Leão Marchinski: exemplo de luta e coragem

Texto: Caterina Balsano Gaioski, com informações de Helena Marchinski Gaioski e Valquiria Gaioski

Leão Marchinski, popularmente conhecido como Seu Léo, cidadão teixeira-soarense, fez jus ao nome pela garra, força, coragem e espírito de luta que lhe renderam, apesar das agruras pelas quais passou na infância e na juventude, muitas conquistas e grandes realizações.

Seu pai, Júlio Marchinski, foi oficial da marinha polonesa, estudou na Alemanha e se casou na Polônia com Joana com a qual teve dois filhos: Francisco e João. A exemplo de muitos outros poloneses, devido as grandes dificuldades que enfrentavam no seu país e levados pelas promessas de que aqui encontrariam fartura e abundância de terra, decidiu vir com a família para o Brasil.

Em 1910, após longa e penosa viagem, o navio com imigrantes poloneses, inclusive Júlio e a família, atracou no Porto de Paranaguá. Júlio, esposa e filhos foram então, a pé, de Paranaguá até Curitiba. Na capital paranaense, o governo do estado concedeu a cada família de imigrantes dez alqueires de terra.  Parte que coube a Júlio era um terreno infértil, em que, segundo ele contava, não cresceriam nem pedras. Com a recusa em receber aquela terra, deixaram a família à própria sorte, perto da cidade de Ivaí. Tendo em mãos algumas sementes de produtos de subsistência, uma foice e um machado, fornecidos pelo governo, cavou um buraco e cobriu-o com madeira, para que a família pudesse aí dormir. Aquele buraco tornou-se moradia da família por algum tempo. Tempos depois, a esposa Joana veio a falecer. Anos mais tarde, ainda em Ivaí, Júlio casou-se com Catarina Masgay. Com muita luta, mesmo enfrentando grandes dificuldades, Júlio conseguiu comprar dez alqueires de terra no município de Teixeira Soares, para onde mudou-se com a família.

Sr Leão Marchinski em frente a praça por ele idealizada (Foto: Acervo familiar)

No dia 13 de abril de 1920, nasce o filho do casal, a quem deram o nome de Leão. O menino crescia numa família em que só se falava o polonês, o que causava uma grande dificuldade na comunicação. Mesmo assim, Leão desde pequeno, começou a ajudar a família. Percorria quatro quilômetros a pé, para vender ovos, pinhão, a manteiga que a sua mãe fazia e eventualmente, alguma sobra dos produtos de subsistência. Leão recebeu em casa uma educação rígida, íntegra, baseada na profunda religiosidade, própria das famílias polonesas, o que sempre norteou a sua vida. Com a família numerosa, composta de nove irmãos, Leão, aos 16 anos, teve que trabalhar e ajudar no sustento da mesma. Trabalhou duramente, cortandomadeira, transportando com tração animal as toras de pinheiro da localidade de Guaraúna até Fernandes Pinheiro, onde as empilhava as margens da estrada de ferro para serem vendidas. Chegando na idade de servir o exército, engajou-se na vida militar. Seu contingente fazia a guarnição do litoral do Paraná, desde Antonina, Guaratuba e Ilha do Mel. Com o evento da Segunda Guerra Mundial, foi recrutado para pracinha da FEB – Força Expedicionária Brasileira. Enquanto aguardava o embarque para a Itália, entrou numa capela, e com a religiosidade que lhe era peculiar, pediu fervorosamente a proteção divina. No Rio de Janeiro, com o navio prestes a zarpar para a Itália, a viagem foi abortada, pois chegara a notícia do fim da guerra.

Mesmo não tendo participado da guerra, Leão sentia um certo orgulho de ter-se colocado à disposição da sua pátria. Retornando do Rio de Janeiro, Leão reiniciou a sua labuta no corte e venda de madeira.

No dia 04 de junho de 1946, casou-se com Ana Bzuneck e dessa união nasceram oito filhos: Raimundo (in memoriam), Adélio, Helena, Romeu, Marlene, Rosa, Leonilda e Inês. Com muita luta, graças ao seu espírito empreendedor, Leão, Ana e os filhos foram prosperando. Com o cultivo da erva-mate, chegara a ter 12 famílias agregadas para realizar este trabalho. Cultivou batatas, milho e foi o precursor do plantio de soja no município, tornando-se um próspero agricultor, proprietário de grandes áreas de mata, com abundantes araucárias e erva-mate.

Atuante em quase todos os segmentos da sociedade local, respeitado e reconhecido como benfeitor das entidades civis e religiosas, foi incentivador do cultivo às origens étnicas, tendo participado ativamente na implantação do Núcleo da Braspol (Brasil/Polônia) em Teixeira Soares. Leão ficou viúvo e algum tempo depois casou-se com Dalva Dias, com quem conviveu por 30 anos, até que em 10 de março de 2016, aos 96 anos, veio a falecer, deixando, além dos filhos, 20 netos, nove bisnetos e títulos como Cidadão Benemérito de Teixeira Soares e Agricultor Pioneiro do Município, este foi-lhe concedido pela SEAB.

Sr. Marchinski recebeu o título de Cidadão Benemérito de Teixeira Soares (Foto: Acervo familiar) 

Um homem de mãos calejadas que venceu na vida com trabalho, honestidade e fé, valores que repassou aos seus descendentes que hoje fazem parte da vida sócio econômica do município, com seus empreendimentos agropecuários. Leão, dentre os muitos legados que deixou para o município, fez uma praça com a imagem de um soldado, em tamanho natural, como homenagem aos pracinhas da FEB – Força Expedicionária Brasileira. A praça que leva o nome do idealizador, Leão Marchinski, fica à Rua Domingos Molinari, em Teixeira Soares. Foi sepultadono cemitério municipal de Teixeira Soares.

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