Estímulo ao empreendedor

Por Newton Bonin

Toda conquista começa com a decisão de tentar. Esta frase é bastante conhecida e cabe para várias situações das nossas vidas, mas na minha visão é a síntese do espírito empreendedor. Uma das principais características do empreendedorismo é a perseverança e foi com esta atitude que iniciei minha história empresarial. Vou dividir um pouco desta trajetória como forma de incentivar quem lê este texto a perseguir seus sonhos.

Desde menino, na década de 1970, sempre ajudei meu pai nos afazeres diários. Ele tinha uma pequena representação comercial na área de cosméticos e, na época, as vendas aconteciam de porta em porta. Além de vender, era obrigação entregar os produtos aos compradores. O trabalho pesado, de carregar e descarregar caixas, era tarefa minha. Foram anos de muitos sacrifícios pessoais, mas também de muito aprendizado.

Chegou um tempo em que decidi procurar outras formas de ganhar meu próprio sustento, mas sempre atuando na área comercial. Na década de 1980, alcancei uma boa posição profissional na Olivetti (coloque este nome no Google para ver o tamanho e a importância que tinha esta empresa para a economia mundial naquela época). Passei ali bons anos, mas a vontade de empreender falou mais forte.

“Uma das principais características do empreendedorismo é a perseverança e foi com esta atitude que iniciei minha história empresarial.” – Newton Bonin

Deixei a multinacional para voltar a trabalhar com cosméticos. Desta vez, contudo, não apenas como vendedor, mas sim como fabricante de produtos para o cabelo. Juntei economias, aluguei uma casa em Curitiba e comprei uma Kombi. Em paralelo, um amigo químico preparou as fórmulas para a produção de shampoos, cremes e tinturas. Tudo era feito numa garagem, com a ajuda de uma batedeira industrial e muito cuidado para garantir a qualidade dos produtos.

Depois de finalizado o processo industrial, que incluía a embalagem, era hora de levar as encomendas para os salões de beleza, nosso público prioritário naquele início de atividades. Além da Kombi, enfrentamos e vencemos muitos percalços e obstáculos. Felizmente, conseguimos deixar para trás as dificuldades, mas na base de muita força de vontade e organização.

Empreender exige obstinação e planejamento


Passados 37 anos, aquele negócio de garagem se transformou numa grande fábrica, de onde saem anualmente milhões de itens de beleza, todos caprichosamente produzidos por um time de 800 colaboradores. São produtos que conquistaram reconhecimento e respeito no Brasil e no exterior. A empresa é a Beauty Color, uma indústria voltada a atender o universo feminino, com linhas para tratamento de cabelos e unhas.

Conto esta resumida história para mostrar que é possível empreender e conquistar objetivos. Sei que sou um entre muitos que saíram praticamente do zero para alcançar uma condição econômica mais confortável. Acredito que em comum, tivemos respeito a um traço essencial de um empreendedor, a obstinação. Aliado a isso, é necessário desenvolver a criatividade e buscar inovações. Isso não significa inventar algo, mas sim transformar aquilo que existe em algo melhor e de maior valor agregado.

A receita do empreendedorismo também contém boas pitadas de coragem para correr riscos, planejamento para lidar com as adversidades e eficiência para organizar a empresa e oferecer produtos diferenciados ao consumidor. Isso vale para quem produz bolos por encomenda, ou para quem tem uma loja de roupas, ou para quem está na indústria ou atua como prestador de serviços. Ou, ainda, para os que trabalham com novas tecnologias numa startup.

Para ir adiante é preciso dar o primeiro passo


É necessário compreender que o sucesso empresarial dificilmente ocorre na rapidez que desejamos. Na fase inicial, o empreendedor deve ter em mente que, para chegar onde quer, é necessário estabelecer etapas e perseguir objetivos. Para levar as ideias para a frente é fundamental dar o primeiro passo, mas sabendo para qual rumo está seguindo. Para isso é preciso elaborar um mapa de orientação.

Felizmente, o brasileiro é um empreendedor. No entanto, a decisão de empreender ocorre mais por necessidade do que por oportunidade. Esta é uma das razões de metade das empresas não sobreviverem nem cinco anos. A diferença dos dois tipos de empreendedor é que no primeiro caso os negócios são abertos sem um plano estratégico, e sim para solucionar uma repentina perda de renda. Na segunda opção entram as ideias bem mais estruturadas.

Quem empreende por necessidade merece respeito, e não tenho dúvidas de que todos reúnem condições de manter e progredir numa atividade empresarial. Ocorre que, se a decisão for investir em nichos de mercado com alta concorrência, será necessário um esforço a mais para estabelecer diferenciais que permitam crescer de forma sustentável. A expansão da empresa depende muito da capacidade de diversificar seus produtos e da busca contínua por qualificação gerencial.

“Para levar as ideias para a frente é fundamental dar o primeiro passo, mas sabendo para qual rumo está seguindo. Para isso é preciso elaborar um mapa de orientação.” – Newton Bonin

A taxa de empreendedorismo potencial no Brasil vem aumentando nos últimos anos. O número de brasileiros que não têm um negócio, mas estão dispostos a abrir uma empresa, cresceu 53% durante o período de pandemia e isso me animou a tratar do tema, como forma de oferecer algum tipo de estímulo.

No ano passado, 3,8 milhões de empresas de pequeno porte surgiram no País. Para 2022, é possível que este desempenho não se repita por ser um período de grandes incertezas em razão do impacto da alta da inflação e das taxas de juros. Entendo que são condicionantes que inibem o empreendedorismo.

A máquina pública precisa estimular o empreendedor


Por essa razão defendo que haja maior suporte do Poder Público para alavancar quem quer iniciar um negócio, principalmente no segmento das pequenas e micro empresas, que é por onde todo mundo começa. Ninguém nasce grande.

Meu entendimento é de que o País precisa avançar na desburocratização, na desoneração tributária e na oferta de crédito a juros baixos. A vontade de empreender existe e é um grande ativo nacional, por isso a máquina pública do Brasil também precisa contribuir.

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