Reuniões do AA de Irati acontecem duas vezes por semana

Esther Kremer

O Alcoólicos Anônimos (AA) é uma instituição que existe em Irati desde 1983 com o objetivo de recuperar pessoas que sofrem com a doença do alcoolismo. Existem dois grupos na cidade, um que se reúne na Paróquia São Miguel nas quartas-feiras, às 20h e nos sábados as 16h. O outro pode ser encontrado na Paróquia Nossa Senhora da Luz, com encontros nas quintas-feiras, às 20h.

Normalmente, a instituição é organizada por voluntários que são, em sua maioria, alcoólicos recuperados que encontraram a sobriedade através do programa dos doze passos e que fazem o trabalho na irmandade como forma de gratidão.

PROGRAMA DOS DOZE PASSOS

Segundo o membro do AA, João (nome fictício), são 36 princípios que norteiam a irmandade, mas para a recuperação do indivíduo, quando ele entra no AA, são sugeridos 12 passos. João diz que o importante seria conhecer pelo menos os três primeiros passos. “Os três primeiros, na minha concepçãosão os mais importantes”.

O primeiro passo é admissão da doença, o segundo passo sugere a crença em Poder Superior que vai tirar o indivíduo da vida alcoólica e o terceiro passo é a rendição. Segundo João, os demais passos sugerem mudanças na vida da pessoa até chegar no passo de número 12, que diz: “como gratidão pela recuperação, eu tenho que levar estas mensagens para aquele alcoólico que ainda sofre”.

AL-ANOM

É uma associação para familiares de alcoólatras que trocam ideias entre si, sobre as vivencias e os sofrimentos que passam. E com os depoimentos, aprendem a conviver com os alcoólatras.

A participante do Al-Anom, Maria (nome fectício) diz que entrou no AA porque tem dois filhos alcoólatras. “Os encontros são nas quartas-feiras, das 20h até 21h30, na Paróquia São Miguel, na parte de cima. Estamos em poucos membros, mas temos certeza que logo estaremos em mais pessoas e convidamos a todos para vir nos encontros, tanto do Al-Anom, quanto do AA.  

Depoimentos de alguns participantes do AA

João (nome fictício), faz parte da instituição a 25 anos e concedeu seu relato para a Folha de Irati.

“Também sou portador da doença do alcoolismo e encontrei a minha vida novamente, reconstruí meu caráter, a minha família e recuperei a minha pessoa a partir dos Alcoólicos Anônimos.

Eu venho de uma família onde já havia este problema e eu comecei a fazer o uso do álcool muito cedo, na faixa etária dos 15 anos, e ninguém começa a fazer o uso do álcool para se tornar alcoólatra, mas, infelizmente, com o passar do tempo a minha maneira de beber foi se tornando cada vez mais agressiva e eu cheguei ao ponto de dependência.

Assim como todo alcoólatra, eu perdi muito coisa, meu emprego, dinheiro, amizades e por último estava perdendo a família, meu casamento estava se tornando insuportável por conta do meu alcoolismo. Encontrei o AA graças a um trabalho voluntário de pessoas já recuperadas em uma clínica onde eu estava fazendo tratamento de desintoxicação.

Procurei em Irati e, para a minha felicidade, encontrei a sala do AA aberta, encontrei pessoas que me acolheram e me mostraram que eu não era único e que meu problema tinha solução desde que eu quisesse continuar junto com eles e seguir os conselhos.

Eu posso dizer que fui abençoado, a minha vida se transformou, aprendi a um dia de cada vez evitar o primeiro gole, aprendi a viver sem fazer o uso do álcool. Nós não costumamos contar tempo no programa, porque independente do tempo que você passe sem beber, uma vez alcoólatra, alcoólatra para a vida inteira. Mas que eu faço parte da irmandade já tem 25 anos”, finaliza.

José (nome fictício), também é portador de alcoolismo e faz parte da irmandade a 25 anos. Deixou seu relato para servir de inspiração e encorajar pessoas que estão sofrendo a parar de beber.

“Eu cheguei no AA em março de 1997, após 30 dias que tinha saído de um internamento na Santa Casa de Irati. Quando sai deste internamento, fui beber de novo, uma bebida mais fraca, pensei. Então, tive uma recaída.

Eu não via o problema, não via que era alcoólatra e a partir do momento em que tomei o primeiro gole, voltou tudo. Quando sai do internamento eu comecei a tomar cerca de cinco ou seis litros de bebida destilada por dia, sem contar as outras. Me tornei um alcoólatra 24 horas, sem poder ficar 15 minutos sem beber.

Eu já tinha recebido convite para ir no AA, através de um companheiro de trabalho, mas como esta é a doença da negação, eu jamais aceitei. A partir do momento que a dose aumentou, eu bebia até pela manhã e a situação complicou, fui perdendo tudo o que eu tinha e só não perdi minha esposa por causa da irmandade.

