Wladislau Wasilewski – um grande empreendedor de Irati

luís Duílio Fillus

Foi em 1911 que KAZIMIR ANDREJEW WASILEWSKI, avô de Wladislau (Vadeco) Wasilewski, patriota que lutou na guerra da Criméia contra os turcos, durante o governo de Alexandre II Czar da Rússia, recebeu uma notificação do governo russo de 100 rublos. Por não ter mandado os netos à escola russa e ministrado a eles, às escondidas, aulas de religião em língua polonesa, o que era proibido. Este valor era muito alto pelas posses que tinha de um agricultor doente em consequência das privações e sofrimentos sofridos durante a guerra. Foi quando recebeu a carta de seu filho Teóphilo, informando sobre a fertilidade das terras da região de Irati, no Paraná, sul do Brasil.
Prepararam os papéis e documentos, no máximo sigilo e suborno de funcionários públicos. Arrumaram baús, malas e bagagem rapidamente, e ao anoitecer de 4 de novembro de 1911, com lágrimas nos olhos, deixaram a aldeia de Plonka, distrito de Rudnik. Viajaram de carroça 115 quilômetros até Bilgoraj, fronteira da Áustria. Passaram sem problemas, com os “documentos em ordem”. Em Rzeszow embarcaram no trem da linha Lwow- Krakow. Krakow, ou Cracrovia, estava sob o domínio austríaco. Foram então para Bremen, porto da Alemanha, no mar do norte, para embarcarem para o Brasil. De sua aldeia Plonka até Bremen levaram seis dias de viagem.
A família Wasilewski, ao sair da Polônia, deixou para trás, sem vender, as propriedades e bens, para não despertar a vigilância das autoridades russas. O dinheiro das despesas da viagem foi guardado durante anos, em dólares americanos pelo filho Nicolau, e outra parte em rublos pelo restante da família. Pagaram seis rublos na passagem de trem por pessoas. Esperaram oito dias pelo navio, acomodados em hospedaria em Bremen. Compraram passagem de navio na terceira classe, com direito a cabine de quatro beliches por 45 rublos por pessoa. Embarcaram:
Kazimir Andrejew Wasilewski, avô com 66 anos; Maria Zabloska Wasilewski, avó com 63 anos e seus filhos; Francisco com 32 anos e Nicolau Wasilewski, pai do futuro Wladislau, com 36 anos; Anastácia Wasilewski, mãe com 33 anos; e os filhos João, com 13 anos, Maria com 7 anos e Francisca com 3 anos.
O navio alemão, Erlangem, da companhia Norddenfldjen Loyd Bremen, com quase 3000 pessoas, deixou o Porto de Bremenhaven dia 18 de novembro de 1911, atracou durante três dias em Artuérpia, na Bélgica, para reabastecer. Lá, Nicolau comprou duas espingardas belgas de cano duplo, munição, sementes de hortaliças e algumas roupas. Pararam também em La Coruña, Espanha, Lisboa, Portugal. Foram 20 dias navegando até Rio de Janeiro, Brasil. A viagem foi difícil, ventos e tormentas balançavam o navio, onde crianças e velhos, choravam e gritavam de medo. A falta de ventilação sufocava. O cardápio era pão com café pela manhã. No almoço era servido batata cozida, repolho, peixe ou carne. E no jantar pão com chá. A sede era intolerável, mas a água era salobra acondicionada em barris de madeira com gosto horrível.
Na chegada ao Rio de Janeiro, em 20 de dezembro de 1911, ficaram em quarentena por seis dias na Ilha das Flores. Feita triagem, embarcaram no Loyd Brasileiro até Santos, dois dias, e depois de trem até Curitiba. Em Curitiba ficaram três dias descansando alojados em barracões para emigrantes. Estavam destinados a se fixar pelo governo brasileiro em Cruz Machado, mas devido a epidemia de tifo e disenteria, optaram por assentar-se na vila de Irati, onde o terceiro filho de Kazimir, Teophilo, já morava com sua família. Chegaram a Irati em 31 de dezembro de 1911. Foram 57 dias de viagem.
Teophilo, terceiro filho de Kazimir, morava na serra dos Nogueiras, onde hoje é o “Clube da Serra”. Com sua primeira mulher Stanislawa, teve Kazemira e Bogdan, depois da morte desta, casou com Catarina e teve três filhas: Bronislava, Genoveva e Alexandra.
