Páscoa Ucraniana: conheça algumas das tradições mais presentes na região

Amanda Borges

A imigração ucraniana na região deixou marcas em diversas celebrações religiosas e culturais. Na Páscoa, em especial, esses traços ficam ainda mais evidentes, tendo em vista as diversas tradições que seguem sendo praticadas pelos descendentes da etnia.Entre eles, as populares e caprichosas decorações, as danças, o jejum, missas e a indispensável bênção dos alimentos são algumas das heranças culturais daqueles que seguem o rito da Ucrânia nas festividades pascais.
Como explicam os Padre Hilario Opaski, conhecido como Padre Boné, e o Padre Dionísio Mazur, da Paróquia Imaculado Coração de Maria, em Irati, as missas da Semana Santa ucraniana não se diferem tanto dos ritos latino-brasileiros. Elas ocorrem na quinta, sexta e sábado normalmente e são praticadas da mesma forma, mantendo as diferenças de todas as outras missas, como o fato de o sacerdote Ucraniano rezar olhando para o altar e não para o povo.
Apesar da semelhança nesse aspecto, algumas particularidades ucranianas encantam os olhares de cristãos do mundo todo, entre elas o capricho no preparo dos alimentos para a bênção e a guarda do Santo Sudário, realizado pelas Irmandades Cossacas.

BÊNÇÃO DOS ALIMENTOS
Realizada no Sábado de Aleluia, apesar de muitos cristãos de tradição latina também realizarem a bênção, ela é indispensável para os fiéis ucranianos e demanda um preparo de dias. Os descendentes enchem uma cesta com os preparos que serão partilhados no almoço de domingo e a levam para que seja abençoada pelo sacerdote. Cada alimento tem uma razão simbólica para ser servido, como explica Marisa Roik, descendente de Ucranianos e praticante assídua das tradições. De acordo com ela, todas as comidas “são arrumadas com muito carinho e dedicação”.
• Paska: é um pão redondo e enfeitado com desenhos. Ele representa a passagem bíblica “Eu sou o pão vivo descido do céu” (Jo 6,51);
• Manteiga: moldada em forma de cordeiro, representa o Cordeiro Pascal, descrito no Novo Testamento. “O Cordeiro de Deus que tira o pecado do mundo” (Jo 1,29);
• Pêssanka: os populares ovos decorados também colorem as cestas de Páscoa. De acordo com a tradição, o ovo simboliza a Ressurreição de Cristo. Assim como do ovo nasce uma vida nova, também Jesus saiu do sepulcro para uma vida nova, como explicamos padres. Além disso, Marisa conta que as pêssankas também cumprem o papel de homenagear os falecidos da família;
• Carnes: representam o cordeiro imolado pelo Povo Escolhido na Páscoa (Ex 12, 1-14);
• Krin: a raiz simboliza o amargor do pecado na vida das pessoas, do qual os cristãos libertados pela morte de Jesus na cruz. O tempero é utilizado em vários preparos, como nas carnes.
Além desses, outros alimentos são colocados na cesta, como os ovos de chocolate, que seguem o mesmo princípio simbólico das Pêssankas. Também são levadas velas pera bênção, que simbolizam que “Cristo é luz do mundo” (Jo 8,12).
Ainda, a cesta é coberta com uma toalha branca decorada. Como explica Marisa, ela serve para lembrar o lençol de linho que envolveu Jesus para ser sepultado.

COSSACOS
Outra tradição emblemática das comemorações de Páscoa ucraniana é a participação dos Cossacos nas celebrações. Na região, essa tradição marca forte presença em Prudentópolis, a cidade mais Ucraniana do Brasil.
Como conta Rodrigo Michalowski, integrante do grupo Irmandade dos Cossacos de Prudentópolis, eles se inspiram no Cossaco, herói legendário que defendia a Ucrânia nos séculos VI ao século VIII. O lema principal da organização sempre foi a liberdade e assim segue sendo. Eles são todos homens, caracterizados pelas vestimentas, com calças largas e chapéus pretos.
No Brasil, a Irmandade dos Cossacos existe desde 1950 e iniciou para realizar uma guarda física ao Santo Sudário, que é exposto na Sexta-feira Santa até o Sábado de Aleluia para a adoração dos fiéis. Em Prudentópolis, “a irmandade nasceu como uma iniciativa do Vesselka e dos jovens marianos da comunidade. Desde 2010 a nossa irmandade existe como um grupo oficial, formalizado com um estatuto próprio”, conta.
Atualmente, o grupo conta com mais de 200 integrantes, que juram estar presentes todos os anos em Prudentópolis para vigília na Semana Santa. “A gente mantém essa tradição oferecendo a guarda ao Santo Sudário e lutando pela preservação da nossa cultura aqui na cidade e a propagação dela”, afirma Rodrigo.

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