Em um ano, soja tem variação de R$78/saca e causa prejuízo ao produtor


Karina Ludvichak

A cotação da soja desta semana está em cerca de R$ 137 por saca, variando R$ 78 a menos do que no pico (R$ 215) de venda do ano anterior, isso representa uma queda de mais de 35% no valor de venda do grão, o que deve gerar prejuízos a maioria dos produtores, principalmente, os de pequeno e médio porte.
Segundo o Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes), o agronegócio representa mais de 30% do PIB do estado. O que significa que os únicos afetados com a queda nos valores de comercialização da soja não serão apenas os produtores, mas também a economia do Paraná.
O Departamento de Economia Rural (Deral) explica que a safra 2023/2024 causa incerteza aos agricultores. “Com relação às safras anteriores muitos agricultores já estavam realizando um pré-contrato com os fornecedores de insumos, situação que não vem ocorrendo atualmente, onde os mesmos vem aguardando as melhores ocasiões de preços e da oferta dos insumos. A questão do Plano Safra também vem trazendo especulações, sendo que muitos dependem desse recurso para custear a próxima safra”.

Supersafra, baixa taxa de câmbio, prêmio negativo, dificuldades no escoamento de grãos e boa produtividade nos Estados Unidos, são os principais motivos pela queda no preço de comercialização da soja na safra 2022/23.

Nós vamos ter que vender muito mais soja para ter que pagar a mesma conta

Airton Rigo Moretto


Eugenio Libreloto Estefanelo, professor na área da economia e agricultura, diz que essa queda já era algo esperado, pois se trata de uma questão de oferta e procura, e como existe muito do mesmo produto disponível no mercado, a tendência são preços mais baixos. “Da safra de 2021 para 2022 e 2023, nós tivemos um aumento na produção mundial de soja de cerca de milhões de toneladas, que poderia chegar até 375 milhões de toneladas se não fosse a quebra da safra da Argentina devido a seca e em parte do Brasil na fronteira sul”, explica Estefanelo.
Ele destaca, também, que uma boa safra dos EUA, que é o primeiro plantador de soja mundial, é um dos motivos para a queda no preço da exportação, já que o clima no país está sendo favorável e é esperada uma boa safra para 2023/2024.
Este ano, o Paraná teve produção recorde de soja, com as colheitas na reta final, segundo o Deral, da Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento (Seab) estima-se que o estado produza mais de 22,37 milhões de toneladas em cerca de 5,76 milhões de hectares. Segundo dados divulgados pela Agência Estadual de Notícias do Paraná, este volume representa 15% da safra nacional, estimada em 153 milhões de toneladas, e um aumento de 83% comparativamente à safra 2021/2022.

Isso é uma coisa que, em 50 anos de agricultura, eu nunca tinha visto

Airton Rigo Moretto

Na safra anterior, o Brasil produziu mais de 123 milhões de toneladas, e o Paraná produziu 12,19 milhões de toneladas de soja. O Paraná é o segundo maior produtor de soja no país, com previsão de colher 20,7 milhões de toneladas na atual safra. O Brasil é responsável por quase 40% do que é produzido da oleaginosa no mundo.


CAUSAS DO BAIXO PREÇO
Outro fator importante para o mercado da soja é o “prêmio”, um sobre preço dado, em dólares, -2 ou +2, aos produtos dependendo da disponibilidade da mercadoria e as condições de acesso a mesma. “Antes os prêmios estavam positivos porque não existia mercadoria disponível no porto de Paranaguá. E nesta supersafra temos bastante mercadoria disponível, inclusive com problemas de escoamento”, esclarece Estefaleno.
Durante o escoamento da safra, no início do ano, alguns produtores encontraram dificuldades na BR-277, que liga o Porto Paranaguá aos demais municípios do Paraná, que por diversas vezes foi interditada devido aos deslizamentos que aconteceram em alguns pontos. Isso gerou atrasos na exportação do produto.

“Tivemos, este ano, uma safra de soja que nós enfrentamos uma dificuldade muito grande de logística de armazenamento. Isso é uma coisa que, em 50 anos de agricultura, eu nunca tinha visto. Uma restrição para receber soja como houve nessa safra. Isso é um grande motivo para desestimular o produtor rural”, destacou Airton Rigo Moretto, produtor e secretário de Agricultura de Rio Azul.

Paraná é o segundo maior produtor de soja do país e deve colher 20,7 milhões de toneladas nesta safra de 2022/2023 – Gilson Abreu AEN

Para o agrônomo Claudio Matheus Stanieski, do Mato Grosso, proprietário da Fênix Assistência Agronômica, os mais prejudicados são “produtores que não possuem armazém próprio – permitindo aguardar melhores preços para comercialização – e/ou tem contratos de venda travados, estas quedas são bastante prejudiciais para seu giro financeiro, ainda mais em tempos de altos custos de produção, isto sem levar em conta produtores que cultivam em áreas arrendadas”.


As baixas na cotação do dólar também afetam diretamente o valor da venda da soja por saca, já que o valor de exportação é calculado de acordo com a taxa de câmbio. “No ano passado, as taxas superiores a cinco reais contribuíram para um maior valor na venda do grão”, explica o professor Eugenio.

