Palestra do ano: comemoração dos 50 anos da Folha reúne mais de 1.200 pessoa em evento com Karnal

Kauana Neitzel

A Folha de Irati completou 50 anos de história no dia 21 de abril, em comemoração ao aniversário, o jornal e o Espaço Santo Fole promoveram a palestra com o renomado Leandro Karnal, um dos maiores pensadores brasileiros da atualidade. Com os ingressos já esgotados na semana da palestra, mais de 1.200 pessoas prestigiaram o evento comemorativo de aniversário.
O tema discutido pelo palestrante Karnal foi ‘A vida que vale a pena ser vivida’, onde abordou sobre relacionados ao dia a dia e como potencializar e focar em ações que são importantes em nossas vidas. Tudo isso com muito humor, arrancando por diversas vezes a risada do público. Em um segundo momento, ao final da palestra, foi realizada uma rodada de perguntas e entregue para Leandro Karnal, como forma de homenagem, uma medalha comemorativa aos 50 anos do Jornal.
A medalha comemorativa também foi entregue aos patrocinadores e apoiadores que tornaram este momento possível. Além de ser realizada uma homenagem especial a Moageira Irati, Produtos Paraná e Casa Choma por estarem presentes nas páginas da Folha desde sua edição número um, em formato de publicidade.
Karnal comenta que é uma honra estar em Irati na data de aniversário da Folha, o que torna ainda mais especial. A direção e equipe da Folha de Irati agradecem a todos que participaram de alguma forma do evento, só assim foi possível fazer dele um sucesso, que com certeza marca de forma nobre o início das cinco décadas de existência e circulação ininterrupta do jornal.

Durante o evento, equipe do Jornal Folha de Irati juntamente com o palestrante Leandro Karnal
Credito: Cesar Delong


A equipe da Folha de Irati teve o prazer de ter um bate papo exclusivo com Leandro Karnal, podendo sanar dúvidas de assuntos tão relevantes e discutidos na atualidade, como educação e as formas de comunicação. Confira a entrevista:


Quando anunciamos a palestra com o Karnal, vimos uma enorme aceitação do público. Como você se sente sabendo que lotou o espaço e sendo o palestrante que marca os 50 anos do Jornal Folha de Irati?
“É uma grande alegria percorrer o Brasil, porque eu noto que por piores que sejam as notícias políticas de administradores pelo país, a população brasileira tem uma vontade enorme de conhecimento, de crescimento, de busca. Este fenômeno que nós vemos em Irati das pessoas estarem aqui, à noite, é um fenômeno que se repete pelo Brasil, em grandes centros, médios e pequenos. É muito bom, é muito interessante. Eu tenho uma profunda esperança no Brasil, porque eu lido com a população brasileira, eu tenho menos esperança de fazer vistos aos dirigentes brasileiros”.


Em relação ao tema da palestra “A vida que vale a pena ser vivida”, como você enxerga a sociedade, a qualidade de vida das pessoas no pós-pandemia? No que diz respeito ao trabalho, aos relacionamentos, as formas de liderança…
“As pandemias elas têm em história uma função, elas aceleram a história. Pandemias, guerras e evoluções fazem com que coisas que são lentas, pouco notáveis fiquem rapidamente notáveis. Você já tinha feito alguns anos reuniões virtuais. Você já tinha assistido palestras na internet. De repente, por quase três anos nós fomos afogados em um mundo virtual. Acontece que acelerando esse processo, ele acelera também o isolamento. Isolou pra quem podia fazer home office e alunos fazendo aulas virtuais. É muito difícil ir numa casa e você ter home office, a casa e uma escola, isto fez com que aumentassem alguns sintomas das pessoas que já tinham uma tendência, inclusive de desequilíbrio mental. Nós temos um susto de ansiedade, de insônia, de excesso de bebida de álcool. Isso acontece no Brasil inteiro, então é um pouquinho o momento de a gente parar no pós-pandemia que ainda existe, mas naturalmente mais fraca graças às vacinas, possa avançar e pensar o seguinte: o que nós aprendemos?Como recuperar a saúde mental das pessoas?Como achar um novo modelo de escola?Como fazer a economia voltar a andar?Como é estar vivo e bem nesse mundo pós-pandemia, a partir do conceitoque é a linha da palestra, como é uma vida bem sucedida, uma vida que vale a pena ser servir”.


