Excesso de chuva causa prejuízos na safra de feijão

A grande quantidade de chuva das últimas semanas causou vários estragos, inclusive, nas safras, e principalmente na cultura do feijão, que não foi colhido a tempo e deixou o grão com perda de qualidade e quantidade na região de Irati, que é uma das maiores produtoras do Paraná.

O feijão da safra das águas é o primeiro grão a ser colhido na safra de verão no Paraná. Este ano, em todo o estado a expectativa de produção apontava para um volume de 284 mil toneladas, volume 10% abaixo de igual período do ano passado quando foram colhidas 316,2 mil toneladas.

Na região, o Deral ainda não tem os dados da colheita, estima que neste período, cerca de 30% da área seria colhido, e as perdas significativas, de mais de 90%, destas, com perda total. Os municípios mais afetados foram: Irati, Imbituva e Fernandes Pinheiro. Em Rio Azul, por exemplo, o secretário de Agricultura, Airton Rigo Moretto, informou que atribuiu, aproximadamente, uma perda de 30 % mais concentrada nas pequenas propriedades. Já os grandes agricultores, a maioria já havia colhido o grão e não teve tantos prejuízos.

Anselmo Wnuk é produtor de feijão e perdeu cerca
de 12 alqueires do grão. Foto: Jaqueline Lopes

O produtor do Rio Preto, em Irati, Anselmo Wnuk, que junto da família trabalham na lavoura desde 1998 na plantação de soja, e alguns anos optam pelo feijão, fizeram a plantação do grão nesta safra e tiveram prejuízo de cerca de 12 alqueires dos 18 plantados.

“Era uma boa promessa a safra, o preço estava muito bom, uma produção muito boa. A área de 18 alqueires, desde o início, teve um desenvolvimento muito bom, chovia regularmente. No fim da safra, no período da colheita, complicou. Começamos a colher e conseguimos um terço, aí começou a chover no resto da safra, e cerca de 12 alqueires a gente perdeu. Quando cessou um pouco a chuva conseguimos entrar com as máquinas, só que o grão perdeu um pouco da qualidade, ele brotou, mofou”, disse Wnuk. O agricultor decidiu secar e guardar em um depósito a mercadoria para vender posteriormente.

Anselmo destaca que a área que tem para o plantio é produtiva e esperava colher de 100 a 120 sacas por alqueire, e o que prejudicou-os 12 alqueires, pretendia colher 1.200 sacas, porém conseguiram mais ou menos 800 sacas a R$ 260/R$ 300. Desta forma, a família teve um prejuízo de aproximadamente R$ 250 mil que não entraram na renda.

O produtor rural ainda explica que o feijão é de uma cultura muito sensível e quando está maduro precisa ser colhido de forma rápida. Porém com as fortes chuvas nas últimas semanas, a umidade fez brotar e isso impactou diretamente na questão financeira do grão e das pessoas que apostam nele para o sustento.

O engenheiro agrônomo do Deral, Carlos Alberto Salvador, afirma que com o início da colheita já é possível estimar uma redução de produtividade de 7%. “É difícil encontrar feijão de boa qualidade e o excesso de chuvas prejudica a entrada do agricultor a campo. Algumas áreas no Estado com plantio de feijão estão sendo inutilizadas, como foi o caso de uma área com 250 hectares em Guarapuava que o produtor colocou o trator em cima da lavoura por causa da baixa qualidade dos grãos e baixa produtividade”.

O volume de chuvas prejudicou os agricultores e isso também foi sentido para aqueles que fazem a comercialização do feijão. O sócio-proprietário da Cerealista Malanski, Leonardo Köppe Malanski, diz que a mercadoria produzida reduziu e uma boa parte está com uma qualidade inferior e que isso pode encarecer o mercado. “A mercadoria boa e de qualidade acaba ficando mais cara no mercado, para gente poder comprar e colocar no pacote é mais difícil de encontrar e passar para o consumidor”, disse.

Este ano, a empresa paga quase o triplo do valor em uma saca, comparado a mesma época do ano passado, que custava cerca de R$ 130, hoje, o valor é de R$ 310. Com a qualidade inferior, o empresário comenta que precisarão buscar alternativas para suprir o mercado como comprar na Argentina ou nos Estados Unidos, mas com o dólar alto – em média R$ 5,43, poderá deixar o produto final mais caro para o consumidor.

No Paraná, o feijão de cor está sendo comercializado, em média, por R$ 262,00 a saca com 60 quilos, 9% a menos que em dezembro de 2020 quando o feijão era vendido por R$ 288,00 a saca. O feijão preto está sendo vendido, em média, por R$ 274,00, 3,2% a menos que em dezembro quando era vendido por R$ 283,00.

Qualidade do feijão foi comprometida por causa das chuvas. Foto: Jaqueline Lopes

PRÓXIMA SAFRA

O empresário Leonardo comenta que a próxima produção para o mês de maio, a safrinha, pode haver problemas, pois por causa das chuvas os produtores não conseguiram fazer o plantio e como demora cerca de 90 dias para o nascimento e colheita, pode pegar o início da geada, o que prejudicaria a safra novamente. “O que está no mercado hoje tem que atender o até maio, mas pode estar comprometido. Nos meses sequentes pode acontecer uma falta de mercadoria, porque é pouco, e a que virá para substituir atrasou”, destaca Malanski.

OUTRAS CULTURAS

De acordo com o Deral Irati, além da alta umidade ocasionada pelo volume significativo das chuvas, e dias nublados em grande parte do período, ocasionaram o agravamento da situação nas lavouras com quebras significativas de produtividade e perda total, principalmente da cultura do feijão. As estradas e acessos secundários as propriedades e lavouras, estão seriamente prejudicados em toda a região. Muitas lavouras com sérios problemas de erosão e rompimento de terraços.

Nas culturas do milho e da soja, as perdas deverão ser evidenciadas na produtividade, assim que inicie a colheita, que deve ocorrer nos próximos dias. Os produtores de olerícolas tiveram prejuízos na ordem de 40%, devido a perda por apodrecimento, principalmente em folhosas.

Na fruticultura, a cultura da uva estima-se que a perda foi de 20% da produção e também baixa no grau brix, desvalorizando o produto para a indústria do vinho.

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