Setor de transporte escolar da região sofre com a pandemia

Há cinco meses parado, o setor de transporte escolar da região vem sofrendo grandes quedas no faturamento, com a frota toda encostada, os empresários buscam apoio dos governos para encontrar uma solução para o problema, pois estão com as contas bancárias zeradas e na fase de demissão de funcionários por não conseguirem manter a folha de pagamento.

A situação está complicada para todo o transporte no Brasil, de acordo com a Confederação Nacional de Transporte (CNT), até junho de 2020, a crise da Covid-19 levou à perda de 61.429 empregos com carteira assinada no setor de transporte. É o que pode ocorrer em Irati e região nos próximos dias ou meses.

Os contratos com as prefeituras funcionam com a prestação de conta das transportadoras por  quilômetros rodados, desta forma, sem trabalho, este valor é zerado. Outra alternativa seria as viagens de turismo, porém, quase tudo está fechado para visitação.

Segundo a pesquisa do SEBRAE e da ACIAI, realizada para mensurar os impactos da Covid-19 na estrutura econômica de Irati, feita em junho, houve queda de faturamento de 80% ou mais, de todos os estabelecimentos das áreas de transporte de pessoas, evento e Turismo/Hotelaria/Atrativos.

CRISE

A crise se instaurou nas empresas de Irati e região, como é o caso da Genesis Transporte, com mais de 60 veículos parados e 84 funcionários, a transportadora não vê outra saída a não ser a demissão, pois, não consegue mais crédito e fez todo o possível. “Nós esgotamos com os recursos de capital de giro, o que tínhamos de reserva se esgotou. Isso porque temos 84 funcionários e nenhum deles foi mandado embora, não temos mais reserva própria, já utilizamos os financiamentos que conseguimos, e, no momento atual, nós não conseguimos nenhum tipo de crédito, porque o banco avalia o faturamento, e nos últimos meses está zerado. Eles não têm uma garantia de que nós vamos retomar as horas e vamos conseguir arcar com esses créditos, por isso não conseguimos”, comenta o gerente da empresa, Anselmo Beraldo.

Mesmo participando do Programa de Manutenção do Emprego e da Renda, a empresa não tem mais condições de manter os empregos, e é provável que até setembro alguns colaboradores sejam mandados embora, se não houver nenhuma ajuda financeira. “Estamos entrando, infelizmente, na fase de demissão, não temos mais condições de segurá-los, a empresa não tem mais condições de arcar com os 30% e nem com o salário integral, nós dependemos do governo, se vier a prorrogar esse programa, mesmo assim, não temos uma tranquilidade. Nós estamos em uma situação que, hoje, seria reduzir os custos por meio das demissões”.

Algumas empresas venderam uma parte da frota para poder se manter, como é o caso da Riotur, transportadora de Rio Azul. No início da pandemia, dos 46 funcionários, 16 foram demitidos, e agora, sem nenhum valor entrando no caixa, os outros 30 poderão perder o emprego. A empresa também faz o transporte escolar e turismo religioso, e da última frota seis ônibus foram vendidos para os pagamentos.

“O déficit é muito grande, para ser sincero, a empresa poderia ser liquidada para serem pagas as dívidas. Seria um recomeço na hora que fosse retornar os trabalhos, e isso é uma dificuldade bem grande, não temos um planejamento, porque o governo não tem uma de volta às aulas. E isso vai adiando nosso problema como empresário”, comenta Vismar I. Ribeiro, proprietário da Riotur. Ele também destaca que não foi mexido na frota de ônibus para o transporte escolar, pois, se houver retorno eles terão que voltar ao trabalho. A Riotur é uma empresa familiar e completou 30 anos em 2019, o proprietário comenta que é uma situação triste, ver o sonho do pai, que começou o serviço, acabar, por ter que decretar falência devido à situação que enfrenta.  

