História de “Santa” Albertina vira livro

Um crime que aconteceu em 1918 e ainda hoje chama a atenção da população de Irati e região, devido à brutalidade que aconteceu, ou possivelmente aconteceu, a vítima, Albetina Nascimento, após a sua morte, ficou conhecida como uma santidade popular. Depois de mais de 100 anos, toda essa história foi registrada em um livro: Santa Albertina (páginas de dor, (in) justiça e devoções populares).

O exemplar foi escrito pelos autores, historiador Hélio Sochodolak, doutorandos em História, Lucas Kosinski, Leonardo Henrique Lopes Soczek e Filipe Arnaldo Cezarinho, que na época da elaboração, faziam parte do Núcleo de Estudo da História da Violência, da Universidade Estadual do Centro-Oeste do Paraná (Unicentro).

Foram dois anos de produção do manuscrito, que em suas 140 páginas descrevem a história dessa mulher, que é conhecida como santidade popular da região. A ideia surgiu dentro do contexto do trabalho do grupo no Núcleo, em que desenvolviam várias temáticas de violência e diferentes documentos na área da história, quando encontraram o processo criminal de Albertina.

“O Lucas conhecia mais a história, ele me contou e eu achei interessante. Ao buscar a pesquisa e o que se havia escrito sobre ela, o que encontramos mais foi, justamente, sobre a história oral, sobre a ideia de santificação e como isso é representado pela história oral. A partir do momento que estávamos com a fonte, que era que o processo criminal, que é um documento escrito e tem uma importância diferente para a história, a gente buscou produzir alguma coisa relacionando com as questões da história oral. Buscando entender a história da Albertina, o que havia no processo e o que as pessoas, até hoje, falam sobre a vida dela”, ”, disse o autor, Leonardo Henrique Lopes Soczek.

Os autores contam que a maior dificuldade dentro de todo o processo de escrita foi, eles sendo todos homens, tratar de um tema que ainda hoje é frequente no nosso cotidiano, a violência contra a mulher. “É um tema que traz desconforto, porque se pensarmos no nosso presente, de acordo com os dados da Secretaria de Segurança do Paraná, nos dois últimos anos, aproximadamente, 350 mulheres foram assassinadas, em suma, mulheres sendo vítimas de maridos agressores, ou então maridos assassinos. Se voltamos os olhos ao passado, há 100 anos, mulheres sendo vítimas de maridos”, isso ainda é presente”, observa Lucas Kosinski. 

No livro também constam as devoções populares, como a comunidade vê Albertina. De acordo com os autores, Soczek e Kosinski, são várias histórias contadas e todas têm sua particularidade e importância que contribuíram para o livro, além de possuírem uma certa regularidade, devido contestarem a sentença de absolvição do marido.

“Acredito que essa multiplicidade de sentidos atribuídos a morte da Albertina é o que mais chama a atenção, Albertina trancafiada, morta grávida, carbonizada, que virou estátua e o corpo não queimou, que foi parar no forno. Então essa parte das narrativas populares é o mais interessante, você ver a criatividade cotidiana sendo atribuída em cima do passado”, comenta Kosinski.

A ideia de registrar a história em livro se deu por ter uma produção mais local e de caráter social, ampliando as pesquisas feitas dentro do grupo de estudos, para acesso de toda a comunidade. Além disso, os autores comentam que o exemplar também serve como uma forma de reflexão, em como resistir a violência contra a mulher, devido em o livro trazer a santificação popular como forma de resistência no passado. Também levar a uma reflexão de que medidas podem ser adotadas para resistir a essa violência no presente.  

O LIVRO

O livro é composto por três capítulos. Segundo os dois autores, o primeiro refere-se a história de vida de Albertina, como chegou em Irati, o que fazia, como se relacionava com os demais, convívio em comunidade, até a sua morte. Depois começa a parte do processo criminal, o qual inocentou o marido.

A segunda parte do livro conta as devoções populares, as histórias buscadas pelos autores durante o processo de escrita, através de notícias e informações da sociedade, em como a comunidade reagiu a sentença e como a tornaram santa popular da região.

O terceiro e último capítulo do livro conta a vida do marido Arcílio, quem ele era, como chegou ao município, quais os valores perceptíveis na vida dele, que permeavam a vida masculina em Irati, no início do século XX.

COMO ADQUIRIR

O livro está disponível no endereço eletrônico da editora CRV (https://editoracrv.com.br/), para a chega são em torno de cinco dias de frete.

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