Paraná registra queda de 16% na produção de soja safra 2023/2024

A nível nacional, a queda da produção da soja chega a 5,2 % em relação a safra anterior

Esther Kremer

Há muitos anos o agronegócio não passava por fatores climáticos que interfeririam nos resultados da safra. Este ano, a oscilação climática e a queda nos preços estão gerando uma crise no setor. Segundo Departamento de Economia Rural (Deral), a quebra de produção no Paraná já chegou em 16% e com o preço da soja cotado entre R$ 130,00 e R$ 132,00 por saca, cria uma situação de risco para o agricultor que impacta não apenas a economia local, mas também o cenário nacional, uma vez que o Paraná é um dos principais produtores de soja do país.
Dos 5,8 milhões de hectares plantados nesta safra no Paraná, a colheita já atingiu 99% da área total. A situação no estado se soma às revisões feitas pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) em relação à produção de soja e milho no Brasil. A expectativa é que a produção brasileira de soja alcance 146,5 milhões de toneladas, representando uma redução de 5,2% a menos em comparação com a safra anterior, que totalizou 154,6 milhões de toneladas. Essa queda na produção nacional reflete os desafios enfrentados pelos produtores em todo o país, incluindo condições climáticas desfavoráveis e outros fatores adversos. Segundo o DERAL, a produção no Paraná deverá cair 16% na safra de soja 23/24.
O especialista em política agrícola, professor de microeconomia e economia rural, Eugênio Stefanelo, explica que a queda aconteceu devido ao fator climático. “A queda aconteceu, principalmente, pelo excesso de chuva em algumas regiões e também pela falta de chuva em outras regiões. Estamos vivendo no fenômeno “La Ninã”, diferente do que na safra passada, que era o “El Ninõ. A possibilidade de queda acontece tanto em uma situação, quanto na outra”.

“A quebra na produção chega facilmente a 20% e pode até ultrapassar”
Oziel Neiverth


Já em relação a queda na cotação por saca, o professor explica que se deve ao fator da baixa exportação do grão, onde no ano de 2023, o Brasil exportou cerca de 101 milhões de toneladas e este ano, deve exportar cerca de 90 a 95 milhões de toneladas, também a cotação internacional, a baixa taxa de câmbio e prêmio negativo.
CENÁRIO INTERNACIONAL
Segundo Stefanelo, a cotação depende muito da oferta e demanda mundial da soja, cujo mercado de maior referência é a Bolsa de Chicago. “Para a safra 23/24, tivemos um aumento na produção mundial. Segundo o Departamento de Agricultura dos EUA, o mundo vai produzir cerca de 397 milhões de toneladas e o estoque mundial é de 114 milhões. Ou seja, aumentou tudo, produção, consumo e estoque e essa é a principal variável que determinou a redução da cotação internacional e que vem acontecendo desde o ano de 2022”, comenta.


Os maiores produtores de soja no mundo são, em primeiro lugar, Brasil, seguindo por Estados Unidos e terceiro, Argentina. No Brasil e nos Estados Unidos, a safra colhida em 23/24 será menor do que a que foi colhida no período anterior, no entanto, a Argentina duplicou a produção, de 25 a quase 50 milhões de toneladas. “Foi isso que fez com que a produção mundial aumentasse. Por essa razão também, é explicado do porque a soja estar com valor mais baixa aqui no Brasil”, diz o professor.
Ainda, segundo ele, é estimado que até 2025, o preço por bushel chegue a US$ 12 dólares. Anos anteriores registraram US$ 14 ou US$ 15 dólares por bushel, fator este que fez com que anos anterior a saca chegasse a mais de R$ 200,00 no Porto de Paranaguá.

“5,2%”

Queda de produção de Soja estimada para o Brasil.


