Das florestas polonesas de árvores ”Osiny” aos pinheirais do Paraná

Karla Osinski Ferreira, Luciano Osinski (in memoriam) e Cláudia M.P. Zanlorenzi

Antoni Osinski e Michalina Antoszewkka vieram da Polônia para o Brasil, no ano de 1890. Antoni trabalhou na construção da estrada de ferro Ponta Grossa-Curitiba-Paranaguá, produzindo dormentes de madeira. Tempos depois, quando já tinha economizado algum dinheiro, ficou sabendo de um agrupamento de imigrantes poloneses que se formava perto de Ponta Grossa. Um lugar chamado Colônia Guaraúna, região de Ponta Grossa, e foi para lá que ele e sua esposa Michalina, com poucos recursos e muita coragem se dirigiram. Compraram uma gleba de oito alqueires, dedicaram-se à agricultura e tiveram sete filhos. Um deles foi Inácio Osinski, que nasceu em 10 de dezembro de 1901.
A família de Antoni e Michalina voltou para Polônia em 1919, ouvindo o chamado do governo polonês que, ao final da Primeira Guerra Mundial, apregoava para o mundo que esperava de braços abertos aqueles poloneses que migraram para o exterior e quisessem voltar. Para lá também retornou a família de José Grochowski, velhos conhecidos dos tempos em que moravam no Brasil.


Na Polônia, Inácio prestou serviço militar, servindo na arma de cavalaria. Foi também na Polônia, que as famílias Osinski e Grochowski reencontraram-se. Em uma das visitas dos Osinski para os Grochowski, a filha de Jose, Genoveva, perguntou a Inácio se ele queria casar com ela, naquele instante foi firmado entre os dois e entre as duas famílias um compromisso de casamento. Muitos anos depois, Genoveva contou às netas que casou com Inácio porque era o homem mais bonito que ela já tinha visto.
Os Osinski voltaram ao Brasil no ano de 1921, mas Inácio só retornou em 1924, quando se desligou do exército polonês. Foi também em 1924 que os Grochowski voltaram ao Brasil.
Inácio estabeleceu-se em Irati, a exemplo de seu irmão mais velho André, onde também veio morar a família do Sr. Jose Grochowski. Genoveva e Inácio, noivos desde o tempo em que estavam na Polônia, reencontraram-se em 15 de outubro de 1924, e casaram-se em uma pequena igreja de madeira, a Capela Nossa Senhora da Luz, onde hoje é a Praça da Bandeira.


Seu primeiro comércio na cidade de Irati foi uma padaria. A padaria Glória, na rua Sete de Setembro, onde nasceu Halina (a Hala). E depois, a ainda pequena família mudou-se para a Rua Coronel Grácia, final da rua Sete, onde nasceu Zuzana (a Zuza). Em seguida, Inácio construiu uma casa para residência e armazém, no prolongamento da Rua Coronel Grácia, após a ponte do Rio das Antas, para nova mudança, e nessa casa nasceu Luciano, mais tarde mudaram para uma casa situada ao lado do armazém, onde nasceram Alice, Irene (Nina) e Maria (Maricha).
A ponte do Rio das Antas marcava o início da estrada para Guarapuava. Passando na frente do armazém do Seu Inácio, essa estrada encontrava a colônia de imigrantes poloneses da Serra dos Nogueiras. Os Colonos tinham como principal referência de comércio o “negócio do Seu Inácio”, tanto pela proximidade, quanto pelo comerciante ser da mesma etnia dos imigrantes e falar polonês. Em seu comércio, era vendido o necessário para a subsistência dos colonos. Além desses produtos destinados à venda, também se comprava verduras, frutas e toda a sua produção de batatas, que era preparada em sacas de 60 quilos e transportada para a capital paulista, pela Rede Viação São Paulo-Rio Grande.
Após anos trabalhando como comerciante no “negócio”, Inácio construiu um moinho em frente à casa onde morava. Lá eram descascados arroz, trigo e centeio. Este outro empreendimento situava-se do outro lado da rua de sua casa. Após alguns anos de trabalho incessante, achou por bem arrendar o imóvel e as máquinas do moinho.
Um de seus hábitos era ir até o Correio diariamente e checar sua caixa postal, traçando um caminho onde encontrasse os conhecidos para conversar, era em sua caixa postal, que além da correspondência, apanhava também os jornais locais. Era comum ficar sobre a mesa redonda da sala de estar, cada um em sua época, os jornais “Correio do Sul”, “O Debate” e “Folha de Irati” além do jornal LUD, escrito em polonês, que vinha de Curitiba.
Coisa comum era encontrá-lo em sua cadeira de balanço na varanda de sua casa de cor amarela com detalhes em verde claro, ouvindo em seu rádio de pilha as notícias e partidas de futebol que eram transmitidas pelo rádio. Seu Inácio era torcedor do Iraty Sport Club e do Athlético Paranaense.
Com sua esposa Genoveva, mais conhecida como Dona Guenha, constituíram uma família unida, que continuou se reunindo, anualmente, no primeiro domingo do mês de dezembro para celebrar a vida, a união e o amor (no ano de 2020 a reunião não foi possível por causa da pandemia).


A filha Halina (Hala) Osinski casou-se com Tadeu Wasilewski, e dessa união nasceram Ricardo e Rozanna. Zuzana (Zuza) Osinski casou-se com Antonio Swkiech e tiveram os filhos,Helena, Henrique, Isabel e José Inácio. Luciano (Luccio) Osinski casou-se com Thalma Baggio, seus filhos são, Dulce, Antonio Carlos e Luciana. Alice Osinski casou-se com Eduardo Kulczyski e suas filhas são Marcia e Maciane. Irene (Nina) Osinski casou-se com José Orlando Petchak, Silvana e Claudia são suas filhas. Maria (Maricha) Osinski casou-se com Valmir Ferreira e suas filhas são Karla, Karin e Katia.
No prolongamento da rua Coronel Grácia, depois da ponte do Rio das Antas (hoje rua Professora Maria Ferrari), Seu Inácio e Dona Guenha construíram seu patrimônio e educaram seus filhos.
Hoje, esse lugar, muito estimado pela família e admirado pelas pessoas que passam por lá, continua mantido pela filha Nina, porém não mais com as casas típicas da arquitetura polonesa, mas sim um bosque, ou melhor, o Gajek Dziadka i Babcia. Muito mais do que um espaço bonito com pinheirais, entre outras árvores de décadas, flores e lago, é um lugar onde se concretiza a ancestralidade, a busca de um sonho de vida melhor dos imigrantes que vieram e auxiliaram na constituição do país e mais, a relação entre passado e presente, no movimento que é a vida.

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