Estachinho: de Wadowice à Irati

Após a Primeira Guerra Mundial, uma insurreição eclodiu na Polônia e prosseguiu até a assinatura do Tratado de Versalhes, em junho de 1919. O tratado recria um Estado Polonês. Foram vários tratados e conflitos na região até se estabelecer o atual território. A Polônia sofreu muito com as guerras, mas nunca perdeu a enorme fé e sua religiosidade cristã.

Em 10 de maio de 1925, na cidade Wadowice, nasceu Stanislaw Wajdzik (Estanislau Waydzik – Estachinho). Terceiro filho de Piotr Wajdzik e Marja Matuczki Wajdzik (Pedro e Maria). Nessa cidade também nasceu, em 18 de maio de 1920, Karol Józef Wojtyla, mais tarde o Papa João Paulo II.

O pai de Estachinho participou da Primeira Guerra Mundial – a Grande guerra, a maior e mais sangrenta guerra até hoje travada entre os povos. Pedro chegou a ficar soterrado por três dias sob os escombros de uma trincheira. Foi laureado como herói de guerra pela Polônia.

Em 1927, com a recessão pós-guerra, mas ainda com muita agitação em volta da Polônia, procurando paz e uma vida melhor para sua família, Pedro Waydzik, então com 28 anos, e sua esposa Maria, com 26 anos, seus quatro filhos e um irmão, partiram para uma longa viagem para o Brasil. Através do navio holandês chamado Gelria, atravessaram o oceano e desembarcaram no porto do Rio de Janeiro em 12 de junho 1927.

Da capital brasileira da época, Rio de Janeiro, a família partiu para o Paraná em busca de trabalho na agricultura ou em ofícios de carpintaria, e vieram para o distrito de Fernandes Pinheiro, município de Teixeira Soares. Ali, Estachinho passou sua difícil infância, pois com 9 anos perdeu sua mãe e, praticamente, ficou sozinho em casa, pois o pai e os irmãos mais velhos trabalhavam fora e ficou com os menores. Muitas famílias queriam adotá-lo e aos outros dois filhos mais novos, mas seu pai dizia: “filhos meus eu crio”. Estachinho desde criança aprendeu a cuidar dos afazeres de casa e até pão fazia. Levava comida ao seu pai que trabalhava carregando dormentes na estrada de ferro. O guri, Estacho, também trabalhou, ainda criança, levando água em corote aos trabalhadores ferroviários.

Da pequena Fernandes Pinheiro, a família Waydzik veio morar em Irati. Com o trabalho de operário de seu pai, um novo casamento de Pedro e filhos mais novos para dar de comer, Estachinho foi trabalhar como atendente no armazém de secos e molhados do seu Erasmo de Mello, situado na rua Munhoz da Rocha, número 302, onde hoje há uma loja de confecções. Já adolescente trabalhava em bailes e festas como garçom. Irreverente, alegre e humilde contava para os filhos que com uma boa gorjeta do senhor Agostinho Zarpellon ele conseguiu comprar um sonhado capote de couro.

Pescaria no Rio Velho com Estachinho, Pedro e outros companheiros. Foto: Arquivo da família

Por sua lealdade e eficiência, seu Erasmo ofereceu sociedade no seu armazém ao jovem Estachinho e com esse novo incentivo os negócios prosperaram.

Em pouco tempo Estachinho abriu seu próprio armazém, primeiro na Rua Engenheiro Doutor Fernando Seiller Rocha, depois em uma propriedade alugada na rua Dr. Correia e após, com a construção, pelo patrício Stanislau Bronilawski, de sua casa e armazém, na própria rua Dr. Correia, número 709, onde por décadas permaneceu em atividade o Armazém São Pedro.

Casou com Elvira Natalia Lechiu, em 1955, o que resultou do nascimento de quatro filhos.

Com o decorrer do tempo passou o armazém para a condução de sua esposa e foi trabalhar no ramo de extração de pedras. Em 1965, com uma pedreira própria na localidade de Lajeadinho, onde hoje está instalada a concreteira de seu filho José e outra pedreira alugada de Aleixo Rossot, no bairro que hoje se chama Pedreira. Estachinho foi o primeiro blaster de fogo, ou cabo de fogo, de Irati, produziu muita pedra para alicerces de construção e paralelepípedos para calçamentos

Foi, também, sócio da antiga Cristaleria Irati. Após, com grande esforço, aprendeu a trabalhar com pavimentação asfáltica. Fundou a Pavimentadora Irati, que permaneceu em atividade por mais de 40 anos. Foram muitas pavimentações asfálticas em diversas cidades, iniciando por Canoinhas, Santa Catarina. Depois Palmeira, Teixeira Soares e muito depois Irati, Porto Amazonas, Imbituva, Rio Azul, Ivaí, Fernandes Pinheiro e Guamiranga.

Enfim, muito trabalho, com dedicação e honestidade, por uma vida inteira. Só parando de trabalhar aos 80 anos, quando o câncer avançou pelo seu organismo.

Estachinho foi sempre muito religioso, nunca perdia missa aos domingos, participou ativamente dos movimentos cristãos católicos, auxiliando principalmente a Paróquia São Miguel, o Seminário Mãe de Deus, o Serra Clube, além de várias entidades filantrópicas. Apoiou várias iniciativas na área social em Irati. Tinha uma fé inabalável, muita alegria o que certamente prorrogou sua existência, pois lutou contra o câncer por mais de dez anos sem sequer cair um fio de cabelo com as quimio e radioterapias.

Mesmo possuindo somente a formação da escola primária, era uma pessoa além do seu tempo, um autodidata. Sempre incentivou seus filhos para a leitura, pois assinava dois jornais estaduais, a revista O Cruzeiro, a revista Seleções e a enciclopédia Barsa, bastante custosa na época, para prover seus filhos mais próximos às informações e cultura.

Na juventude, ajudou a fundar o União Futebol Clube, em seu armazém na rua Dr. Engenheiro Fernando Rocha, que após fundiu-se com o Olímpico, gerando o Clube Atlético União Olímpico, onde militou por vários anos, como jogador e torcedor.

As maiores paixões do Estachinho eram além do futebol, o jogo de cartas, a pescaria e as viagens.

Com bastante simplicidade e esforço viajou a vários países do mundo.

Contudo, o que mais marcou em sua vida, e na vida de quem o conheceu, era sua generosidade e irreverência. Estachinho, além da caridade para com as pessoas, gostava muitos de animais. Andava em seus carros com comida para cães, mas o que mais marcou nesse sentido foi a alimentação diária que fazia aos gansos do Parque Aquático. Todo dia, com um saco de pães amanhecidos que adquiria na Panificadora Irati, ele alimentava os gansos. Curiosamente, quando à tarde ele vinha chegando com seu carro Belina, só pelo barulho do veículo, os gansos vinham voando às margens do lago por onde ele chegaria.

Estachinho alimentando os gansos do Parque Aquático. Foto: Arquivo da família

Estanislau Waydzik, Estacho como apelido, derivando Estachinho pela sua pequena estatura, contrapondo com seu grande e benevolente coração. Uma pessoa além do seu tempo. Um polonês humilde, porém, com atitudes nobres ao longo de sua vida.

Faleceu em Irati na data de 26 de agosto de 2006.

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