Monica do Rocio Andrade, professora de agronomia na Campo Real de Irati, diz que o baixo valor pode atingir diversos setores negativamente e positivamente. “De forma negativa vai afetar o produtor rural que tem como fonte de renda o grão, principalmente nessa safra em que o insumo estava mais caro, reduzindo a rentabilidade. Além disso, de forma indireta afeta os setores de prestação de serviço e produtos, uma vez que, haverá menos dinheiro circulando na economia. Porém, de forma positiva pode afetar os setores em que a soja serve de insumo, como a indústria alimentícia e cosmética, o preço mais baixo pode acarretar em um valor menor no produto final”, complementa a professora.
Ela destaca, também, que preço baixo pode afetar especialmente o pequeno produtor que precisa negociar sua safra agora, não tendo a opção de aguardar melhores condições. “Como consequência disso os pequenos produtores podem enfrentar diminuição de renda, endividamentos, redução no investimento da produção e desestímulo à produção”, finaliza Monica.

Para o produtor Denilson Penteado, de Imbituva, a queda no preço já era esperada por “questões políticas”. “A proposta do governo era derrubar os juros, mas isso não está acontecendo. Pelo custo que nós estávamos pagando, a soja tinha que estar em pelo menos R$ 180, que era uma estimativa que a gente tinha, mas como caiu para cerca de R$ 136, eu que alugo terreno, mal vai dar para pagar os custos. Não vai sobrar nada de renda para a gente”.

“Quem tem terreno para alugar, está pedindo um valor alto. Hoje, quem alugava por quantias de saca de soja por alqueire não está tendo rendimentos, por isso ele sobe o preço e compromete a vida do agricultor de planta. Tem que mudar bastante para que o povo possa se manter. Tem pessoas comentando que não vão plantar soja, pela dificuldade de se manter”, concluiu Denilson.

O secretário de Agricultura de Rio Azul diz que a safra 2022/23 traz dois pontos negativos. “Não é só a queda no preço da soja, mas também o preço de implantação da lavoura, onde estava tudo acima do normal”, observou ele a respeito dos insumos que estavam altos em 2022 devido a guerra na Ucrânia.

“Nós vamos ter que vender muito mais soja para ter que pagar a mesma conta. Tenho certeza de que todos os produtores têm contas, têm investimentos, parcelas de equipamentos, e contavam com certa quantidade de sacas de soja para pagar. Nós estamos terminando de colher uma safra que foi uma das mais caras dos últimos anos. E estamos vendendo nosso produto por um preço bem abaixo do que se praticou no ano passado. Situação bem complicada para o produtor rural”, finalizou Moretto.


OPORTUNIDADE EM IRATI E REGIÃO
Estefanelo conta sobre um caso em especial para os iratienses, que tem como alternativa o trigo e cereais de inverno. Ele destaca que os moinhos da região têm grande potencial na compra de trigo para a produção de farinha especial, que possuí um valor mais elevado no mercado, o que torna o investimento mais rentável para o produtor, tanto por uma questão de logística e menores investimentos para escoar o produto, quanto na diferença de preço em relação ao trigo comum. “Essa é uma vantagem dos produtores de Irati que outros, lamentavelmente, não têm”.
Em regiões com temperaturas mais baixas não existe a possibilidade de plantar milho durante o segundo semestre do ano, onde Irati se encaixa neste cenário. Na região norte do Paraná, para a segunda safra, a maioria dos produtores plantam milho ou trigo.
Estefanelo destaca de que se o clima for favorável, outra alternativa para os produtores da região é a cevada, que em condições boas pode gerar uma safra com baixo teor de amido, para a produção de malte, pois existem maltarias em cidades próximas ao município de Irati.
EXPECTATIVAS PARA 2024
O professor conta que os preços de comercialização de qualquer produto sempre variam, por isso, os agricultores não devem se preocupar. “O produtor deve ter muita cautela na hora de fazer investimentos que exigem muito desembolso de dinheiro. Devem planejar muito bem, fazer investimentos apenas necessários. Planejando dentro dos preços médios dos produtos e não esperando preços de pico como tivemos em 2022”.
A respeito da expectativa sobre o aumento nos preços de comercialização da soja, Estefanelo disse: “Os preços podem sim se elevar, mas só se tivermos uma quebra na safra dos EUA. Se houver um clima desfavorável para os países europeus e reduzir os produtos disponíveis, os preços vão subir. Mas eu diria que as chances do aumento de preços são limitadas”.

O secretário de Agricultura de Rio Azul comenta que espera que o próximo plano safra do governo traga taxas de juros mais baixas para que o produtor consiga compensar o desfalque. Um ponto positivo é a queda de quase 20% na venda dos fertilizantes e a baixa de preço nos demais insumos.

Eugenio ressalta a importância da diversificação da produção em época de plantio para reduzir risco de clima e de mercado. “Essa diversificação também é algo que veio para ficar e deve ser implementado pelos produtores, inclusive dentro de um sistema de integração de lavoura, pecuária e floresta, plantio direto ou rotação de cultura, manejo integrado de pragas e doenças. Coisas que reduzem custos e dão eficiência aos produtores e rentabilidade. Continuem na atividade!”.

“Particularmente, acredito que todo produtor que faz uma boa análise de custos de produção, irá investir na próxima safra de olho nos preços de venda futura, não comprometendo mais de 40% dos ganhos, mas sempre com boas expectativas para safra 23/24”, ressalta Stanieski.
“As expectativas para a safra que está por vir vão depender de fatores como novas tecnologias, preços, políticas governamentais e condições climáticas, o produtor está em fase de planejamento dessa nova safra, calculando riscos e probabilidades para aumentar a sua rentabilidade”, disse Monica.
O professor Eugenio diz que o valor de comercialização da soja voltará a subir, mas que isso ainda depende de muitas variáveis. Além disso, estimativas apontam que o estoque mundial estará em alta, o que pode dificultar a elevação dos preços. “Nós teremos em estoque cerca de 100 milhões de toneladas de soja que passará para a safra 2023/24”.

Deixe uma resposta

Seu endereço de email não será publicado.