Saiba o que é a apneia obstrutiva do sono

Estima-se que 1 bilhão de pessoas sejam afetadas em todo o mundo

Dr. Bruno L. Alencar
Otorrinolaringologista
CRM 18299 RQE 13511

A apneia obstrutiva do sono (AOS) é comum e sua prevalência está crescendo por causa do aumento na prevalência de obesidade. Estima-se que 1 bilhão de pessoas sejam afetadas em todo o mundo; a maioria delas não é diagnosticada nem tratada. Algum grau da apneia obstrutiva do sono com sintomas está presente em 8 a 16% dos adultos. A apneia obstrutiva do sono é até 4 vezes mais comum em homens e 7 vezes mais comum entre indivíduos obesos (isto é, com um índice de massa corporal [IMC] ≥ 30).
As manifestações clínicas, o tratamento e o prognóstico variam de acordo com o sexo e a idade.


Fisiopatologia da apneia obstrutiva do sono (AOS)


A apneia obstrutiva do sono compromete a anatomia das vias respiratórias superiores durante o sono. O sono desestabiliza as vias respiratórias superiores, acarretando obstrução parcial ou completa da nasofaringe, da orofaringe, ou de ambas. A permeabilidade das vias respiratórias tende a oscilar, provocando períodos recorrentes de apneia e recuperação.


A obstrução causa múltiplos episódios de apneia ou hipopneia, que levam à hipóxia e à hipercapnia, as quais prejudicam o sono normal, com despertares parciais ou completos dos sonos, movimento não rápido dos olhos (N REM) e movimento rápido dos olhos (REM). Esforços inspiratórios contra vias respiratórias superiores fechadas provocam oscilações na pressão intratorácica que afetam o desempenho cardíaco. Ocorrem disfunção endotelial e de neurotransmissores. Todos os fatores interagem para produzir morbidade e mortalidade significativas.


Transtornos relacionados


Formas menos graves podem não produzir dessaturação de oxigênio, mas interrompem o sono.
A hipopneia obstrutiva do sono é uma doença em que o fluxo inspiratório é menor, mas não ausente, em uma via respiratória de alta resistência.


A síndrome de resistência das vias respiratórias superiores é um ronco crescente que termina com roncos e despertares relacionados ao esforço respiratório (DRERs). As reduções na respiração não atendem a critérios específicos para apneia e hipopneia obstrutivas. Pacientes com síndrome de resistência das vias respiratórias superiores são tipicamente mais jovens e menos obesos que os pacientes com apneia obstrutiva do sono. Os pacientes são mais frequentemente do sexo feminino, relatam fadiga e se queixam de insônia. O ronco e a resistência do fluxo de ar das vias respiratórias superiores provocam inspiração ruidosa, mas sem despertares do sono com duração > 2 segundos. Sintomas, avaliação diagnóstica e tratamento do ronco e da síndrome da resistência das vias respiratórias superiores são semelhantes aos da apneia obstrutiva do sono.


Complicações
A apneia obstrutiva do sono é a principal causa clínica da sonolência diurna excessiva. Um termo mais correto é sonolência excessiva ao acordar, pois as pessoas que trabalham à noite podem estar excessivamente sonolentas durante a noite. A sonolência excessiva aumenta acentuadamente o risco de acidentes automobilísticos, dificuldades no trabalho e disfunção sexual. Frequentemente, ocorre algum grau de comprometimento cognitivo e também maior risco de lesão (p. ex., ao operar máquinas pesadas ou ao se envolver em outras atividades durante as quais episódios de sono não intencionais seriam perigosos). O relacionamento com parceiros de cama, companheiros de quarto e/ou colegas de casa também pode ser afetado negativamente porque essas pessoas podem ter dificuldade de dormir por causa do sono ruidoso e agitado do paciente. A apneia obstrutiva do sono grave (índice de apneia-hipopneia > 30/hora) aumenta o risco de morte em homens de meia-idade.


A AOS também tem riscos clínicos não relacionados com a sonolência excessiva. A hipertensão está fortemente associada à AOS. Pacientes normotensos com AOS não tratada têm maior probabilidade de desenvolver hipertensão 5 anos depois do diagnóstico. A hipóxia noturna repetitiva e a interrupção do sono estão associadas a um risco aumentado de doenças clínicas como insuficiência cardíaca, fibrilação atrial (mesmo após ablação por catéter) e outras arritmias, fígado gorduroso não alcoólico e acidente vascular encefálico. O risco de acidente vascular encefálico e mortalidade por todas as causas aumenta mesmo quando controlados outros fatores de risco (p. ex., hipertensão, diabetes). Entretanto, a contribuição da AOS para essas doenças comuns (e, portanto, o custo para a sociedade) muitas vezes é subestimada.


Além disso, complicações perioperatórias, como parada cardíaca, ocorrem na AOS não reconhecida, porque anestesia geral e moderada é um risco de obstrução das vias respiratórias. Os pacientes devem informar o anestesista sobre o diagnóstico antes de se submeterem a qualquer cirurgia e receberem pressão positiva contínua das vias respíratórias (continuous positive airway pressure, CPAP) ao utilizarem fármacos no pré-operatório e durante a recuperação.

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