Parto natural e em casa, sim!

Dar à luz do jeito de nossas avós foi a escolha de Fernanda Popoaski, que teve Helena com ajuda de uma parteira

 

O que era comum e óbvio para o nascimento de uma criança na época de nossas avós foi se perdendo com o passar do tempo, dando grande espaço para os procedimentos médicos. Porém, os partos naturais, realizados em casa, vêm crescendo em popularidade nos últimos anos, e a mamãe da Helena – que nasceu no dia 18 de fevereiro, Fernanda Popoaski, fez esta escolha e conta à Folha sobre essa e a outra experiência de parto humanizado, no nascimento da primeira filha, Clara.

Já na primeira gravidez, Fernanda buscava por um parto natural e realizou o humanizado em sua casa para dar luz à Clara, há dois anos. Esse parto foi realizado com o acompanhamento de uma enfermeira obstetra, uma doula – mulher que dá suporte físico e emocional a outras mulheres antes, durante e após o parto; e mais uma enfermeira que fazia a reanimação neonatal.

“Elas fizeram o parto com todos os equipamentos técnicos para atendimento. Depois da primeira conversa, voltamos a ter contato na 38ª semana de gestação para tomar conhecimento. Porém, a equipe só vem quando a gestante está em processo do trabalho de parto”, explica ela. O parto humanizado pode ser realizado em casa ou no hospital, mas não conta com o conhecimento tradicional que Fernanda buscou na segunda gestação.

Intensidade

Como, desde a primeira gestação ela já estava buscando algo tradicional e natural, acabou tendo mais conhecimento sobre este assunto, teve contato com outras mulheres e conheceu a ONG C.A.I.S do Parto. Para o nascimento de Helena, a mãe, que é terapeuta naturalista, realizou o parto tradicional com a parteira Vanessa Carvalho, que veio da Bahia. “Ela já estava em Irati duas semanas antes e veio acompanhada da aprendiz de parteira e doula, Leticia. Nestes dias, nós conversamos sobre os sintomas até o parto, como se fosse um pré-natal, mas dentro do conhecimento tradicional herdado pelas parteiras”.

Fernanda explica que elas tiveram este tempo de preparação para conhecer a família, a relação do pai e da mãe e da gestante como um todo e, também, a questão de energia do lar, uma vez que o parto é compreendido como um ritual. Para ela, o acolhimento neste caso é diferenciado.

O acompanhamento da parteira e da doula vai muito além do processo do parto, envolvendo o trabalho emocional, sobre como lidar o medo e a insegurança, por exemplo. “É um processo de respeito à mulher, pois tudo é feito carinhosamente. Posso escolher a posição que eu sinto menos dor ou analisamos a posição que a criança vai escolher pra nascer”. Após o nascimento, Fernanda diz que elas só foram embora depois que o seu leite materno desceu, e de observarem o estado do umbigo de Helena. “Se a mãe é de primeira viagem, elas ajudam na orientação, dão dicas sobre a amamentação, chás, alimentos durante a dieta”.

Conhecimento valioso

Indiferente dos partos das filhas, Fernanda procurava a melhor maneira das meninas virem ao mundo. Ela quis fazer o resgate de uma tradição, pensando que antes o nascimento era desta forma e que a recuperação da mulher era mais rápida. “São conhecimentos que nos foram retirados, enquanto mulheres. Este empoderamento e conhecimento que as mulheres tinham entre elas, o patriarcado tirou de nós, e o medo sobre isso foi instalado nas mulheres”, observa.

Para ela, a riqueza do conhecimento tradicional de uma parteira e todo o sentimento que envolve este tipo de parto fortalece e empodera a mulher. “É o poder de conhecer o nosso próprio corpo, nossos limites. Muito mais que trazer elas, foi o resgate de olhar para mim mesma, de conseguir pensar em minhas ancestrais pra gente saber que é, sim, capaz de dar à luz e muito mais. E, claro, de empoderar outras mulheres a fazerem isso”.

Participação do pai

Outro destaque dado por Fernanda no parto natural foi a participação de seu marido, Allan Szwaidak. “Acho linda a participação do pai. Os homens também foram privados disso. Quando o pai participa do ato de segurar a mão, de ver as dores que a mulher está passando, ele está dentro dessa egrégora de energia”. Depois destas experiências, ela comenta que o esposo mudou e que este processo transforma um homem, nascendo junto da criança, um pai e uma mãe.

Opção que precisa romper barreiras

Como ela conhece casos de mulheres com traumas de parto, que sofreram algum tipo de violência obstétrica e que o procedimento hospitalar segue um método, optou por outro processo. Ao escolher este tipo de parto, Fernanda buscou, primeiramente, o aconchego e a energia do seu lar para que a filha viesse ao mundo. “A busca de cada mulher, quando está gerando uma criança, é uma busca interna. Cada uma está no seu tempo e na sua escolha e isso não é uma crítica a quem faz outro tipo de parto”, justifica ela.

O que ela recrimina é a forma como a maior parte da sociedade ainda vê o parto natural. “Este patriarcado faz com que as mulheres sejam minimizadas e nós precisamos romper este paradigma, ainda há muito preconceito”. Fernanda fez o Pré-Natal pelo Sistema Único de Saúde (SUS) e, em meio a este processo, deixou de contar, algumas vezes, como seria o seu parto pela falta de compreensão e conhecimento de algumas pessoas sobre a opção que escolheu.

“Ao fazer o parto natural, ficamos cientes de que, caso ocorra alguma complicação, haverá o encaminhamento ao hospital. A parteira e a doula são muito mais cautelosas do que alguns médicos, infelizmente. É um olhar de cuidado mesmo”, resume.

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