Viciam e levam a morte: conheça os jogos de azar que são crimes no Brasil

Especialistas falam sobre consequências de apostar em jogos de azar

Esther Kremer

O Jogo do Tigrinho, conhecido por sua popularidade crescente na internet, principalmente pelo fácil acesso e a divulgação massiva, tem se mostrado um problema que vai muito além das questões financeiras. Consistindo em uma forma de aposta ilegal, muitas vezes operada clandestinamente e fora do Brasil, o jogo atrai participantes com a promessa de grandes prêmios em dinheiro, porém, como se trata de uma casa de apostas visando o lucro dos desenvolvedores, a população apenas sai perdendo.


Os jogos de azar sempre foram uma fonte de controvérsia e problemas sociais a nível nacional. A Lei de Contravenções Penais, mais especificamente o Decreto-Lei nº 9.215, de 30 de abril de 1946, dispõe sobre a proibição de jogos de azar no Brasil, ou seja, são ilegais. O Art. 50 diz que “estabelecer ou explorar jogo de azar em lugar público ou acessível ao público, mediante o pagamento de entrada ou sem ele” pode resultar em prisão simples, de três meses a um ano de detenção e/ou prisão aumentada caso o esquema possua funcionários ou pessoas menores de 18 anos participando.


Ainda, pode haver pena de multa de R$ 2.000,00 a R$ 200.000,00, tanto como ponteiro do jogo, quanto como apostador.


O delegado da Polícia Civil de Irati, Rafael Rybandt, conversou com a Folha de Irati e explicou mais sobre o jogo que tem se tornado “febre” entre as pessoas. “O jogo do tigrinho é um jogo online em que as pessoas apostam dinheiro e, dependendo do resultado da combinação das figuras que aparecem, o desfecho pode ser algumas vezes positivo ou a pessoa pode perder também todo o dinheiro que colocou no jogo. Ele funciona pela internet, aparece em anúncio em muitos locais, então as pessoas conseguem o acesso por vários sites diferentes. É fácil de apostar, intuitivo e é viciante”, disse.


Ainda, segundo o delegado, o jogo tende a iniciar dando um retorno financeiro para o apostador, dando a falsa ilusão de que será sempre desta forma. “A pessoa acaba com a impressão de que está ganhando muito dinheiro com o pouco que investiu e aí começa a apostar cada vez mais e este é o momento em que o jogo começa a retirar os ganhos”, comenta Rafael.


No Capítulo VII das contravenções relativas à polícia de costumes, o inciso 3º do Art.50 considera, jogos de azar:
• jogo em que o ganho e a perda dependem exclusiva ou principalmente da sorte;
• as apostas sobre corrida de cavalos fora de hipódromo ou de local onde sejam autorizadas;
• as apostas sobre qualquer outra competição esportiva.
O Jogo do Tigrinho, assim como outros jogos de azar, pode levar a vícios, problemas financeiros, abandono familiar e até mesmo criminalidade. Além disso, o jogo e outras formas de apostas ilegais também alimentam a economia subterrânea, contribuindo para a evasão fiscal e o financiamento de atividades criminosas, como a lavagem de dinheiro e crimes sobre economia fiscal.


A psicóloga Daniele Pires Soares explica que o vício em jogos se iguala a vícios em álcool, cigarro e drogas. “Já atendi várias pessoas envolvidas com jogos de azar, tive paciente que trabalhou muito esta questão e ele acabou perdendo tudo o que ele tinha, trabalho família e, ao final de tudo, ele perdeu a vida, pois já não aguentava mais. Lutou bastante, mas acabou ficando sozinho, pois os jogos de azar são vícios e as pessoas não olham desta forma, ainda é repugnante, as pessoas pensam ‘você pode parar a hora que quiser’, mas nem sempre é assim, é igual qualquer outro vício e por isso precisa de ajuda, dos familiares, de profissionais”, explica.


SENSAÇÃO DA MUDANÇA DE VIDA
Daniele ainda explica que os jogos, principalmente os que estão disponíveis na internet, dão a falsa sensação da mudança de vida nos usuários, mostram falsos bens, falsas contas bancárias e acabam iludindo a população. “É tão bonito a sensação do ‘eu quero, eu posso’, pois as pessoas hoje acreditam que o trabalho diário não tem ganho o suficiente para arcar com todos os sonhos e desejos que o mundo impõe. Nós precisamos de bem menos para viver e ter uma vida boa, mas, ultimamente, as pessoas querem muito enriquecer, ter bens, vestir marcas, serem famosas e sempre buscam mais, tudo através dessas oportunidades que internet mostra, mas não através do trabalho”, comenta.


AS BETS
Embora medidas tenham sido tomadas para combater os jogos de azar ilegais, incluindo operações policiais e campanhas de conscientização, ainda existem jogos que são legalmente permitidos no Brasil, como é o caso das BETS. O delegado explica o que elas são: “A BET, como é chamada, é legalizada hoje no Brasil, não é um crime você apostar em um resultado do jogo de futebol, de basquete ou algum outro esporte, desde que não haja alguma conduta para alterar o resultado. Jogar ou ter a casa da aposta neste formato, não há nenhum crime nisso”.


Os sites de apostas como Estrela Bet, VaideBet, Betano, Blaze, etc, são casas online que permitem apostas em tempo real nos jogos de futebol e demais esportes. A diferença é que esses sites não influenciam, ou pelo menos não podem influenciar, nos resultados dos jogos, diferente do Jogo do Tigrinho, onde todo o formato é feito para que apenas um ganhe, no caso, a própria casa.


Contudo, o delegado faz um alerta: “minha opinião quanto ao Jogo do Tigrinho e aos jogos de azar é, não jogue, porque é feito para perder. Você vai perder dinheiro. Quanto as BETS, se você tem e se você gosta do teu time, por exemplo, ou gosta de apostar, aposte o dinheiro que você não precisa, um dinheiro que você já conta como perdido. Algo que você vai dispor como entretenimento e não como retorno, porque também não tem como você ter um retorno consistente com apostas”, finaliza.

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