O senhor é um historiador e uma referência na área da educação, como o senhor vê o ensino e os desafios no século em que vivemos?
“Está muito difícil, ser professor hoje, muito mais difícil ser pai ou até ser uma liderança no século XXI. No caso específico das crianças, o que houve: perda de foco, graças às redes sociais, a rapidez desse foco. Quando Jean Piaget estudou o foco infantil há cinquenta anos, ele falava de uma atenção infantil que hoje está reduzida a menos de 10% disso. Então, muita dificuldade com foco, muita dificuldade com a interação real, muita dificuldade com regras e procedimentos que são típicos de uma vida social. A escola está sofrendo, os professores como eu, nós estamos em busca de uma solução, nunca houve a experiência da nossa geração, da anterior dos meus avôs, uma retomada da educação após uma pandemia. Lembrando que a nossa última pandemia foi em 1918 a 20. Ou seja, ninguém era vivo. Na escola, e no caso de São Paulo onde estudei, foram interrompidas as aulas por três meses. Nós tivemos aqui lugares que foram interrompidos por mais de dois anos. Isso para uma criança de dez anos é um quinto da vida dela. É muito tempo e num período de formação, logo nós temos uma dificuldade muito grande para retomar, para mudar a mentalidade psíquica e para dizer para que serve em 2023 dar aula,qual o objetivo da escola, por que eu devo aprender questões de tecnologia ou inteligência artificial, esse é um desafio para os professores. Porém se você tem uma dúvida sobre uma nova doença, você vai consultar médicos. Se você tem uma dúvida sobre uma nova escola, temos que consultar a comunidade escolar. Professores, pedagogos, diretores e pais, estão diretamente interessados e experientes na educação de criança e de jovens”.


A comunicação tem se modificado constantemente e o jornalismo vem sofrendo ataques, como o senhor analisa a comunicação hoje?
“Nós tivemos um rompimento de barreiras tradicionais, se eu quisesse saber o que ocorria há 50 anos eu teria que esperar que tanto a televisão, com os jornais da imprensa escrita e falada pública. Graças à interne,nós tornamos praticamente todas as pessoas em produtoras de notícias. O grande problema é que as pessoas não têm nem a formação profissional e nem o equilíbrio para filtrar fontes, para colocar fontes contraditórias e chegar dados. E como hoje há tantos escritórios profissionais em produzir fake news, existe também gente que simplesmente reproduz histerias, nós temos hoje uma dificuldade muito grande em determinar o real e a verdade. Eu gosto dessa explosão de conhecimento, acho muito democrático que muita gente tenha acesso, mas gostaria de recomendar que as pessoas fossem céticas com o que vissem na internet. Não que dissessem que está errado, mas questionar ‘será que isso não corresponde ao pensamento de um grupo de uma forma de poder?’, e pudessem checar essas fontes. A todo o instante eu ouço as pessoas impressionadas com uma fake news que não se dão ao trabalho de verificar. Essa dificuldade em separar o real daquilo que é simplesmente divulgado nas redes é o grande desafio hoje. É importante que a gente se torne aquilo que René Descartes falava, de um ceticismo produtivo, ou seja, eu vou duvidar da fonte para chegar naquilo que for mais verdadeiro”.


Parceria de sucesso
Para comemora o 50ª aniversário, a Folha de Irati, em parceria com o Espaço Santo Fole, trouxe pela primeira vez na região a palestra com o historiador Leandro Karnal. O grande sucesso do evento só foi possível graças a todas às pessoas que participaram e, claro, aos patrocinadores e apoiadores que acreditaram no potencial de tal comemoração. Os grandes parceiros da Folha de Irati, como patrocinadores, foram: Grupo Ivasko, Yazaki, Sicoob Sul, Produtos Paraná, Grupo Cavassin, Calçados Cartom e Lojas MM. Com o apoio da Prefeitura de Irati, Moageira Irati, Aciai e Drabecki.
E com certeza, a realização deste evento não poderia se concretizar sem a ajuda de seus apoiadores e patrocinadores. Durante o evento, nossos parceiros receberam uma singela homenagem com a medalha comemorativa de 50 anos do jornal Folha de Irati.

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