El Niño pode voltar em 2023: entenda como o clima no Brasil vai mudar

Matheus Manente da Meteored | Tempo.com.

O ano de 2023 vai se iniciar com uma notícia que muda completamente o panorama climático do Brasil: Tudo indica que o La Niña vai se dissipar e, aos poucos, o El Niño tomará seu lugar, influenciando a estação chuvosa de 2023/2024.

Setores como o agronegócio e a geração de energia estão particularmente apreensivos com a notícia, pois o fenômeno é capaz de alterar o clima em todo o Brasil.

Mas afinal, será que um novo El Niño pode mesmo representar condições adversas e muito negativas para o país? Para responder a esta questão, precisamos primeiro entender sobre o que estamos falando.

O que é El Niño e quais são seus impactos?

Tanto o La Niña (que vem atuando neste momento) quanto o El Niño são ambos partes de um mesmo fenômeno atmosférico-oceânico. O termo técnico que os meteorologistas usam para se referir a ambos os eventos é El Niño Oscilação Sul (ENOS, ou ENSO em inglês).

Mapa de previsão de anomalia da temperatura da superfície dos oceanos para os meses de verão (JFM) indicam a presença de um La Niña no Oceano Pacífico Equatorial – Foto: Reprodução site Meteored

Como o próprio nome sugere, o ENOS é uma oscilação da temperatura da superfície do mar no oceano Pacífico Equatorial. Quando a região está mais quente, caracteriza-se um El Niño; quando está mais frio, uma La Niña.

Geralmente, El Niños se caracterizam por anomalias de +0,5°C ou mais, enquanto La Niñas são caracterizadas por anomalias de -0,5°C ou menos.

Apesar de ocorrer num local relativamente distante do Brasil, essa oscilação acarreta em mudanças climáticas de escala global. Isso significa que as chuvas e as temperaturas no Brasil podem mudar drasticamente graças ao ENOS.

O que as previsões de ENSO indicam para o país?

O gráfico a seguir pode parecer complicado, mas não é. Sua entrada são diversos modelos de previsão dinâmicos e estatísticos rodados ao redor do mundo. A quantidade de modelos prevendo ocorrência de La Niña são somados nas barras azuis; os modelos prevendo neutralidade se somam nas barras cinzas; e os modelos prevendo El Niño nas barras vermelhas.

Para os meses de Dezembro, Janeiro e Fevereiro (DJF) a barra azul é a mais alta e não há barra vermelha – o que indica que La Niña vai atuar e não há chances de El Niño.

Por volta de Março, Abril e Maio (MAM), a barra vermelha começa a ficar mais alta que a barra azul, o que significa que a probabilidade de ocorrência de El Niño já é maior que La Niña.

Na prática, isso significa que, por volta do trimestre MAM, um El Niño começará a se configurar, e vai se consolidar cada vez mais até o fim de 2023. O fenômeno deve impactar fortemente o clima brasileiro na segunda metade do ano que vem.

Climaticamente, o que podemos esperar da segunda metade de 2023?

Os últimos dois anos foram dominados pela ocorrência de La Niña. Então a primeira coisa a se considerar é que o cenário de 2023 vai mudar bastante. Por outro lado, o ENOS já está sendo estudado há muitos anos e a previsibilidade dos seus impactos é muito boa. Em anos de El Niño, espera-se os seguintes efeitos:

  • Região Sul: Chuvas intensas e frequentes e aumento das temperaturas médias;
  • Região Sudeste: Aumento moderado das temperaturas médias;
  • Região Centro-Oeste: Sem efeitos muito pronunciados, apenas chuvas e temperaturas acima da média no sul do Mato Grosso do Sul
  • Região Nordeste: Diminuição brusca das chuvas e secas severas.
  • Região Norte: Diminuição das chuvas, secas severas, aumento pronunciado de incêndios florestais.

Em outras palavras, o clima beneficiará bastante a região Sul e possivelmente Sudeste, com um aumento das chuvas e da temperatura que são benéficos aos setores do agronegócio e da energia, por exemplo; Mas prejudicará demasiadamente o Norte e o Nordeste, onde as secas podem trazer problemas graves de abastecimento de água.

A pluma de previsões de ENOS do modelo ECMWF também sugere um aquecimento do oceano Pacífico Equatorial e consequente configuração de El Niño ao longo de 2023 – Foto: Reprodução site Meteored

Vale considerar que há outros fenômenos climáticos em jogo cujos impactos também são importantes. É impossível, no entanto, prever seu comportamento com antecedência superior a alguns meses.

Por isso, conforme os meses avançam, será possível ter uma noção maior de como o ENOS irá interagir com as demais oscilações climáticas e afetar o clima no Brasil.

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