Cecília Wolska Hessel: uma grande mulher

Maria Helena Nascimento Hessel (com colaboração de Meceslau e M. Aparecida Havresko)

Teve uma vida pontilhada de desafios, que findaram mostrando o quanto ela era forte e determinada. Mesmo em momentos de dor, manteve-se dinâmica, objetiva e corajosa. Gostava de planejar viagens, conhecer e conversar com pessoas de todas as idades, contar histórias interessantes e se o momento permitisse, até piadas contava. Trajava roupas clássicas na cor preta, que contrastavam com um coque nos cabelos brancos, seu porte esguio a faziam naturalmente elegante. Preservava as suas amizades, fazendo-lhes visitas periódicas. Adorava comidas típicas polonesas, principalmente, o “pierogi” da D. Maria Felícia Havresko, que os saboreava até como sobremesa, adicionando nata e açúcar. Por outro lado, não dispensava a polenta com torresmo, que sua cunhada italiana, D. Rosa Franceschi Wolska fazia para esperá-la. Cuidava com esmero de sua saúde, e sua bebida predileta era o vinho. Provavelmente, viajar foi o maior de seus “hobbies”, o que o fez, até os noventa anos, detalhe, sem acompanhante e se alguém lhe perguntasse por que viajava sozinha, ela respondia: “Eu não estou sozinha, veja quantos passageiros! ”


Foi musa inspiradora para o “médico-músico” Cesar Nascimento, irmão da escritora, que ao vê-la viajar de avião com frequência, aos oitenta e três anos, perguntou-lhe: “Não acha isso arriscado? ” Ao que ela respondeu: “Dr. Cesar, estou correndo para a morte não me pegar! ” Surpreso com a resposta, ele compôs a música “Cecília, mares e marés” Com certeza, ela foi uma mulher à frente do seu tempo, daí o título escolhido: “Cecília Wolska Hessel: uma grande mulher! ”.
Antes de iniciarmos a biografia, propriamente dita, gostaríamos de agradecer pela inclusão do seu nome, nos destaques referentes aos festejos dos 150 anos da colonização polonesa no Paraná. Parabéns aos organizadores, pela demonstração de amor à Polônia, e obrigado pela atenção, que muito nos honrou. Vejamos então, a sua história!

Inauguração do Laboratório de Controle de Qualidade (LCQ) / Foto: Acervo Familiar

Cecília Wolska Hessel, filha de Stephano Wolski e Leocádia Wolska, ambos poloneses, nasceu em Araucária em 08 de abril de 1911, e faleceu na cidade de Curitiba, em 16 de novembro de 2005. Casou-se com o polonês Rudolfem Józefem Papla no ano de 1927 – funcionário consular do governo polonês, que veio para Ibaiti (PR), desenvolver uma colônia polonesa. Os planos, porém, foram interrompidos pela prematura e trágica morte de seu pai e de seu marido. Não teve filhos desse efêmero casamento.Sozinha, Cecília, que havia concluído o curso Ginasial no Gymnasio Paranaense, resolve voltar para Curitiba e iniciar a faculdade de Farmácia, na Universidade Federal do Paraná. Nessa cidade, conheceu Meceslau Tadeu Hessel, com quem veio a se casar em 1939, ano em que também concluiu o Curso de Farmácia. Seu sogro, Mariano Hessel (polonês), foi um dos pesquisadores e autores dolivro “Memórias da Colonização Polonesa”, que alcançou o segundo lugar em uma competição literária na Polônia, tendo,inclusive, recebido uma medalha do Governo Polonês, pelos serviços prestados à emigração polonesa no Brasil.


Várias pessoas falavam polonês na família de Cecília e Meceslau, a começar por eles próprios, seus pais, irmãos, irmãs, filha, sobrinho, sobrinhas e sobrinhas-netas. Embora morando no Brasil, todos fizeram questão de aprender polonês, preservando sua língua de origem que era quase sempre ensinada pela própria família. O casal teve três filhos,Olga, que faleceu ao nascer, Maria Luiza, falecida em 2008 e Meceslau Tadeu, hoje com 75 anos, residente em Cândido Mota – SP, com sua esposa Maria Helena (professora de música).
Cecília morou em Irati e Rebouças, tendo sido eleita nesta última, em 1950 – Presidente do Comitê Feminino do P.S.D. Depois, ela e Meceslau foram para Araruna, mas em 1956, infelizmente, o seu marido faleceu, e ela volta, sozinhapara Irati, onde foi mãe e pai dos dois filhos, criando-os até concluírem o segundo grau, Maria Luiza concluiu o magistério, e Meceslau, contabilidade (1965).


Foi proprietária de duas farmácias: “Santa Cecília” em Araruna e “Brasil” em Irati. Lecionou vários anos na Escola Nossa Senhora das Graças, em Irati, trabalhou como laboratorista na Saúde Pública, e também em outras funções. Foi Presidente do Clube das Soroptimistas de Irati, Associação, cujo ideal era unir as mulheres para servir a comunidade; no juramento, prometiam: “Sinceridade da Amizade, Alegria da Realização, Dignidade de Servir, Integridade Profissional e Amor à Pátria”.A APAE, inclusive, foi fundada na sua gestão.
Nessa época,Cecília resolve voltar a morar em Curitiba, provavelmente para facilitar os estudos do filho, que acabou licenciando-se em Ciências Agrícolas no Rio de Janeiro (UFRRJ). Posteriormente, ele concluiu Pedagogia em Assis (SP), e Direito em Marília. No ano de 1970, Dra. Cecília, (como passou a ser chamada por todos), tornou-se Chefe da Seção de Manipulação do LQF (Laboratório Químico Farmacêutico) da CEME (Central de Medicamentos).Foto da solenidade de inauguração do LQF mostra Dra. Cecília ao lado do presidente da CEME, Almirante Gerson Sá Pinto Coutinho, em publicação da Gazeta do Povo de 30 de setembro de 1977. Em 1980, foi agraciada pelo Conselho Regional de Farmácia do Paraná, pelos relevantes serviços prestados à classe farmacêutica. Recebeu o título de Primeira Mulher Bioquímica do Paraná.

Mesmo residindo em Curitiba, quando tinha oportunidade, a Doutora, ia a Irati rever os parentes, as amigas e amigos. Mãe abnegada, excelente sogra, de quem me fiz afilhada de Crisma, dona de uma personalidade marcante, acabou deixando muitas saudades, quando se foi em 2005.
Tinha por hábito, anotar pensamentos, e um deles dizia: “Nada é mais vivo do que uma lembrança”. À medida que o tempo passa, mais profundamente apreendemos o sentido desta frase, pois 16 anos se passaram desde que ela nos deixou, e a sua lembrança, ainda é muito viva para nós, na verdade, uma lembrança eterna!

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