiro assistindo aos canais religiosos. Eu não conheci uma pessoa tão religiosa como ele. Ele rezava de manhã e de noite.
Ele foi casado com a minha mãe por 45 anos, desde quando eu tinha 15 anos. A minha mãe faleceu há pouco tempo, agora ele faleceu, mas ele era um cara que só ensinou, não é porque todo mundo que morre o pessoal diz ‘como era bom essa pessoa’, mas o Ico não, eu desconheço alguém que disse que não gosta dele. Era uma pessoa muito boa e vai fazer falta.
Ele estava sofrendo demais. Agora descansou. Mas é um homem que é um exemplo para a cidade de Irati. Um exemplo para família, para amigos e todos que conheceram e admiraram Ico Boscardin, assim como eu”.