Kazimir, o avô, comprou alguns alqueires de terras em Cochinhos, Irati, onde não tinha plano de colonização oficial, e a família adaptou-se a situação existente. As terras eram baratas e férteis, com pinhal e erva mate. Trocou com um caboclo, um lote de terra na encosta do “morro da Santa”, próximo a cidade, por uma espingarda belga. Lá construiu a casa de madeira lascada de pinheiro, perto do armazém da Estrada de Ferro, onde havia outras casas, casas de comércio, bodegas, açougues, panificadora e correio. Era grande o movimento nas ruas.
O avô Kazimir e a avó Maria mudaram-se para a chácara em Cochinhos. E na casa da cidade moravam Nicolau, sua esposa Anastacia, e seus filhos: João, Maria e Francisca. Nasceram depois Wladislau, nosso avô, Joana, Helena e Henrique.
Kasemir, junto com os filhos Francisco e Nicolau, comprarem a padaria do Domingos Sebastião, patrão de João, filho do Nicolau, onde já trabalhava por dois anos. Anexo à padaria, instalaram um botequim. O negócio deu certo e prosperou.
Francisco voltou à Polônia para lutar na Primeira Guerra Mundial, e deixou sua parte da padaria e suas economias para que Nicolau cuidasse dos pais até a morte.
Nicolau Wasilewski não era um homem rico, era igual aos outros emigrantes que aqui chegaram em busca de terra, igualdade de direitos e paz para trabalhar. No pósguerra, em 1922, ele voltou à Polônia, já independente, para vender os bens e propriedades da família. O país estava falido e nada tinha preço. O pequeno valor apurado com a venda, mal cobria a passagem de volta ao Brasil. Precisou pedir ao seu filho João, para mandar-lhe mais dinheiro para o retorno.
Wladislau Wasilewski nasceu em 24 de agosto de 1912, em Irati, seu registro de nascimento só foi feito em 1913. O cartório era em Imbituva. Era filho de Nicolau e Anastácia Wasilewski. Wladislau e o primo Bogdan entregavam pães, da padaria da família. Que posteriormente ficou para o João.
Na infância e juventude, ele e dois amigos eram conhecidos como os trêsVadeco: Vadeco (Vadinho) Grichinski, Vadeco Basílio e Vadeco Wasilewski. Coincidência ou não, todos casaram com moças de nome Emília.
Desde cedo, Vadeco, além de entregar pães, comprava e vendia cavalos, e os domava. Adorava a chácara em Cochinhos, onde foi tomando gosto pela leiteria.
Casou com Emilia Bogusgevski, filha de Conrado e Felícia Bogusgevski. Foi morar em Cochinhos, onde nasceram Alda e Matilde. Quando Alda tinha cinco anos e Matilde três. Wladislau comprou terras do Sr. Padilha e vieram morar em Nhapindazal. Depois nasceram: Casemiro, José Vitor, Clarice (morreu com 11 dias – meningite) e Luiz. Continuou como domador de cavalos, compra e venda, criação de porcos, açougue/matadouro, produzindo carnes e linguiças e leiteria. Tempos felizes, em que no domingo as famílias se reuniam para o almoço na casa de Wladislau e Emilia, entre elas, famílias Fornazari, Grichinski, Sekula, Sabat, etc.
Junto com o sobrinho Julio Wasilewski, filho de João Wasilewski e Madalena Burko, e outros fundaram a LATISUL, cooperativa de leite. Foi o primeiro comprador de vacas holandesas da família Dijkstra de Carambeí. Sempre viajava para lá a fim de se atualizar no manejo e qualidade de leiterias. Participava de exposições de gado no parque Ney Braga, em Curitiba. Um pioneiro, tudo tinha que estar cuidadosamente limpo. No capricho desde estrebarias, quintal, casas e paióis. Ajudou os filhos como pode.
Emília morreu em 4 de outubro de 1981, ficou muito abalado.
Wladislau, popular Vadeco Wasilewski, viúvo, então começou com criação de carneiros, juntos com seus companheiros de exposições: Leondi Zarpelon e Romeu Zanlorenzi.
Dedicava-se à fruticultura. E cada vez que um sobrinho Grichinski, ou netos viajavam ao exterior, tinham que traze-lhe como presente: sementes de hortaliças, frutas e verduras. Gostava de dançar, rir da vida, viajou bastante, viveu… faleceu em 16 de dezembro de 2006, aos 93 anos.

Vadeco e filhos: e/d: Alda, Matilde, Casemiro (Zuto), José Vitor (Zeca) e Luiz Alberto – Foto: Acervo Familiar
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