Este cenário também pode ser visto em pequenas empresas, como é o caso de Éder José Borges de Souza, proprietário da Nattiva Transportes e Turismo. Ele, que já foi caminhoneiro, voltou ao ramo devido à pandemia. Sem trabalho procurou outra fonte de renda. Agora, viaja pelo Brasil com transporte de cargas para poder se manter, pois, o micro-ônbus e a van que possui estão parados, e era a única fonte de renda que tinha. “O meu faturamento bruto era em torno de mais ou menos de R$ 20 mil por mês, e agora foi a zero. A situação é complicada, acredito que para todos foi mais ou menos por aí, um mês com faturamento e no outro foi a zero, complicou para todo mundo do ramo de transporte escolar”. Souza tinha um funcionário na empresa, e também precisou demitir.

VALORES            

O secretário da Fazenda de Irati, Juarez Miguel da Silva, explica que o repasse para as transportadoras é dividido, 5% vem do Governo Federal, 20% do Governo Estadual, e o restante, 75%, é recurso do município. De acordo com ele, o valor do Estado não está sendo repassado desde abril, já o federal vem e é depositado em uma conta exclusiva, e o valor do município pode ser aplicado em outros serviços, que pode ser na Educação, e como estamos em uma pandemia, principalmente, para a Saúde

Em relação à ajuda por parte da Prefeitura, Silva comenta que tentaram fazer algo para colaborar com a transportadora, porém, não encontraram legibilidade. “Nós precisaríamos de lei municipal para que isso acontecesse e, após uma análise, verificamos que não poderíamos abrir uma lei exclusiva. A gente teve outros serviços que foram cortados, como o fornecimento de merenda escolar, entre outros que não estão sendo prestados devido à pandemia. Se a gente abrisse uma exceção não teria essa possibilidade, e seria injusto com as demais. A gente entende o momento que as empresas estão passando, é de dificuldade, mas não achamos na legalidade para colaborar com eles nos custos fixos. Manifestamos interesse, mas não houve possibilidade legal”, comenta.

POSSÍVEL SOLUÇÃO

Os empresários entendem a situação da pandemia causada pela Covid-19, e querem que somente retorne tudo quando houver segurança, tanto para os colaboradores quanto para os alunos, mas acreditam que poderia haver alguma negociação por parte dos governos para que eles possam reverter a situação.

Anselmo destaca que o governo deveria atuar em uma forma de manter os empregos, pois isso seria o mais importante, neste momento. “O adequado seria um apoio por parte do governo, não sabemos se isso viria a nível federal ou estadual ou municipal, de uma maneira manter os custos fixos a manutenção desses empregos, e mais um pouco de aporte, além do que o governo esta colocando, para que se mantenha, pelo menos, a empregabilidade. Não estamos falando das condições da empresa em si, mas que o governo colocasse em prática  um auxilio para a manutenção desses empregos”.

“A gente não quer o retorno enquanto não houver segurança, mas não existe nenhum auxílio do governo. Duvido muito que qualquer empresa no mundo consiga ficar um ano sem trabalhar e consiga sobreviver. Na minha visão, parece que os transportadores estão morrendo e estão morrendo calados, sem reclamar, tentando vender patrimônio, tentando sobrevier. É lógico que o tem a Covid-19, muitas empresas estão sofrendo, mas os transportadores são sempre esquecidos, somos os primeiros a parar e o últimos a voltar”, comenta Vismar.

Edér diz que precisaria de algo para que eles pudessem negociar com o banco, pois com o faturamento zerado não há crédito. “Se o governo fizesse uma lei que ajudasse nesta parte, abrisse uma negociação que a gente tivesse, com juro baixo ou zero. Acredito que é a única coisa que poderia fazer para ajudar”.

A CNT tenta uma forma de reverter a situação e nas pesquisas demonstra que é necessário um projeto de crédito para as transportadoras. “Existe urgência de um plano de socorro imediato às transportadoras que ofereça uma linha de crédito exclusiva e pré-aprovada, com taxas de juros reduzidas e carência estendida para as empresas de transporte devidamente registradas”.  Porém ainda não houve nenhuma manifestação por parte das autoridades.

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