Entrevista com Mauricio Alejandro Contreras Jara nascido no Chile e atual morador de Irati

Carlos Oliveira

A entrevista, realizada em fevereiro de 2023, fez parte do projeto de extensão “Rostos de Irati”, vinculado à disciplina Brasil Independente, do 3º ano do curso de História da UNICENTRO, câmpus de Irati, e ministrada pelo Prof. Dr. Carlos Eduardo França de Oliveira.

 A ideia central do projeto foi dar a voz para integrantes de grupos étnico-raciais que moram em Irati, mas que são pouco conhecidos ou valorizados por sua própria população. A turma, formada pelos acadêmicos Douglas Noetzold, Gabrieli das Graças de Oliveira, João Pedro Rigoni, Luana Molinari Taiok, Luis Henrique Moleta, Luiz Felipe Roza de Oliveira, Mathias Stasiak, Taiane Muller e Tais Dalzoto buscou lançar luz sobre as vivências e percepções da realidade local de Mauricio Alejandro Contreras Jara, 51, que nasceu no Chile e que vive há mais de vinte anos em Irati. 

Você já está no Brasil faz um bom tempo, cerca de 25 anos. O que motivou a migrar aqui para a região de Irati?

Eu creio que eu não sou originalmente um imigrante, sabe? Eu entendo que o imigrante é aquele que tem a intenção de ir trabalhar em outro lugar. Eu nunca tive a intenção de vir trabalhar, aliás só vim passar duas semanas no Brasil. Aí foi tão maravilhosa a sensação de conhecer algo novo, de estar lá em Curitiba, tão maravilhoso que eu quis ficar. E as portas se abriram tão bem para mim. E daí fui ficando por aqui, fui ficando e organizando a vida.

A primeira cidade que você visitou foi Curitiba, a passeio, mas o que te atraiu à Irati? Foi alguma ocasião ou o acaso?

O acaso não. Na realidade a minha ex-mulher é daqui. Então o que me atraiu não foi a cidade em si, eu não conhecia as pessoas daqui. O bom daqui de Irati que eu sabia que tinha era a faculdade. Me falaram assim: Irati é bom porque tem uma faculdade, mas isso não me atraía na época, então eu vim pra cápor causa dela, pensando em voltar para Curitiba um dia. Só que aos poucos eu fui me entrosando com a cidade, inclusive na parte de empreender para mim foi boa. Em dois aqui em Irati eu consegui um emprego, coisa que outras pessoas de Irati mesmo não conseguiam. Então eu pensei assim:em dois dias já estou empregado, então conhecendo outras pessoas e entendendo melhor a realidade daqui eu posso me dar bem. E comecei a trabalhar com confecções, ficando cada vez mais interessado com isso.

E como que foi seu processo de imigração? Você sentiu alguma dificuldade no começo ou consegui se adaptar bem à cidade e à cultura local?

Hoje para mim nada mais é surpreendente. Mas no início foi um choque cultural enorme, porque os costumes que se tinham lá no Chileeram muito diferentes dos daqui, tanto para se divertir, para se alegrar, até mesmo a forma como a gente expressa afeto, carinho etc. Agora eu vejo que está bem similar, talvez por causa da internet, mas no início foi um choque cultural enorme, por exemplo: os programas de televisão eram bem diferentes. Aqui tinham muito mais comercial do que no Chile. Era difícil, também, entender a cultura que está por trás das palavras, o que está por trás das frases, o que está por trás do que a pessoa queria. Entender as pessoas foi um choque, que exigiu uma forte adaptação. Mas hoje não.

Sabemos que o Brasil possui várias culturas, e essas diferenças aparecem nas diferentes regiões do país. Pensando nesse sentido, você acredita que trouxe do Chile algum traço cultural que ainda faz parte do seu cotidiano?

Eu diria que não (risos). Engraçado, eu diria não porque a cultura é assim, vamos dizer que por honrar o meu pai e minha mãe, horar o lugar de onde vim, o lugar que eu nasci e tudo mais, eu ainda tenho esse sentimento de honrar meu país. Eu acho que a cultura em que que eu nasci serviu no meu tempo, no lugar em que eu estava, e serviu para mim enquanto estive por lá. Mas não faz sentido nenhum pra mim manter, então se eu ainda tenho, eu sei que eu ainda tenho pra sempre é de repente no corte de cabelo, de repente nas roupas que eu passo usar, o sotaque é lógico que ficou. Talvez algum alimento, só que eu não diria que ficou na cultura, eu diria que ficou no meu subconsciente, são coisas que às vezes eu nem percebo e estou fazendo.

Como você foi recebido em Irati e quais foram as primeiras impressões que você teve ao chegar na cidade?

A recepção muito boa, sempre fui muito bem tratado. Muitas pessoas me ajudaram, muitas, muitas pessoas me deram conselhos e me abriram portas.O que me chamou muito a atenção foi o vestuário, que achei muito engraçado, muito chamativo. Só que na realidade você vai ver depois, o vestuário é uma coisa tão secundária… Hoje em dia o que eu procuro ver é o coração das pessoas.

Com o que você trabalha hoje em Irati?

Hoje eu mantenho um e-commerce, mantenho uma marca que se chama Amamos A Vida Real. Daqui a pouco essa marca vou passar para somente amamos. Eu convido as pessoas a criar designer personalizados principalmente para mochilas, pastas, bolsas, isso quando a pessoa cria o próprio designer, daí eu ajudo a pessoa a criar o designer e fabrico o produto que no caso ele criou. Claro que tudo isso tem o custo, o preço, o valor e tudo isso está dentro de um e-commerce, e a internet veio para ajudar nisso.

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