O produtor Velci Preussler, da região da Apiaba (Imbituva), comentou sobre a queda na produção e em como isto afetou a vida do produtor. “Afeta diretamente a produtividade. Começamos um plantio bastante prejudicado pelo clima, umas horas muita chuva, outras falta dela. Nós também tivemos um problema com o trigo, seguido pelo problema com a soja, que afetou bastante a produtividade. Essa queda me impacta muito na diminuição de lucro, estou tocando o agro porque tenho amor pela profissão, esse negócio está no nosso sangue”, comenta.
Ainda, segundo ele, a saca da soja deveria estar cerca de R$ 40,00 acima do valor atual para gerar lucro. “Tinha que estar cerca de uns R$ 170,00 para que a gente pudesse lucrar cerca de 40% do que foi investido. Está difícil e o Governo vai precisar ajudar o produtor, diminuindo taxas, fazendo políticas para ajudar a quitar as dívidas, pois se não, vai haver muita quebra entre os produtores. Falta incentivo por parte dos políticos. Também, a crise econômica influencia na compra de insumos”.
Velci ainda aposta nas altas tecnologias para conseguir driblar a baixa produtividade, com genética moderna e correção de solo. Ele ainda diz que conseguiu boas produções em relação ao cenário atual. Mas tem contatos com vizinhos que tiveram produção que partiram de 70, 80 e 90 sacas por alqueire. “O que é muito ruim e coloca o agricultor em zona de risco”, diz Preussler. O agricultor ainda relata que se aplicar o valor da terra em um rendimento financeiro, o lucro seria muito maior do que o retirado na produção agrícola.
O produtor Oziel Neiverth, de Fernandes Pinheiro, diz que a quebra na produção chega facilmente a 20% e pode até ultrapassar. Queda de produção e preço baixo pode comprometer as safras futuras que, segundo o agricultor, fará inclusive cair o valor dos arrendamentos de terra, fator que eleva o custo da produção para agricultores que expandem suas divisas. Também, o valor comercial da terra em alqueires deverá ter redução, uma vez que muitos agricultores acabam se desmotivando do setor. A situação ainda pode colocar vários agricultores em alerta devido aos compromissos financeiros já adquiridos.

“O melhor é continuar a fazer uma venda escalonada”
Eugênio Stefanelo


O QUE FAZER AGORA?
Stefanelo comenta que, na situação atual, para o produtor, é melhor que as condições de ganho em relação a soja, se mantenham na média, não muito acima e nem muito abaixo. “É importante que aconteça uma margem estabilizada de lucro para que o produtor possa continuar produzindo e mantendo os investimentos, adotando as tecnologias adequadas para a alta produtividade e poder proporcionar o bem estar da família”, explica.
Aos agricultores, Eugênio faz um alerta: “os produtores de Irati e região precisam analisar as condições normais de clima e verificar a safra americana 24/25, que já esta sendo plantada. Isso relacionado também as condições normais de clima no Brasil e na Argentina, no segundo semestre, podem influenciar diretamente nos preços da soja em 2025. O mercado cheio e com climas favoráveis, os preços podem ficar menores do que os atuais”,
O professor orienta os produtores para que realizem o plantio de forma escalonada. “A melhor atitude para o produtor paranaense é essa, fazer o plantio da safra de soja a partir de setembro, aproveitando toda a janela de plantação e não o concentrar em apenas uma época, para não ter o florescimento e amadurecimento da cultura da soja em um mesmo período. Pois, caso ocorra uma falta de água, por exemplo, não afetaria toda a plantação”, diz.
QUANDO VENDER?
Eugênio diz que “quando estive em Irati, em uma palestra na Folha de Irati, eu disse ao produtor que havia uma previsão de baixa de preço e para que escalonassem as vendas. Agora, não conseguimos prever o melhor momento de venda, em função disso, o que podemos dizer claramente é: não deixem para vender tudo de uma vez e lá na frente. O melhor é continuar a fazer uma venda escalonada, por exemplo, o preço subiu em relação à um tempo anterior, então venda um pouco. Fazer uma média de preço razoável é melhor alternativa. Mas a mensagem é, não esperem preços muito mais elevados do que o cenário atual está nos mostrando”, finaliza.

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