Simão & Olga Hawryszko

Maria Havresko Molossi

Simão Hawryszko nasceu aos 16 de abril de 1891, em Loszinov. Casado com Olga Hendryk, tiveram dois filhos nascidos em Mikulince, na Europa: Miguel e Valdomiro.
Era o ano de 1923. As guerras assolavam os países europeus. As dificuldades e o medo apavoravam as pessoas e era preciso tomar decisões apressadas para não perecer.
A família Hawryszko residia em Mikulince e ali as invasões eram frequentes e o medo se instaurara em toda a família e parentes que residiam próximos.
Depois de longas conversas com o sogro, Simão e Olga tomaram a difícil decisão de largar tudo e vir para um país chamado Brasil, pois souberam que lá não havia guerras e que existiam muitas terras para serem cultivadas.
Assim que foi decidido apressaram-se em regularizar a documentação, juntando a papelada exigida para a liberação do passaporte.
Eis que aos 24 de maio de 1924 deixaram definitivamente seus familiares e pela última vez a terra onde nasceram e pela qual tinham tanto amor.
A companhados dos filhos Miguel, com 3 anos e 6 meses, e Valdomiro, com 11 meses, iniciaram a longa viagem de navio que duraria quase um mês. Foram 24 dias avistando tão somente céu e mar, pedindo a Deus que os mantivessem vivos e com saúde, pois no caso de morte seriam jogados ao mar.
Chegando no Brasil aportaram em Santos e depois de cumprir todas as exigências e normas para estrangeiros vieram de trem para o Paraná, especificamente, Irati. Esta, tornou-se então o nosso chão, a terra definitiva da família de Simão e Olga Hawryszko.
Depois de residir algum tempo em Riozinho vieram para a cidade e fixaram residência na Rua hoje conhecida como N. S.de Fátima, 261. Neste endereço, Simão e Olga viram nascer os filhos Paulo, Nicolau, Pedro, Antonio, João, Olga e Maria, completando assim nove filhos com Miguel e Valdomiro, nascidos na Europa. Dois de seus filhos, Miguel e João, escolheram a mesma profissão do pai.

Trabalho de pintura ornamental preservado. Casa de Rosangela Olkoski – Foto: Arquivo Familiar

Todos tiveram oportunidades e escolheram as mais diversas profissões; constituíram famílias na cidade de Irati assim como muitos netos e bisnetos que aqui hoje residem. Somente Paulo decidiu mudar para outra cidade, Maringá, já com sua família.
Simão trabalhou, inicialmente, como agricultor, depois, como auxiliar de pedreiro, na época da construção da Escola Apostólica São Vicente de Paulo e depois, quando teve oportunidade de pintar uma pequena casa, descobriu suas habilidades para lidar com pincéis, tintas e com o ser humano, uma vez que procurava sempre satisfazer o gosto de quem o contratava.
Nos anos 40 e 50 eram poucos os recursos que se apresentavam para os pintores de paredes, como Simão. Tudo era rústico e elementar. Ou o profissional recorria à sua criatividade ou não saía serviço aceitável. Simão, muito criativo, habilidoso e um tanto perfeccionista, já amando a sua profissão aprimorou seus conhecimentos com pinturas decorativas, criando seus próprios moldes em papelão e recortando lindas flores, arabescos que muito agradavam as senhoras de bom gosto. Estas pinturas eram feitas nas paredes de salas, varandas e também muito usadas no assoalho como se fossem lindos tapetes.

Esta técnica foi também muito utilizada em Igrejas e muitas delas receberam os cuidados deste pintor. Na sua estranha alquimia, com poucos recursos, misturava cores e com seus moldes muito bem cuidados criava magníficos desenhos, alvo de muitos elogios, que o deixava envaidecido. Foram mais de 40 anos dedicando-se à profissão, embelezando lares e Igrejas de Irati e de comunidades mais próximas, como Pinho, Caratuva, Riozinho e outras. Nestas localidades, era necessário hospedar-se nas casas de residentes locais, saindo de carroça na segunda-feira e retornando somente no sábado. Ainda hoje alguns desses trabalhos estão preservados e conservam-se depois de tantos anos, ainda muito admirados.
Simão era muito trabalhador e muito econômico, por isso conseguiu adquirir outros terrenos, uma vez que sonhava manter todos os filhos ao seu lado, pois eram os únicos laços de família que Simão e Olga tinham. Eles criaram e educaram seus filhos baseados nos valores morais e religiosos, sempre valorizando o país que os acolhera, tendo o respeito e a honestidade como lema de vida.
Sentiam-se felizes por terem constituído uma família numerosa, digna e batalhadora, mas nunca esqueceram sua pátria; choravam sempre quando lembravam de seus familiares com muitas saudades, porém nunca se arrependeram porque aqui no Brasil, especialmente em Irati, foram livres e puderam realizar aquele velho sonho do ano de 1924 que era criar seus filhos onde não houvessem guerras, onde as pessoas tivessem liberdade, onde cada qual pudesse exercer suas atividades, seguir sua religião e, acima de tudo, onde pudessem respeitar e serem respeitados.
Apesar de todas as grandes dificuldades, desde a comunicação, o aprendizado de uma nova língua, as guerras mundiais que assolaram o mundo, pode-se afirmar que a felicidade e a paz foram encontradas aqui na cidade Irati, Paraná, Brasil.
Simão Hawryszko faleceu aos19 de dezembro de 1970. Olga aos 15 de outubro de 1979. Em 2019, Simão Hawryszko teve seu nome perpetuado nominando uma das ruas do bairro Vila Verde.


Testemunho da poeta iratiense OLGA GRECHINSKI ZENI acerca de SIMÃO HAWRYSZKO:
“Muitas pessoas que conheceram Simão Hawryszko, tinham-no como “Simãozinho, o pintor”. Uma vez que ele descobriu sua vocação, o fez com técnica e com “novidades” para a época, criando, ele mesmo, moldes, para com eles pintar detalhes de flores e arabescos, dando ao ambiente um toque romântico/sofisticado; delicados detalhes que lhe rendiam mais trabalhos. Lembro do Sr. Simão pintando o casarão da família, na Serra dos Nogueiras.
Conheci-o já um Senhor!……desde o ano de 1932; naquela época com cinquenta e poucos anos de idade. Gentil, intrépido, possuidor de capacidades para serviços manuais, dedicando-se durante todo o período de sua existência ao trabalho de pintor. A lembrança traz um Senhor sempre ocupado em selecionar seus papéis, com desenhos próprios, para serem usados no embelezamento de salas, salões, peças domiciliares. Vejo-o, ainda, em minha mente, acocorado, procurando em seus papéis os mais belos modelos de desenhos (especialmente flores), que inseridos, aplicados nas paredes, firmados com grampos especiais, surgiam, após realizados, em lindas cachadas de flores, ornamentando o ambiente, ou seja, salas ou outras peças de domicílio que para isso fossem especialmente destinadas.Os anos se passaram e ainda algumas residências mais antigas ostentam este primor de trabalho em suas paredes e, em especial, em suas salas de visitas.
O tempo passou, mas o poderoso trabalho de uma beleza invulgar, incomum, permanece. Parabéns aos pósteros e à dedicada profissão; lembranças calorosas de artífices e embelezadores de ambientes familiares”.

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