Alzira, uma poetisa ao piano

Alzira Dembiski Bueno nasceu no dia 27 de setembro de 1923, em Imbituva. Filha de Maria e José Dembiski, foi casada com o Professor Antonio Erotides Bueno, com quem teve apenas um único filho, Antonio Dembiski Bueno.
Alzira aprendeu piano na Academia de Música de Ponta Grossa e foi professora primária na Escola Normal Colegial Nossa Senhora das Graças, no município de Irati. Estudou datilografia por correspondência na Academia Paranaense de Comércio, em Curitiba, e realizou cursos em diversas áreas como de Aperfeiçoamento em Língua Portuguesa para professores de primeira à quarta séries do Ensino de primeiro Grau; Curso de Treinamento de Pessoal em Administração Pública; Curso de Audiovisual e Curso de Parapsicologia.

Dembiski foi também professora da Escola de Aplicação Braz Calderari e Francisco Vieira de Araújo e lecionou piano por 60 anos, de 1939 a 1999, foi, também, instrutora de datilografia no SENAC. “Anseio e Mensagem”, seu livro de poemas lançado em 2002, revela sua sensibilidade, e o mérito de sua obra. Chegou a receber diploma por participação nacional no Dia da Ave (1970).

Em 1987, recebeu diploma do governo municipal, através do prefeito da época, Alfredo Van Der Neut. “Por relevantes serviços prestados à comunidade como cidadã comprometida na construção de uma sociedade mais justa, valorizando de forma digna a condição feminina, sendo uma mulher que conquista a admiração de todos pela sua capacidade e seu humanismo”, disse Alfredo.

Alzira teve como primeira professora de piano Malvina Barletta (que foi a autora da valsa “Uma Noite de Natal em Irati”) que marcou sua época como professora e pianista em Irati e região. Dembiski herdou alunos da professora Malvina e com aproximadamente 15 anos já dava aulas de piano. Sua primeira audição, com alunos, foi no Colégio Irati, e depois encantou-se pelo acordeon, o qual estudou sozinha, com um da marca Fratelli Gentilli de 80 baixos, e em sua primeira audição apresentou um conjunto com 20 acordeons, executando La Comparcita. No cinquentenário de Irati, apresentou o Hino Nacional e o Hino de Irati, onde acompanhou Tico Lopes e Silvio Ribeiro ao violino, cantado pelo Coral XV de Julho, no Cine Theatro Central.

Reunia em sua casa personalidades como o poeta Foed Castro Chamma, que cantava ao som de seu piano, bem como o capitão Marinho, maestro da Banda da Prefeitura. Segundo ela, Irati parecia uma só família.

Em outra ocasião reuniu para 3 audições, no Colégio Nossa Senhora das Graças, todos os pianistas de Irati. Esteve acompanhada pelo Frei Juarez de Bona.

Sua casa sempre foi admirada pela arquitetura eslava, com perímetro ladeado pelos lambriquis, fato que fez esta construção ser, depois de doada pela família, reconstruída na comunidade de Pinho de Baixo, onde transformou-se no Memorial ALZIRA DEMBISKI BUENO, a Casa Dei Nonni (Casa dos Avós), abrigando museu e parte da cultura italiana.

Nos últimos anos de sua vida residiu em Curitiba, onde faleceu a 1º de setembro de 2010.

Sobre a Autora

Será lembrada sempre como uma das fundadoras da ALACS – Academia de Letras, Artes e Ciências do Centro-sul do Paraná, onde ocupou a cadeira nº 18. Na posse, no dia 23 de novembro de 2002, recebeu o diploma de acadêmica da ALACS do presidente da Academia Paranaense de Letras, Sr. Tulio Vargas.

 

TARDE

Lânguida e serena
vai a tarde caindo
Repousam no seu grande ombro
as atividades do dia-a-dia.

Aves, em desordenado vôo
buscam seus ninhos.

O grande astro
na sua gloriosa púrpura
vai fechando suas pálpebras,

dando lugar à noite que desce
com seu negro manto
rebordado de miçangas

A natureza vai pouco a pouco
adormecendo.
E o pensamento na sua plasticidade
não repousa, não se detém

Divaga, esbate-se penetrando
na mais ignota região sideral
derramando da minha alma
pétalas de arpejos

Enquanto meu corpo estremece
como plumas da madrugada
cantando os amores
e os encantos da vida.

 

PARTIDA

Depois que partiste
procurei nos versos escrever
tudo que de bem existe
para o nosso simples viver.

Sozinha comecei a rezar.
A minha prece é curta
e o céu é o meu altar,
com lamparinas de estrelas
a balouçar.

A nossa grande estrela
que à tardinha piscava
comigo vinha conversar.

E atrás do morro mergulhava,
dizendo o seu Adeus
para amanhã voltar.

SE EU PUDESSE

Se eu pudesse

teceria na minha singela roca

gigantescas malhas

e vestiria o mundo todo

com a leve túnica da paz

 

Se eu pudesse

apagaria do cosmo

a guerra que embrutece

a fome que definha

a dor que dilacera

o frio que fustiga

o sofrimento que confunde

 

Se eu pudesse

ditaria todos os meus pensamentos

desenhando em cada um deles

as vibrações ascendentes

e descendentes

derramando alegria, amor, ternura

compreensão e saber

 

Se eu pudesse

transporia as grandes barreiras do mal

indo ao encontro de novos horizontes

buscando outros sóis

onde todos pudessem enredar-se em seus raios

e nas asas brilhantes da fé, da esperança

da caridade

vestir para sempre

a leve túnica da tão almejada paz.

 

Alzira Dembiski Bueno

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