A primeira reunião que eu fui, cheguei bêbado e quando acabou eu fui beber no bar, mas aí começou a me afetar fisicamente, eu procurei um internamento, sai de lá e voltei a beber, até o dia que quase fui a óbito em casa.

Consegui me manter bem graças ao Poder Superior, que chamo de Deus, consegui ficar sem beber por dois dias e falei para a minha esposa que não tinha mais jeito, nada serviu para mim e aí ela falou para eu voltar no AA. Voltei sóbrio e com a mente aberta. Estou a 25 anos na irmandade e tento levar um pouco da minha experiência para os outros que estão sofrendo”, disse.

Joaquim (nome fictício), voltou a fazer o tratamento no AA a poucos meses e diz que está conseguindo se manter longe do álcool e das drogas.

“Comecei a beber muito cedo, com 18 anos, e eu não sabia que era uma doença. Passei por três internamentos e procurei o AA. Fiquei sóbrio por três anos, mas parei de frequentar as reuniões e recai. Nesta recaída eu fiquei mais um ano bebendo, perdi amigos, dinheiro, me envolvi em drogas, quanto mais usava mais queria e eu não sabia que era doença.

Tive crises de abstinência e procurei um médico. Ele falou que eu estava com esquizofrenia, me receitou remédios e hoje eu estou em tratamento. Mas tudo isso começou por causa da bebida.

Agora, já fazem três meses que estou livre, estou trabalhando certinho e quero alertar todo mundo que é uma doença, eu achava que não, mas quando vi que era, comecei a me tratar e percebi que não era tão simples”, comenta.

Manoel (nome fictício), explicou sobre o funcionamento do AA em Irati e deixou o seu relato para que as pessoas consigam encontrar forças, assim como ele, para sair do alcoolismo.

“O AA é para homens e mulheres que se reúnem em um objetivo comum, que é ajudar aquela alcoólatra que ainda sofre.

Infelizmente, eu não sabia que existia esta instituição, existiam pessoas que conheciam e faziam parte deste grupo, mas por algum motivo eu nunca fiquei sabendo. Comecei a beber muito cedo, com sete anos de idade, logo passei a utilizar drogas mais pesadas, cheguei a injetar na veia, cheirar, etc.

O álcool domina a pessoa de um jeito em que ela esquece da própria família, em vez de ir para a casa, vai para o bar. Muitas vezes deixa de levar um alimento melhor par casa, um doce para as crianças e gasta no bar.

Eu cheguei ao extremo, ao fundo do poço, eu cheguei a morar na rua, eu era mendigo, vivia nas praças, dormindo, bêbado. Dormia em construção civil, vagões de trens, no meio dos matos, independente se era inverno ou se chovia.

Assim foi minha vida, o alcoolismo me dominou de um jeito que perdi absolutamente tudo. Mas um certo dia, na praça, vi um cachorro pegando uma marmita no lixo e eu fui correr atrás do cachorro e não consegui pois estava bêbado, caí, me machuquei e voltei para o banco na praça e continuei bebendo.

Naquele momento eu não acreditava em Deus e pensava ‘se eu sou filho de Deus e ele existe, porque eu estava vivendo aquela vida?’. Mas em um momento eu parei e pensei ‘Senhor, se você existe mesmo, faça algo na minha vida. Eu não nasci para ser assim’. Com esses pensamentos, crendo em um Poder Superior, eu fui saindo daquela situação, mas não cheguei a parar totalmente.

Teve um dia em que eu cheguei em casa, estava bêbado, e minha filha falou ‘pai, se o senhor continuar assim, eu não vou te chamar mais de pai’, aquilo para mim foi um verdadeiro tapa na cara. Então minha filha me levou para um sofá, estava passando uma novela na época, chamada Vitória, e começou a passar cenas sobre os Alcoólicos Anônimos e resolvi procurar a instituição em Irati.

A partir do momento, em que cheguei na sala de reuniões, eu nunca mais usei drogas, nunca mais bebi nada e o AA me devolveu tudo o que eu havia perdido. Eu não tinha nada e hoje eu tenho uma casa, tenho um alimento bom, tenho minha filha, um emprego, amigos e tenho até um carro. Por isso eu insisto em divulgar a irmandade.

A porta não fecha, venham procurar o AA. As pessoas perguntam ‘qual é o remédio?’ e o remédio são os depoimentos, é na história de um alcoólatra que eu encontro meu remédio. Só quem sofreu e passou por aquela dificuldade vai me entender e me acolher.

O alcoolismo é uma doença, é progressiva e é fatal. Começa aos poucos e quando você vê já perdeu o controle da vida. Temos o lema de viver por 24 horas sem o álcool e pensar ‘só por hoje eu não bebi’ ‘só por hoje eu não vou beber’. Fica o convite para que as pessoas venham conhecer o nosso trabalho”, finaliza.

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