“Profeta João Maria”: filme retrata história de milagres, tradição e crenças

Esther Kremer

A arte, o cinema, as histórias tradicionalistas e a cultura popular interiorana segue sendo tema para filmes de sucesso em Rio Azul. Os filmes “No meu tempo era assim 1, 2 e 3”, produzidos pela própria comunidade e sem fins lucrativos, contam histórias do passado e tem como objetivo relembrar e manter vivo os costumes da região.

Com este objetivo, Romualdo Surmacz, um dos produtores da triologia, resolveu avançar ainda mais e relatou em entrevista para a Folha de Irati que, juntamente com amigos e parceiros dos filmes anteriores, estão produzindo um longa-metragem sobre a vida do Profeta João Maria.

Segundo Surmacz, há entre as pessoas mais velhas uma grande preocupação em manter viva as memórias, os costumes e as tradições dos antepassados. “Eu sempre me preocupei com isso, em trazer o passado para o presente. Fizemos estes filmes pensando nisso e retratamos tudo, a vida dessas pessoas desde o amanhecer até o anoitecer, as suas vestimentas, os costumes, as casas, que hoje em dia estão sendo demolidas, moinhos, os calhambeques, a Maria Fumaça, a antiga história sobre a panela de dinheiro e como as famílias cresciam, as crianças com a catequese, escola, enfim, tudo mesmo”.

Romualdo comenta que após a realização das três edições dos filmes, não viram motivos para não produzir uma quarta edição. “Sempre ouvimos falar sobre esse tal João Maria e eu convidei alguns colegas para fazer mais uma gravação, mostrando a história deste homem, baseado nos relatos da população e também em fontes que encontramos nos livros. Neste filme vamos mostrando um pouco mais de Rio Azul, os seus pontos turísticos, as casas antigas e a história do Profeta João Maria”, disse.

BREVE RELATO HISTÓRICO

Há diversos relatos de que o Monge João Maria, popularmente conhecido como monge dos excluídos, passou pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul, mas o que muitas pessoas não sabem é que existiram três monges.

Decidi gravar o filme porque em uma das profecias João Maria falou que uma doença muito grande mataria muitas pessoas e com a pandemia da Covid-19 , a minha família foi a primeira vítima de Rio Azul

Romualdo Surmacz

O primeiro deles, supõe-se que viveu no final do século XIX, o Monge João Maria De Agostini, um italiano, que foi para o Rio Grande do Sul, onde viveu por alguns anos até ser decretada a sua prisão pelo Barão de Caçapava, com medo dos levantes populares incitados pelo homem santo. Proibido de voltar, ele seguiu para Santa Catarina e após algum tempo retornou para o Rio Grande, onde novamente foi expulso com certa violência. Depois de muitas andanças, o monge saiu do Brasil e passou por diversos países incitando a cura por ervas medicinais, profecias e palavras que faziam com que a população se unisse em prol de direitos. Sabe-se que por onde andou, carregou consigo multidões e, por isso, foi assassinado.

O segundo, conhecido como Monge João Maria de Jesus, mais conhecido no Paraná e principal personagem do filme citado acima, era um argentino que passou por diversas comunidades de Rio Azul. Segundo relatos, ele fez diversas profecias e em uma delas, previu que uma doença muito grande assolaria o mundo, assim como uma onda de gafanhotos iria destruir as lavouras e deixar o povo faminto. Outra fala do monge foi “a mentira será verdade e a verdade passará a ser mentira”, uma frase que faz sentido nos dias atuais. Também, previu que uma enorme cobra preta iria surgir e que mataria muitas pessoas, hoje entende-se que ele falava sobre os asfaltos, segundo os moradores e crentes no monge. Há controvérsias entre os historiadores sobre o seu desaparecimento.

O terceiro, conhecido como José Maria de Santo Agostinho, surgiu no estado de Santa Catarina e acreditava-se que ele era um ex-militar, dizia ser irmão do primeiro João Maria, o italiano.

Na foto, atores que vão contracenar no filme sobre o monge – Foto: Romualdo Surmacz

Utilizava dos mesmos métodos que os anteriores, mas, ao contrário dos outros, ele não vivia isolado, organizava agrupamentos de homens que o seguiam. A região onde viveu era conhecida por disputas territoriais e sob acusação de que o monge queria a volta da monarquia, foi ordenado que as forças militares intervissem. Coordenados pelo coronel João Gualberto Gomes de Sá, os militares entraram em confronto com os homens de João Maria, chamados de “Quadro Santo”. O coronel e o monge morreram na batalha, desta forma encerrou-se o fim dos ciclos dos monges e, assim, eclodiu a famosa Guerra do Contestado.

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